Especialista avalia participação do Brasil na COP 28 até o momento

Carlos Alberto Hailer Bocuhy- Presidente do PROAM - Instituto Brasileiro de Protecao Ambiental -Foto_ Estefânia Uchôa CMADS

Realizada em Dubai, nos Emirados Árabes, a 28ª Conferência do Clima chegou ao sexto dia nesta terça, 5, com uma intensa movimentação dos líderes mundiais – incluindo o chefe do Estado Brasileiro, Lula, e o presidente do Instituto Brasileiro de Proteção Ambiental (Proam), Carlos Bocuhy, avalia a participação do Brasil na COP 28.  

“A apresentação do programa de proteção às florestas tropicais, construído com a participação da área científica do MapBiomas”, é o que o especialista indica como o maior acerto da delegação brasileira até agora.  

A proposta foi apresentada pelo governo brasileiro na última sexta, 1º, e prevê que países com fundos soberanos, como Noruega, Emirados Árabes Unidos, China, Kuwait e Catar, entre outros investidores, coloquem seus recursos em um fundo criado para manter as florestas tropicais em pé e conservadas. O programa defende que seja urgente avançar na ideia de um instrumento global inovador para remunerar a manutenção e restauração das florestas tropicais.    

A ideia é criar o Fundo Floresta Tropical para Sempre (FFTS) com o objetivo de gerar recursos para serem aplicados em projetos para preservação das matas e desenvolvimento econômico dos povos que nela vivem ou dela dependem. A proposta sugere um aporte inicial de U$S 250 bilhões para que o fundo comece a funcionar.  

Adesão à OPEP+ 

O Brasil recebeu elogios em alguns pontos na COP 28, mas ainda precisa avançar sob muitos aspectos. Para Carlos Bocuhy ainda não é possível crer que o Brasil tenha condições de liderar pelo exemplo.  

“No momento atual não (pode liderar pelo exemplo), foi ‘premiado’ com o “Fóssil do Dia”, instituído pelo Climate Action Network, que reúne 1.300 organizações não-governamentais, na categoria “lógica distorcida” por ter aderido à OPEP+”, explicou.  

O ‘antiprêmio’ foi apresentado pela primeira vez nas discussões climáticas em Bonn, na Alemanha, no ano de 1999, lno Fórum Alemão de ONG’s. Desde então, durante as negociações climáticas das Nações Unidas, os membros da Climate Action Network (CAN), votam nos países que consideram responsáveis por atrasar o progresso nas negociações.  

O Brasil recebeu o antiprêmio nesta segunda, 4, como uma crítica à decisão do país em participar da Organização dos Países Produtores de Petróleo Plus (Opep+). Criada em 1960, a Opep atualmente tem 13 membros, entre eles, Arábia Saudita, Venezuela e Angola. Já a Opep + reúne outros dez países aliados dos membros permanentes, entre eles estão Rússia, México, Malásia e Sudão. 

Críticas às nações desenvolvidas  

Questionado sobre o teor do discurso do presidente Lula nas críticas aos países mais ricos, o presidente do Proam, Carlos Bocuhy afirma que “com relação à proporcionalidade das emissões o Brasil pode, seguramente, cobrar os maiores poluidores, Estados Unidos e China” 

No entanto, o ambientalista destaca que o Brasil tem “problemas sérios a resolver e não está confortável no cenário climático para fazer essa cobrança”.  

“(O Brasil) É o 9º país mais rico do planeta, o 8º em produção de petróleo e o 6º em emissões de gases efeito estufa. Diminuiu o desmatamento na Amazônia, mas este cresceu no cerrado, houve um crescimento das emissões de metano com o aumento do rebanho bovino e o Brasil continua insistindo em aumentar sua produção de petróleo, alinhando-se ao cartel da OPEP”, criticou.   

Carlos Bocuhy não acredita num fortalecimento do Brasil na COP 28 e nas discussões em Dubai e atribui isso às questões nacionais envolvendo o petróleo.  

“Está se desgastando por sua ligação com o petróleo. Fará um leilão de centenas de poços para exploração de petróleo no dia 13 de dezembro, um dia após a COP, inclusive em áreas ambientalmente frágeis”, afirmou 

COP 30 

Com a maior delegação da história, o Brasil vê em Dubai a oportunidade de trilhar caminhos que contribuam na realização da COP 30, que acontece no ano de 2025 em Belém. Bocuhy avaliou a realização da Conferência do Clima no Brasil.  

“A COP30 retira a discussão do circuito dos maiores países produtores de petróleo como os EAU, mas precisa definir sua política de transição energética corrigindo sua prioridade de investimentos no setor para se livrar das contradições”, afirmou.  

Nesta terça, 5, o governador do Pará, Helder Barbalho, e o Sultan Al Jaber, presidente da COP 28, assinaram um memorando de entendimento para a cooperação bilateral entre a COP 28 e a COP 30. Uma das ideias do acordo é que a organização da COP 28 compartilhe conhecimento com o governo do Pará no âmbito organizacional e logístico e para capacitação de pessoal. 

*Este conteúdo está alinhado aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), na Agenda 2030 da Organização das Nações Unidas (ONU). ODS 13 – Ação Global Contra a Mudança Climática

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