Janira Sodré é natural de Santa Luzia, no Maranhão, e criada em Boa Vista, capital de Roraima. Na cidade da sub-região ela se formou professora. Filha de uma quebradeira de coco babaçu e de um pequeno agricultor, Janira tem orgulho da carreira docente, que começou com a aposta da família na educação. 

“A educação foi uma poça da minha família para que saíssemos de condições materiais muito difíceis e a minha vida tem sido então dedicada a esse campo da educação, apostando sempre na juventude e nas novas gerações. Hoje eu sou uma professora universitária e associo a minha vida profissional a um ativismo junto à comunidade negra, para pensar e para transformar estruturas que vem contra as condições de vida da nossa gente”, afirmou.

A professora construiu o seu caminho e hoje é uma mulher que inspira representatividade negra na educação e na luta social pelo direito de ocupar os espaços de formação e pesquisa.

“É muito importante que a gente retome a nossa biografia como possibilidade, que  a gente retome as dificuldades pelas quais a gente passou apenas como processo de fortalecimento da nossa existência”, disse e ressaltou que histórias de vida podem se transformar em excelentes teses.

“Todos nós temos as nossas vulnerabilidades. Mas aquilo que no momento pode ser visto como uma vulnerabilidade é algo que pode potencializar a nossa presença, a nossa existência, a nossa trajetória”, contou. 

Representatividade que transforma

As fotografias da trajetória da historiadora mostram o “passo gigantesco” da família para formar Janira, segunda filha a ir para uma universidade. A professora reforçou que os espaços universitários no país sempre foram locais de formação das elites, reservado à grupo. Então, a presença de uma mulher negra, sobretudo na sua época de universitária, era estranhada no ambiente.

“Apesar disso, continuar existindo, ensinando, pontuando e questionando esses espaços com uma série de repertórios que vem da experiência de ser negra e de ser mulher e professora nesses espaços tem, na minha opinião, trazido pessoas à reflexão, à transformação, a um reflorestamento desse imaginário racista e sexista por novas possibilidades, novas abordagens para a presença das mulheres, para a presença das pessoas negras em todos os espaços da vida social”, destacou.

Um futuro transformado

A trajetória de Janira Sodré se entrelaça com a jornada de muitas outras mulheres negras, que para ela é como uma comunidade onde todas compreendem que juntas podem muito. Uma esperança mantém o brilho no olhar da professora: que as novas gerações transformem os seus sonhos em propósitos e os seus propósitos em projetos de transformação.

“Eu sonho que mesmo idosa eu possa continuar percebendo que esse movimento de mudança e transformação continua acontecendo com as novas gerações. Na verdade, eu sonho com um futuro diferente, com um futuro transformado, com um mundo livre de violência para meninas e mulheres”, apontou.

*Este conteúdo está alinhado aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), da Agenda 2030, da Organização das Nações Unidas (ONU). Nesta matéria, o ODS 04 – Educação de qualidade.

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