Daniel Dias é um dos maiores vencedores da história do esporte e um dos mais importantes paratletas do mundo. No currículo participações em quatro Paralimpíadas, acumulando 27 medalhas na competição. O nadador tem 33 medalhas em Parapans e 40 em mundiais. Daniel anunciou que as Paralimpíadas de Tóquio seria sua última competição, ou seja, se aposentou ao final dos jogos. Em entrevista especial concedida ao Sistema Sagres, Daniel comentou a nova fase.

“Eu confesso que ainda não me acostumei com isso. Por muitas vezes me pego falando que vou treinar, então eu preciso me acostumar com a aposentadoria, mas eu estou muito feliz, estou em paz, estou aproveitando o momento com a minha família, com os meus filhos. A gente está se divertindo bastante e sem dúvidas vou me acostumando com essa nova fase de aposentado”.

Em relação a essa tomada de decisão, Daniel disse que a família foi um fator importante, mas complementou que teve todo um contexto e que a vida é feita de ciclos. “Entendo que quanto atleta fiz bastante pelo esporte brasileiro, vou continuar fazendo com braçadas fora da piscina, agora é aproveitar uma outra fase da vida, um novo ciclo para continuar ajudando.”

Além disso, o agora ex-atleta afirmou que ainda dava para competir em Paris 2024, mas entendeu, durante muita reflexão, que o seu ciclo como nadador paralímpico terminaria em Tóquio e segundo ele, suas conquistas foram muitas mais do que ele imaginou em toda a vida.

Daniel Dias, multicampeão brasileiro paralímpico de natação (Foto: Divulgação/CPB)

Nesta edição de Jogos Paralímpicos 2020, a natação foi uma das modalidades que mais trouxe medalhas para a delegação brasileira, um total de 23, sendo oito de ouro, cinco de prata e dez de bronze. Só Carol Santiago conquistou cinco delas. Perguntado sobre quem seria o próximo Daniel Dias, ele não citou apenas um nome e falou sobre outras modalidades.

“Eu não queria citar um nome apenas. Eu não queria dar essa responsabilidade para um menino apenas, mas eu queria falar de alguns atletas que em Paris nós vamos ouvir falar nesses nomes. Então é o Gabrielzinho, é o Gabriel Bandeira, temos a Carol, o Talisson que sem dúvida nenhuma vai ser um grande nome da Natação. Também o Petrucio do Atletismo, a Alana do Judô e o próprio Tenório que vai buscar ir para Paris, então temos muitos nomes no movimento paralímpico”.

Ainda em Tóquio, Daniel foi eleito um dos membros do Conselho do Cômite de Atletas Paralímpicos, o multicampeão explicou que ficou muito feliz com esse convite e que quer brigar para que ocorra mudanças na forma de reclassificação da natação, que para ele “é uma bagunça” e, portanto, é dar voz aos paratletas e profissionalizar a cada dia o esporte paralímpico.

Sobre a potência do Brasil em Paralímpiadas, Daniel ressaltou: “nunca quisemos uma comparação com o esporte olímpico, apenas conquistar o nosso espaço. Nós temos grandes atletas paralímpicos brasileiros que são referências na modalidade e sem dúvida nenhuma vão trazer muitas alegrias para o Brasil.

No Brasil há muitas competições escolares e universitárias para a iniciação no esporte como por exemplo as Paralimpíadas Univesitárias e Jogos Universitários Brasileiros, inclusive a próxima edição será no mês de outubro. Daniel Dias ressaltou a importância desses projetos para disseminar o esporte entre os jovens e que muitos frutos serão colhidos em Paris e Los Angeles.

“Eu acredito muito em projeto como esses, não só nas Paralimpíadas Universitárias, mas na Paralimpíada Escolar. Se a gente pensar na escolar, ela é a maior do mundo e acontece no Brasil. Isso é incrível. Através de projetos como esse, nós vamos investir na base e no futuro. Isso é dar oportunidades a ainda mais atletas”.

Por fim, Daniel Dias destacou que o esporte mudou sua vida: “Fez eu entender que uma deficiência não define quem somos. Essa é a mensagem que eu acredito que o esporte transmite, principalmente o esporte paralímpico. Ele mostra para muitas pessoas com deficiência quando a gente não coloca limite de realização e capacitação nós conseguimos chegar muito longe”. E ainda complementou: “Não necessariamente toda pessoa com deficiência tem o sonho de ser atleta, mas a ferramenta esporte vai transformar a vida dela e todos nós vamos poder compreender que todos nós podemos ser campeões na vida. Isso quer dizer que a gente pode realizar os nossos sonhos, realizar os nossos objetivos. Não é uma deficiência que vai delimitar, a deficiência pode ser uma característica minha. Se eu for me apresentar eu falo ‘eu sou o Daniel Dias, tenho má formação congênita’ eu só estou me apresentando para que as pessoas possam me conhecer, mas a deficiência jamais será uma definição. O que define cada um de nós é o que está dentro de nós”.

Mariana Tolentino é estagiária do Sistema Sagres de Comunicação, em parceria com o IPhac e a Unialfa sob supervisão do Coordenador de Esportes Charlie Pereira