Exercícios físicos impactam positivamente a vida de pacientes oncológicos que fazem tratamento com imunoterapia. A informação faz parte de uma pesquisa inédita realizada no Brasil pelo oncologista Paulo Bergerot, especialista do Grupo Oncoclínicas. O estudo é o primeiro da América Latina que mostra a viabilidade de exercícios físicos supervisionados em pacientes com câncer.

Rubia Lopes, oncologista do Cebrom Oncoclínicas, destacou os benefícios dos exercícios físicos para as pessoas que estão em tratamento de câncer. A médica afirmou que um paciente com câncer pode se exercitar, desde que tenha condições clínicas para realizar a atividade.

“A atividade física melhora o limiar de dor, mantém os músculos ativos e protege contra quedas. De forma geral, melhora a qualidade de vida do ponto-de-vista físico e emocional. No entanto, é importante que essa decisão seja tomada em conjunto com a equipe assistente, para que seja indicado o melhor exercício e sua periodicidade”, explicou Lopes.

Tratamento com imunoterapia

O oncologista Paulo Bergerot aplicou o estudo em pacientes oncológicos que fazem tratamento com imunoterapia, uma novidade que está revolucionando a oncologia clínica. Bergerot contou que a  imunoterapia já está aprovada para mais de 18 cenários diferentes dentro da oncologia clínica. Sendo assim, ela é muitas vezes combinada com outros medicamentos, como quimioterapias.

“A imunoterapia é um termo relativamente genérico quando a gente fala da imunoterapia moderna, principalmente essa oncológica.  A gente está falando de uma classe de medicamentos que tem como objetivo principal a ativação do nosso sistema imunológico, que tem como objetivo ativar a detecção das células cancerosas que estavam escondidas”, afirmou.

Então, o oncologista avaliou 40 pacientes com variados tipos de câncer que estavam em tratamento com imunoterapia isolada ou combinada com quimioterapia. O primeiro objetivo do autor da pesquisa era observar a  viabilidade de adesão dos pacientes e a implantação do projeto numa grande unidade de saúde.

Programa de atividades 

Exercício físico na reabilitação do paciente com câncer (Foto: Instituto Vencer o Câncer/vencerocancer.org.br)

O programa de atividades apresentado pelo oncologista Paulo Bergerot aos pacientes era remoto pelas plataformas WhatsApp e Vedius, com supervisão de equipe médica, preparador físico e apoio psicológico. No cronograma havia 12 semanas de exercícios de resistência e aeróbicos. Os pacientes deveriam realizar os exercícios de 4 a 6 dias por semana, por no mínimo 3 horas e no máximo 5 horas semanais.

Desta forma, diferente de um acompanhamento normal de fisioterapia, os exercícios físicos do estudo ofereciam atividades de nível moderado a intenso. Os exercícios incluíam atividades aeróbicas, de força muscular, de ganho de massa muscular e de mobilidade.

“A proposta do estudo foi estimular os pacientes a ganhar condicionamento cardiovascular, massa muscular e melhorar a mobilidade. E isso acaba tendo impacto não apenas na qualidade de vida porque melhora o condicionamento da pessoa, o físico, o cardiovascular e vai deixar a pessoa mais funcional, mas principalmente vai ter um potencial de repercussão no tratamento oncológico”, contou o oncologista.

Prescrições individuais

Como ressaltado pela oncologista Rubia Lopes, o paciente precisa conseguir realizar as atividades de acordo com as suas condições clínicas. Por isso, a prescrição das atividades foi individualizada.

“Quando o preparador físico entra em contato com o paciente ele identifica as condições que a pessoa tem presente na sua própria casa. Então, se ela tem uma academia montada, um jogo de pesos, um colchonete ou se não tem nenhum colchonete. Assim, ele vai adaptar exatamente as condições que a pessoa tem, e principalmente as preferências da pessoa”, disse Paulo Bergerot.

Bergerot apontou a falta de identificação com a atividade física como uma das grandes barreiras que existem para as pessoas praticarem exercícios, não apenas para pacientes, mas para qualquer pessoa.

“Não adianta prescrever musculação para uma pessoa que precisa de musculação, mas que detesta musculação. A gente tem que encontrar outra atividade que dê prazer para aquela pessoa, algo que a pessoa encontre algum propósito pra se mexer e despender tanta energia. Então esse é um dos trabalhos que a gente tem bastante cuidado nesse estudo, que é identificar as preferências e as condições de cada paciente para que sigam no projeto”, ressaltou o oncologista. 

Estudo piloto

O estudo do oncologista Paulo Bergerot associa o mecanismo de ação da imunoterapia para estimular o sistema imunológico dos pacientes oncológicos.

“A atividade física planejada tanto aeróbica quanto a de ganho de massa ativa o nosso sistema imunológico. E essa combinação, o racional para esses estudos é justamente partindo desse potencial de colaboração, da sinergia que existe entre esses dois mecanismos: a estimulação que os exercícios físicos são capazes de promover no nosso sistema imunológico associado ao direcionamento que a gente está dando através da imunoterapia oncológica”, contou.   

Bergerot reforçou que há uma grande aplicabilidade clínica da combinação, mas pontuou que o estudo ainda é um piloto. Então, os pacientes iniciaram o tratamento com a imunoterapia e aceitaram participar do programa. O acompanhamento ocorreu de forma remota devido a possíveis restrições a ambientes muito aglomerados para alguns pacientes. No entanto, ponderou o médico, o resultado da pesquisa é satisfatório.

“O nosso resultado felizmente foi muito satisfatório, os pacientes aderiram praticamente em 100% dos casos. E paralelamente com um objetivo secundário nós avaliamos o impacto que isso teve na assistência, no serviço de oncologia, na qualidade do atendimento oncológico e foi positivo”, celebrou.

Impactos positivos e prevenção

Atividade física
Exercícios (Foto: Agência Brasil)

Entre os impactos positivos dos exercícios físicos na qualidade de vida, os pacientes oncológicos apresentaram diminuição de fadiga e dos efeitos colaterais comumente associados aos tratamentos e impactos na qualidade de vida global. O estudo não avaliou a prevenção ao câncer porque os pacientes diagnosticados com algum tipo da doença eram os alvos da pesquisa. 

Apesar disso, Paulo Bergerot, oncologista do Grupo Oncoclínicas e autor do estudo, afirmou que a prevenção do câncer através de atividade física é um tema que o encanta estudar. 

“Existem diversos estudos demonstrando que de fato existe um grande impacto na prevenção para vários tipos de tumor, principalmente os tumores mais comuns como o câncer de mama e o câncer de próstata, que são bastante sensíveis a essa questão de prática de atividade física”, disse.

Inatividade física

A prática regular de exercícios físicos melhora a saúde do corpo e da mente. Sendo assim, o oncologista aproveitou para destacar o problema da inatividade física, que pode causar doenças em 500 milhões de pessoas até 2030, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS).

“A gente sabe que a inatividade parece ser um novo fator a ser considerado para o surgimento do câncer, ou seja, pessoas sedentárias tendem a ter mais câncer. Isso parece que é um dado novo, mas esse dado na verdade foi publicado pela primeira vez dentro da literatura médica em 1922, a mais de 100 anos atrás, num estudo observacional que foi feito nos Estados Unidos”, alertou.

De acordo com Paulo Bergerot, o estudo realizado nos Estados Unidos em 1922 mostrou que homens mais sedentários estavam mais propensos ao câncer. Portanto, o médico destacou os avanços da literatura médica e dos estudos clínicos e reforçou a importância das atividades físicas e exercícios físicos também durante o tratamento para os pacientes oncológicos.

“Existe uma tendência de câncer de cólon de intestino que é uma redução de quase 60% da possibilidade de reincidência do câncer para os pacientes que são colocados num programa mais intenso de atividade física. Então, em relação a prevenção esse tipo de estratégia já vem sendo profundamente estudada e com resultados impressionantes e muito animadores”, finalizou. 

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