Hoje em dia é muito comum escutar alguém falar que pertence a uma geração, definição que ocorre por características comportamentais de pessoas nascidas em um mesmo período de anos. A Geração Z, por exemplo, são os nascidos entre 1997 e 2010 e em seguida veio a Geração Alpha, que são os nascidos a partir de 2010 até o presente. Essas duas gerações trazem desafios para a educação tradicional por causa das mudanças de comportamento e dos avanços tecnológicos. Por isso, uma escola de Brasília se inspirou em Harry Potter e usa gamificação para dinamizar a aprendizagem dos seus alunos.
A inserção de novas metodologias vieram para complementar a educação escolar em uma sala de aula. Isso porque um dos maiores desafios que a tecnologia trouxe foi o de fazer o estudantes se interessarem pelos estudos. Assim, uma das principais respostas dos profissionais da educação tem sido a inserção de metodologias que adaptem o ensino ao universo dos estudantes, como a gamificação.
Foi pensando nisso, o Centro De Ensino Fundamental 102 Norte (CEF 102 Norte), escola de Brasília, se inspirou numa escola estadunidense que utiliza Harry Potter como inspiração em sua metodologia para dinamizar a aprendizagem.
“A nossa escola tem um projeto estruturante que se chama #102inova, que é a inovação em três eixos: na parte pedagógica, no espaço físico da escola e nas relações humanas. Assim, a gente sempre trabalha com os professores a questão de inovação, não só a tecnológica, mas várias inovações. Então, no início do ano, na semana pedagógica, eu conheci uma escola dos Estados Unidos que se chama Ron Clark Academy”, contou Viviane Lima, que é a diretora da escola.
Sistema de casas
A The Ron Clark Academy (RCA) é uma escola secundária localizada em Atlanta, Estados Unidos. Mas apesar de ser particular, a instituição é sem fins lucrativos. O diretor da escola, Ron Clark, criou um sistema de oito casas inspiradas em Harry Potter, romance de fantasia em série de sete livros criado por J. K. Rowling, e adaptada para filmes que fizeram sucesso em todo o mundo.
Na história de Rowling, ocorre a Taça das Casas, que é um prêmio anual em Hogwarts, dado a casa que soma mais pontos durante o ano escolar. A pontuação é então somada com as boas ações, respostas corretas e torneios esportivos. As quatro casas de Harry Potter são então Grifinória, Lufa-Lufa, Corvinal e Sonserina.
Entretanto, no sistema de casas desenvolvido na Ron Clark Academy são oito casas: Amistad, Isibindi, Rêveur, Altruismo, Sollevare, Nukumori, Protos e Onraka. O Sistema de Casas da RCA já é copiado em várias partes do mundo. A ideia surgiu para criar na realidade dos estudantes um ambiente dinâmico de aprendizado. Além de melhorar a convivência e incentivar os estudos e torná-los líderes.
#102 inova
Viviane Lima afirmou que a escola como conhecemos “se tornou algo muito desinteressante” para os estudantes da atual geração. Pois o mundo está “totalmente tecnológico” em que vivemos. Diante dessas mudanças, a diretora do CEF 102 Norte avaliou que as escolas precisam seguir “caminhando junto com a evolução do mundo”.
A resposta da escola para acompanhar os seus estudantes foi o projeto estruturante #102 inova, que pensa a inovação do ensino a partir do ensino pedagógico, do espaço físico e da convivência. Viviane contou que as mudanças no CEF 102 Norte começaram com a reestruturação do espaço físico da escola, para tornar o ambiente mais atrativo aos estudantes e estimular a permanência.
“A nossa escola é toda pintada com formatos geométricos coloridos e isso já é um estímulo diferente. Ela tem três jardins no pátio, com um orquidário. A escola tinha grade na entrada e a gente mudou por portas de vidro, por blindex. E colocamos um dizer bem acolhedor: “Seja feliz no CEF 102 Norte”. Então a gente começou o #102 inova pelo espaço físico porque o que os olhos veem já te dá alegria. E a gente sabe que as cores no espaço físico tem muito a ver também com a aprendizagem. Ela pode estimular ou não”, explicou a diretora.
Metodologias ativas
As metodologias ativas são meios de ensino que despertam o engajamento dos estudantes, pois estimulam a participação e o gosto pelos estudos. Nessa forma de ensino, o foco do professor é tornar o aluno protagonista e, portanto, ativo no seu aprendizado. A escolha por essa forma de ensino exige mudanças desde o espaço físico da sala de aula aos materiais, dinâmicas e ferramentas que serão utilizadas pelo professor com os estudantes.
“O prédio escolar, as salas de aula, a forma que as cadeiras ficam dispostas, isso tudo já remete muito ao passado e isso torna a escola muito desinteressante para o estudante. Então, com esse projeto #102 inova, a gente sempre está tentando trabalhar com os professores as metodologias ativas e a inserção da tecnologia”, destacou Lima.
A diretora explicou que o Centro de Ensino Fundamental 102 Norte já utiliza as metodologias ativas. Assim, Viviane Lima justifica as mudanças nos próprios teóricos da educação que já estudam a aprendizagem fora do modelo tradicional de ensino. Esse modelo, explicou ela, é aquele que ocorre com os alunos dispostos em fileiras, com a explicação do professor e cópia de conteúdo do quadro.
Assim, contou ela, o #102 inova propõem aos professores da escola o uso de materiais dinâmicos como a lousa digital e o home theater com o data show. “A gente pede aos professores que usem sempre o lúdico, façam um kahoot, um quiz, que sempre estejam utilizando jogos, porque a gente sabe que a aprendizagem utilizando o lúdico é muito mais significativa. Então pedimos que utilizem as metodologias ativas, dividindo os alunos em grupos”, pontuou.
Estudante protagonista
Inovar em sala de aula exige criatividade dos professores porque o novo modelo de ensino rompe com a ideia de que o professor é o único protagonista. Logo o aluno não deve mais apenas escutar o conteúdo e fazer anotações em seu caderno. Viviane Lima afirmou que as novas metodologias de ensino propõem que o aluno seja o protagonista e, portanto, ativo no processo de aprendizagem. Desta forma, no CEF 102 Norte, a aprendizagem é trabalhada por meio de projetos, problemas e times.
“A gente tem dentro das metodologias ativas diversas opções, então estamos procurando sempre oferecer formações para os nossos professores nas reuniões pedagógicas, para que eles possam estar aplicando em sala de aula”, destacou Viviane.
A inserção das metodologias ativas no CEF 102 Norte começaram pelo espaço físico, mas já avançam para as formas em que os estudantes acessam os conteúdos.
“Nós temos um kit de 30 tablets e estamos tentando conseguir mais. Estamos indo atrás de emendas parlamentares para fazer espaço maker para robótica. A gente já tem um curso de robótica para meninas, mas tem robótica para todos os estudantes inserida dentro da grade horária numa matéria de projeto”, destacou.
Projeto Taça das Casas
De acordo com Viviane, uma das formas de desenvolver metodologias ativas é escutar os estudantes sobre o universo deles. Então, a busca por novas ideias de ensino e aprendizado surgiu após avaliação institucional, em que os alunos pediram aulas mais criativas, diferentes, legais e com inserção de jogos.
“A gente analisou as respostas com os professores na semana pedagógica e estamos tentando inovar nas metodologias, tanto é que esse ano a nossa escola definiu que as mesas e as cadeiras não vão ser mais uma atrás da outra para sair desse modelo tradicional. Então a gente tem a sala de aula em formato de U, exemplificou Viviane.
Foi também nesse contexto que surgiu no Centro de Ensino Fundamental 102 Norte o Projeto Taça das Casas, o sistema desenvolvido pela Ron Clark Academy. O método conta com ambientes lúdicos e interativos em que alunos e professores são divididos em times. Então, tudo funciona como uma gincana de cooperação na qual cada casa possui sua própria cor, mascote, brasão e herança cultural e características próprias.
Ideia inovadora
O Projeto Taça das Casas foi uma ideia inovadora para estimular o estudante a estar na escola, incentivar os estudos, mas, também, para que instituição de ensino tenha “tenha mais relação com o mundo que ele [o estudante] vive”. “Se o ensino não entrar no mundo que o estudante vive, por exemplo, Harry Potter é algo da realidade deles e que eles amam. Assim a gente não vai conseguir ter o interesse dos estudantes e nem incentivá-los. A escola tem que ter conexão com a vida real, com a vida prática e usar as músicas, jogos, filmes e leituras que eles gostam”, contou.
Então, o CEF 102 Norte se inspirou na Ron Clark Academy e criou dentro do projeto estruturante #102 inova o Projeto Taça das Casas, que a escola chama de corredores mágicos de aprendizagem. O que ocorre na prática é a gamificação da escola inteira. A ideia inovadora foi apresentada por Viviane aos professores na semana pedagógica do início do ano letivo de 2023. Assim, dois professores, o Felipe de História e a Rafaela de Inglês, que gostam muito do Harry Potter, amaram a ideia de fazer o projeto na escola.
“Eles encamparam a ideia e a Rafaela começou a traduzir todo o material que a Ron Clark Academy disponibiliza no site. Tem todo o material, a plataforma, cada casa, qual é o brasão, qual é o país, eles disponibilizam tudo. Adaptamos para a nossa escola, então não é exatamente igual, é baseado no sistema de casas de lá, e escolhemos quatro casas para a nossa escola”, disse.
Gincana
O projeto foi pensado pelos professores como uma surpresa para os alunos. A Ron Clark Academy oferece formação, disponibiliza materiais e uma plataforma para a aplicação do projeto em várias escolas do mundo. No entanto, o CEF 102 Norte não pode pagar pela plataforma, assim, decidiu aplicar o projeto de acordo com suas possibilidades.
Por meio de votação, o corpo docente escolheu quatro casas entre as oito para trabalharem no CEF 102 Norte: Amistad, Isibindi, Nukumori e Sollevare. “A gente fez os banners, a roleta, o placar, as flâmulas e à medida que produzimos fomos colocando no instagram: “vem aí um projeto muito legal”. E eles não sabiam nada o que era”, explicou Viviane.
O Projeto começou foi lançado na escola na quarta-feira, 14 de junho. A escola reuniu todos os alunos no pátio e produziu um vídeo para explicar tudo sobre as casas. Desta forma, no dia do lançamento foi realizada uma gincana, para dividir os alunos e professores nas casas e começar a somatória dos pontos.
“Fizemos um sorteio em que os alunos pegavam os papeizinhos coloridos no chapéu do Harry Potter. Então eles colocaram a mão no chapéu do Harry Potter e sortearam a casa. Daí esse aluno era recebido na casa, recebia uma bandana, um folder da casa com todas as explicações”, contou. O sorteio foi realizado para promover a interação entre os estudantes de todas as turmas, dos dois turnos, professores e servidores.
Pertencimento
A gincana de cooperação é para promover o senso de pertencimento. Desta forma, cada casa possui uma representação, desde o significado do nome, a uma cor, um mascote, um brasão e uma herança cultural ligada a um país. As casas escolhidas pelos professores do CEF 102 Norte são a Amistad, a Isibindi, a Nukumori e a Sollevare.
A Amistad é a casa da amizade porque o nome da casa significa amizade em espanhol. A cor é o vermelho, o pavão imortal é o mascote e sua herança cultural é o México. O brasão da equipe possui símbolos como um castelo, que protege com unidade e sabedoria e suas características são ligadas a proteção dos amigos.
Coragem é o símbolo da Casa Isibindi. A herança cultural dessa equipe é a África do Sul e sua cor é verde, pois lembra a abundância de recursos da África. O mascote do time é o Cisne Mudo e o brasão conta com símbolos como um leão, que representa o orgulho dedicado à família e que é reverenciado em todo o mundo por sua força e coragem.
Representação
Nukumori significa bondade em japonês e é a casa da gentileza. O brasão possui elementos como a flor de cerejeira e o samurai, que representam a gentileza e a força dos seus membros. O mascote da equipe é o dragão e sua herança cultural é o Japão. A cor roxa representa a realeza e remete aos integrantes do time que eles são reis e rainhas.
E a última casa é a Sollevare, que é solidariedade em italiano, e é a casa da elevação. A herança cultural é então a Itália e sua cor é dourada, pois é brilhante e também representa criatividade. O brasão da equipe tem uma rosa, que é bela e delicada, no entanto, forrada de espinhos para se proteger quando necessário. O mascote é a fênix, por ser grande e poderoso e renascer do fogo.
Estímulo
O Projeto Taça das Casas não tem nenhuma influência na aprovação final dos estudantes no fim do ano letivo, mas pelo contrário, a melhora do desempenho dos estudantes nas aulas vai dar pontos para as casas. Mas para além do desempenho, Viviane pontuou que o projeto tem o objetivo de desenvolver a capacidade de convívio, liderança e aprimorar a excelência acadêmica.
Viviane disse que o projeto terá duração anual e que a pontuação será com acontece em Harry Potter. Como não possui plataforma digital de computação para o acompanhamento dos estudantes, a diretora contou que tudo será anotado pelos professores em sala de aula e depois registrado em uma tabela no computador. “Mas o objetivo é criar realmente esse sistema de gamificação para a escola toda”, contou.
O ponto de partida foi a gincana que contou com diversos jogos, como uma disputa de perguntas de conhecimentos gerais e a brincadeira do balão com barbante amarrado ao calcanhar. Agora, então, as atividades em sala de aula vão se contabilizar em pontos para as equipes.
“Se os professores fizerem um Kahoot, um jogo de desafio, um seminário, então os alunos vão ganhando pontos. Os professores vão anotando os melhores e me entregando. O artilheiro do interclasse vai ganhar pontos para a casa. A pessoa que trouxe mais comida para a gincana da festa junina também ganha ponto, então tudo vai ganhando pontos”, disse.
Conhecimentos gerais
Além da pontuação nas atividades em sala de aula, do comportamento e das atividades esportivas, toda sexta-feira alguns integrantes de todas as equipes vão girar a roleta e participar de um jogo de conhecimentos gerais. Logo, toda semana as casas terão a oportunidade de somar pontos.
Viviane Lima ficou animada com o lançamento do Projeto Taça das Casas no CEF 102 Norte e afirmou que a novidade deixou os alunos animados também.
“Eles amaram a ideia. Nós fomos para a quadra, fizemos uma festa, cada casa fez o seu grito, soltamos lança confete, soltamos fumaça colorida da cor de cada casa. Então, assim, a gente fez uma festa incrível e eles enlouqueceram, tanto é que todo dia eles perguntam quando vai ter um evento de novo igual o daquela quarta-feira”, destacou.
*Este conteúdo está alinhado aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), da Agenda 2030 da Organização das Nações Unidas (ONU). Nesta matéria, o destaque é para o ODS 04 – Educação de qualidade.
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