Enquanto a Covid-19 continua trazendo prejuízos à população mundial de forma direta, outra consequência, dessa vez indireta, tem sido notada nas crianças. Uma pesquisa desenvolvida pela Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) constatou que o isolamento social provocado pela pandemia de Covid-19 provocou um ganho de peso nos pequenos.

Em entrevista à Sagres, a médica pediatra e endocrinologista Marília Barbosa, explica que o fato de as crianças terem permanecido dentro de casa, sem ir à escola e sem brincar, tornou a rotina delas menos saudável.

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”Elas ficam mais em casa, acabam reduzindo a quantidade de atividade física, cria ansiedade, provoca uma sensação de fome mais exagerada”, afirma.

De acordo com a médica, os problemas relacionados à obesidade não são sentidos na infância, mesmo que a criança esteja acima do peso. Os sinais começam a aparecer na fase adulta.

”Vamos perceber isso quando já estiver na fase adulta. Na criança, quando não há uma causa que leve à obesidade, o que justifica o excesso do peso é a obesidade primária que é o erro alimentar, o sedentarismo, a falta de atividade física. Na vida adulta, isso vai gerar problemas como hipertensão, diabetes, alterações ósseas e cartilagem”, esclarece.

Segundo Marília Barbosa, a correria e falta de tempo do dia a dia faz com que os pais recorram à praticidade, colocando mais produtos industrializados e menos saudáveis à mesa.

”Eles [pais] precisam ser o exemplo, o modelo para elas para que elas possam seguir. Se a mesa for farta de legumes, se os pais se alimentarem daquela forma, a criança vai entender que aquilo é o normal, é o habitual, é a rotina que ela deve seguir. Os excessos, os industrializados, os fast-foods são a exceção da semana”, finaliza.

Preocupação

A situação se tornou tão preocupante que a SBP disponibilizou um documento que orienta pediatras na identificação da obesidade infantil. O material atenta para a impressionante escalada da doença. Estimativas da OMS (Organização Mundial da Saúde) mostram que em 2025 poderão existir 75 milhões de crianças obesas no planeta.

Aqui no Brasil os registros do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) indicam que uma em cada três crianças, entre cinco e nove anos, está acima do peso. Ao todo, segundo o Sistema de Vigilância Alimentar e Nutricional, em 2019, 16,33% dos brasileirinhos entre cinco e dez anos estavam com sobrepeso; 9,38% com obesidade; e 5,22% com obesidade grave. Nos adolescentes, 18% tinham sobrepeso; 9,53% obesidade; e 3,98% obesidade grave. 

O alerta para o controle do sobrepeso e obesidade infantil busca evitar que no período pós-pandemia o número de crianças com a doença seja ainda maior do que indicam as projeções.

A médica pediatra e endocrinologista Marília Barbosa (Foto: Sagres TV)