Guilherme Cintra, diretor de inovação e tecnologia da Fundação Lemann, defende o uso da Inteligência Artificial (IA) na Educação. O especialista argumenta que a educação tem um papel fundamental na vida das pessoas e que a tecnologia tem um papel de equacionar questões complexas do mundo educacional. Animado com a novidade, Cintra destaca que a IA não substitui profissionais, mas apenas realiza algumas tarefas.
“A gente precisa entender que não é sobre empregos inteiros, é sobre tarefas que são feitas por seres humanos. Algumas tarefas serão mais ou menos impactadas e tem profissões que vão ser mais ou menos impactadas”, explicou.
Cintra diz que quem trabalha com educação deveria estar animado com a IA. Diante das discussões, o especialista apontou a necessidade de refletir dos educadores entenderem o que está acontecendo e “dissipar medos e raiva excessivos sobre o tema”.
“A profissão de educador é uma profissão que é particularmente pouco afetada porque tem um componente social muito forte. Tudo que é mais social e mais estratégico tem uma tendência de ser menos afetado do que as que são mais associais e com estratégias mais rotineiras. Então é importante experimentar isso e entender que com isso os educadores serão menos impactados”, aponta.
IA é evolução como foi com a escrita
O diretor de inovação da Fundação Lemann aponta o contato com a tecnologia como um grande desafio para os educadores. Portanto, afirma ele, os profissionais precisam buscar ser capazes de identificar por conta própria algumas oportunidades de uso da Inteligência Artificial no mundo educacional e não depender de terceiros.
“E você não precisa ser especialista em Inteligência Artificial para poder fazer isso, que é o mais importante”, destaca.
Para Cintra, a Inteligência Artificial faz parte da evolução da Educação assim como foi a escrita. O especialista mencionou uma frase de Platão dita há 2500 anos, em que o filósofo afirma que as pessoas iriam deixar de exercitar a memória, pois dependeria do que está escrito.
“Platão acreditava que o fato da gente começar a escrever ia fazer com que a gente não exercitasse a memória e, portanto, aquilo seria detrimental ao aprendizado”, conta.
O especialista detalha o que chama de “medos excessivos” explicando o processo de chegada de outras tecnologias à educação.
“A gente passou pela mesma perspectiva quando veio a calculadora e as pessoas começaram a achar que não iríamos mais saber fazer conta básica. E depois a gente passa pela mesma perspectiva quando vem o rádio, pois na época as pessoas viam que os alunos estavam ficando para trás. Então não é a primeira vez que a gente tem medo das tecnologias e isso está acontecendo de novo.”
Possibilidades
A perspectiva de falar que a tecnologia vai revolucionar completamente a educação não é de hoje, conta Cintra. Mas é fato que ela adiciona novas possibilidades no processo de ensino-aprendizagem. O especialista aponta duas áreas promissoras para incorporar a IA na Educação.
“Uma área muito importante é a de assistente ao professor, então o professor ter como planejar uma aula com apoio, tirar dúvidas e levar um bom gancho para começar uma aula, tudo isso a IA generativa já está permitindo”, destaca.
“E a mesma coisa acontece quando a gente fala em tutoria para aluno, que é um sonho antigo que a gente tem de cada aluno ter um tutor e a IA generativa realmente possibilita essas novidades de acontecerem. Então a tecnologia está caminhando para um lugar em que é possível você personalizar uma tutoria”, continuou.
Exemplo da medicina
Outros exemplos destacados por Cintra são alunos especiais e o atendimento às suas necessidades. Para ele, a IA pode ser um importante suporte na Educação desses estudantes. “Será que a gente consegue ter um assistente para esses casos, mas que sem dúvida tem um especialista que dê suporte e escalar mais isso. Porque a escalabilidade desse tipo de atendimento é muito difícil”, avalia.
Guilherme Cintra diz que o cenário da Educação pode seguir o que ocorre na medicina, em que várias áreas têm apoios especializados através de ferramentas que direcionam atendimentos para necessidades muito específicas de regiões e dificuldades que elas têm.
“Então não é substituir o especialista, a escola não tem que tratar dessa questão por conta própria. A mesma coisa se dá com questões psicológicas, mas você consegue sim entender um suporte em regiões que não tem atendimento psicológico. Não tem atendimento de especialistas locais, mas eu posso pelo menos ter alguma ferramenta que me ajude a tomar boas decisões localmente. Então, a escalabilidade do atendimento é individualizada também no elemento da gerência de escola ”, argumenta.
Papel da Inteligência Artificial
Especialistas que estudam as novas tecnologias argumentam que o papel do professor é formar a criticidade dos estudantes em relação a elas. Cintra reforça que a Inteligência Artificial tem um papel específico e que ela não substitui os profissionais, mas executa algumas tarefas.
“A IA generativa basicamente “lê a internet como um todo” que é uma coisa que a gente não consegue fazer como humanidade e ela cria a partir disso. E quando a gente fala que ela cria a partir disso, é um elemento estatístico, então é muito importante discernir que ela não está entendendo nada”, destaca.
O coordenador de inovação e tecnologia citou que tecnologias como o ChatGPT podem ser adicionadas nas aulas à medida que os professores precisarem da ferramenta. No entanto, reforça mais uma vez, as tecnologias só obedecem comandos e localizam informações e não tem raciocínio. Sendo assim, explica, a partir de uma pergunta que você faz, ela consegue falar informações estatisticamente.
“Entendendo que não é substituir humano no raciocínio, mas que com isso você consegue fazer coisas que um ser humano não é capaz, a gente pode pensar como se posicionar para trabalharmos com a educação e ajudarmos os nossos alunos. Mas que a gente consiga também se posicionar como profissional nesse mundo”, diz. “Se a gente se apropriar dessas ferramentas podemos nos posicionar cada vez melhor e a gente pode ajudar os nossos alunos a fazerem o mesmo”, finaliza.
Educa Week
Guilherme Cintra participou da discussão Inteligência artificial na educação, nesta quarta-feira (18), no Educa Week 2023, maior evento de transformação da educação do Brasil. Também participaram da discussão Carlos Eduardo Lima Braga, coordenador de inovação da Inicie; Mônica Teles, gerente pedagógica da Edify e Reginaldo Gotardo, CEO do EducaCross.
Assista a discussão na íntegra:
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