A lista de espera por transplantes de órgãos no Brasil está estimada em torno de 65 mil pessoas. Segundo a gerente de transplantes de Goiás, Katiuscia Freitas, do total, cerca de 44 mil pessoas esperam por um órgão e as demais aguardam a doação de tecidos. Em Goiás, há na lista 2,1 mil pessoas aguardando doações.

“A maior lista é a de córneas, que a gente tem hoje cerca de 1.500 pessoas aguardando e o tempo de espera está em cerca de dois anos. Então, a gente está lutando para aumentar as doações”, explicou Freitas. O estado tem ainda cerca de 600 pessoas aguardando por rins e cerca de oito pessoas aguardando por fígado.

Katiuscia Freitas é a gerente responsável pela Central Estadual de Transplantes de Goiás, unidade da Secretaria de Estado da Saúde de Goiás, que regula todo o processo de doação de órgãos e transplantes no estado. “A gente faz transplantes em Goiás de rins, fígado, córneas e pâncreas”, contou.

Doação de órgãos

Doação de órgãos (Foto: Clarice Castro/Governo do Rio de Janeiro/Agência Câmara de Notícias)

A doação de órgãos é a única maneira de devolver qualidade de vida para pessoas que não possuem mais as funções de um órgão ou tecido doente. O procedimento ocorre após a morte encefálica, conhecida popularmente como morte cerebral.

“Nesse caso é possível, mesmo após a constatação da morte, manter um suporte artificial. Ou seja, os órgãos continuam funcionando através de aparelhos e medicação, mas a pessoa tem a morte confirmada. Depois dessa morte confirmada a gente conversa com a família sobre a autorização para a doação de órgãos”, explicou a gerente.

O problema da fila que tem cerca de 65 mil pessoas que aguardam uma doação é que a rejeição das pessoas em se tornar doadoras é alta, sendo de 44% no país e em torno de 65% de rejeição em Goiás, afirmou Freitas, ao explicar porque poucas pessoas saem da lista de espera. 

“Vou dar um exemplo: em 2023, nós tivemos 514 casos de morte encefálica notificadas, e desses 514 casos, 113 viraram doações de órgãos. Então o nosso grande desafio ainda é, tirando a parte das contraindicações de quem não pode ser doador, a recusa das famílias”, argumentou.

Decisão em momento difícil

Doar os órgãos de um familiar que acabou de partir não é fácil e as equipes médicas sabem disso. No entanto, somente a família autoriza a doação, de acordo com a lei de 2001. “Então, por mais que a pessoa hoje se manifeste, fale para os familiares que quer ser um doador ou que não quer ser um doador, quem vai dar a decisão final vai ser a família”, explicou.

Há atualmente, por iniciativa do Conselho Nacional de Justiça, a possibilidade de deixar o desejo de ser doador de órgãos registrado em cartório, por meio da Autorização Eletrônica de Doação de Órgãos (AEDO). Katiuscia Freitas destacou que mesmo com essa manifestação quem vai decidir é a família, mas garantiu que faz uma diferença muito grande.

“Porque quando a família sabe se a pessoa queria ou não ser doadora é mais fácil da família tomar essa decisão”, disse.  

Campanha Setembro Verde incentiva a doação de órgãos (Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil)

Sensibilidade

Não há um julgamento por parte dos médicos quando a família decide por não doar, mas a gerente de transplantes de Goiás disse que existe a tentativa de aumentar as doações pela divulgação de informações e sensibilização.

“A gente luta para sensibilizar porque não julgamos uma família que diz não, pois a família é abordada num momento difícil, no momento em perdeu alguém. Mas a gente sabe que por trás daquele não tem muita desinformação. Por isso que, além de fazer campanhas de conscientização, a gente também treina profissionais de saúde para saber como comunicar a família, como que essa família entende um processo complexo de morte encefálica, para que ela possa decidir pela doação de órgãos”, afirmou.

Katiuscia pontuou que todos nós estamos sujeitos a possibilidade de precisar de um novo órgão no futuro, ou seja, entrar na lista das pessoas que precisam de uma doação. Porém, a gerente espera que as pessoas não precisem estar nessa situação ou ter algum familiar nela para refletir sobre a doação.

“A gente quer que as pessoas possam pensar na doação de órgãos como uma ressignificação da morte. A experiência que a gente tem com as famílias que doaram é essa, que deixaram um legado do seu ente querido. Elas fizeram algo para ressignificar a vida daquela pessoa e ressignifica porque ela salvou outras vidas”, disse.

*Este conteúdo está alinhado aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), da Agenda 2030, da Organização das Nações Unidas (ONU). Nesta matéria, o ODS 03 – Saúde e Bem-Estar.

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