SYLVIA COLOMBO
BUENOS AIRES, ARGENTINA (FOLHAPRESS) – O México vai sediar, entre sexta-feira (25) e sábado (26), as reuniões iniciais da retomada do diálogo entre a ditadura de Nicolás Maduro e a oposição da Venezuela. O anúncio das datas foi feito pelo presidente da Colômbia, Gustavo Petro, que há duas semanas já antecipara a confirmação da volta das conversas.

As tentativas de negociação entre as partes foram suspensas pelo regime em outubro do ano passado, em represália pela extradição, de Cabo Verde os Estados Unidos, do empresário colombiano Alex Saab –ex-funcionário da ditadura, considerado um testa de ferro de Maduro.

O retorno do diálogo foi um dos principais assuntos de uma reunião em Paris da qual participaram Petro, os presidentes da França, Emmanuel Macron, e da Argentina, Alberto Fernández, e uma representante do governo da Noruega. No encontro estavam o líder da Assembleia Nacional chavista, Jorge Rodríguez, e Gerardo Blyde, que liderava as negociações pela oposição antes da interrupção do esforço.

O evento também decidiu que Dag Nylander, diretor do Centro Norueguês para a Resolução de Conflitos, será um dos encarregados de acompanhar as negociações.

Petro afirmou, na ocasião, que a retomada das conversas deveria priorizar a concessão de garantias como a liberdade para todos os presos políticos da Venezuela. “O acordo do México deve garantir que todos os que queiram participar das eleições de 2024 o façam”, afirmou.

O calendário eleitoral oficial de Caracas prevê uma disputa presidencial para 2024, mas Maduro ainda não definiu uma data para o pleito. Diante da reorganização da oposição, que decidiu realizar primárias para ter um nome único na disputa, o chavismo ameaçou até antecipar o processo. “Não temos medo de eleições, não estamos fugindo. Podemos até fazê-las antes de 2023”, disse em discurso recente Diosdado Cabello, homem-forte do regime.

Quando as conversas foram interrompidas, no ano passado, além da eleição presidencial havia outras seis prioridades na agenda –do combate à pandemia de Covid-19 a uma revisão do papel das forças de repressão do regime. Ainda não foi divulgado se essa lista será mantida.

Nos primeiros encontros, neste fim de semana, as conversas devem mirar justamente as regras da nova fase e um cronograma para estabelecer os objetivos –a previsão é que as rodadas incluam uma reunião mensal de dois dias.

Diálogos entre a ditadura e a oposição venezuelana não são uma novidade. Já houve tentativas fracassadas na República Dominicana e em Barbados, por exemplo, em 2018 e 2019.

O retorno da mesa de diálogo se dá num momento em que há a expectativa de suavização de sanções econômicas contra o regime de Maduro por parte de Estados Unidos e Europa; Macron, por exemplo, recentemente propôs retomar o trabalho bilateral. Isso porque mudanças geopolíticas catalisadas pela Guerra da Ucrânia forçaram essas grandes potências a buscar alternativas em termos de petróleo e energia –e Caracas é um dos maiores produtores de petróleo do mundo.

Em meio a eleições de nomes de esquerda na vizinhança, como o próprio Petro na Colômbia e Luiz Inácio Lula da Silva (PT) no Brasil, o ditador vem experimentando uma fase de certa recuperação de sua imagem, ante o desgaste da oposição –fraturada sob a liderança de Juan Guaidó.

Além de sinalizações em relação às sanções, o governo de Joe Biden em Washington tem realizado gestos de aproximação a exemplo da autorização de troca de presos de ambos os lados. Em outubro a Venezuela aceitou liberar sete americanos em troca de dois sobrinhos da primeira-dama, Cilia Flores, condenados por narcotráfico.

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