O programa Pauta 1 exibido nesta terça-feira (12) evidencia a complexidade das relações marcadas pela violência de gênero, destacando o que caracteriza um relacionamento abusivo. O combate a esse tipo de violência é uma questão que precisa ser debatida, uma vez que diversos tipos de crimes e agressões se tornaram parte da rotina diária de muitas mulheres. 

A advogada especializada em direito criminal e de família, Flávia Fernandes, explica que o machismo é algo que faz parte da nossa cultura e permeia todos os espaços da sociedade.

“Estamos falando de um Brasil que até pouco tempo vendia as suas mulheres por dote, de um país em que as mulheres não tinham direito ao voto, não podiam se divorciar, não entravam em uma sala em que homens fizessem tratativas. Nós mulheres adquirimos, a pouquíssimo tempo, direitos mínimos da pessoa humana”, pontua. 

Machismo estrutural 

O termo “machismo estrutural” indica um conjunto de normas, práticas, instituições e valores que permeiam a sociedade, mantendo e prolongando a desigualdade de gênero ao privilegiar os homens em detrimento das mulheres.

O machismo estrutural é uma forma mais abrangente de discriminação de gênero. Isso ultrapassa as ações individuais e se caminha junto com as estruturas e instituições sociais.

Essa forma de discriminação está presente em diversas esferas da sociedade, por exemplo: educação, economia, política, família, saúde e até na cultura epresentações estereotipadas das mulheres nos meios de comunicação, reforçando papéis tradicionais e superficiais.

“Isso tudo é muito profundo e enraizado e nós, infelizmente, não vamos conseguir mudar de um dia para o outro. Existe a necessidade de entrarmos nas escolas, ensinarmos os nossos jovens, tratar as feridas que foram abertas, mas se a gente não tratar na educação, não será possível mudar nada, porque foi assim que chegamos aqui, ressalta.

Descredibilização do discurso da mulher

A especialista pontua que mulheres continuam sendo descredibilizadas quando vão falar das suas lutas ou protestar por direitos.

“Não tem mimimi, nosso discurso é descredenciado por pessoas que querem que a gente se sinta menor nessa situação. Como você modifica a estrutura de algo? Talvez seja fazendo ruir e criando outra”, frisa.

O papel do homem nessa jornada por direitos iguais é extremamente importante. É preciso que a sociedade se una para mudar essa realidade, pois infelizmente o discurso da mulher continua sendo invalidado.

“Os homens de bem são aqueles que vão efetivamente cumprir a lei maria da penha. Homem não escuta mulher, escuta um outros homens. Precisamos preparar os meninos para que eles tenham respeito. É impossível ter uma sociedade saudável com as nossas mulheres caindo todos os dias pelo machismo”, explica a advogada.  

Casos recentes 

Dois casos com grande repercussão chamaram a atenção para a importância de falar sobre a violência de gênero. O caso da ex-modelo, empresária e apresentadora de TV, Ana Hickmann, chama a atenção pela agressão física e pelo histórico de violência psicológica sofrida por ela. 

Outro caso bastante comentado aconteceu em Goiás. Uma tentativa de feminicídio foi cometida pelo prefeito de Iporá, Naçoitan Leite, contra a ex-esposa dele e o atual namorado dela. O prefeito invadiu a casa e disparou 15 vezes uma arma de fogo contra a porta do quarto onde eles estavam.

Casos como esses, infelizmente, são comuns no Brasil. Segundo o Mapa Nacional da Violência de Gênero, organizado pelo Senado Federal até outubro de 2023, foram 1.127 feminicídios em todo o país, além de 202 mil casos de violência doméstica e sexual. Também foram concedidas mais de 529 mil medidas protetivas. Mas a taxa de subnotificação de crimes desse tipo ainda gira em torno de 61%.

“Isso acontece o tempo todo com grandes empresárias, com mulheres bem sucedidas e que parecem ter uma vida dos sonhos. Quando o assunto é violência psicológica, o homem entra na mente da mulher mexendo com a autoestima. As consequências disso são gigantescas”,  ressalta a advogada especializada em direito criminal e de família.

Enfrentamento da violência

É preciso reconhecer que o enfrentamento da violência de gênero demanda uma abordagem multidimensional, envolvendo não apenas medidas legais, mas também a promoção de educação e conscientização para desconstruir padrões culturais nocivos.

A luta contra a violência de gênero é uma responsabilidade coletiva que demanda o engajamento de todos os setores da sociedade, visando criar um ambiente seguro e gerar equidade para mulheres em todas as esferas da vida.

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