O Conselho Federal de Medicina (CFM) realizou, nesta terça-feira (11), a proibição da prescrição médica de terapias hormonais com esteroides androgênicos e anabolizantes com finalidade estética. Também fica proibido a receita para ganho de massa muscular ou melhora do desempenho esportivo.

A médica endocrinologista Marília Zanier revelou em entrevista ao Sistema Sagres de Comunicação que já esperava a proibição de anabolizantes para fins estéticos. Para ela, o Conselho Federal de Medicina (CFM) agiu com “bom senso” sobre a decisão.

“Estávamos esperando por isso há muito tempo. Isso sempre foi proibido, não tem nenhuma indicação médica de passarmos hormônios para finalidade estética. Isso é o bom senso, a medicina ética. Mas, a gente sabe que, infelizmente, muitos ainda faziam exatamente por não ter muito bem essa punição estabelecida. Então, concordo [com a proibição], porque nunca teve segurança para o uso estético”, argumenta.

Riscos à saúde

De acordo com Marília Zanier, o uso de hormônios como anabolizantes podem trazer muitos riscos à saúde do usuário. Como por exemplo, a infertilidade, aumento do colesterol LDL, risco cardiovascular.

“Tem que lembrar que o coração também é músculo, então a gente pode ter um aumento desse músculo cardíaco, levando a parada cardíaca. Então, pode ter essa hipertrofia miocárdica. Usar por exemplo testosterona em um homem que já produz adequadamente é como se eu tivesse usando um contraceptivo, fazendo essa comparação com a mulher. O organismo do homem entende que está recebendo muita testosterona e não precisa produzir. Sendo assim, ele pode ter uma diminuição da produção pelo testículo”, explica.

Além de altas doses, a endocrinologista esclarece que não há segurança para um período de uso. Ou seja, a aplicação de anabolizantes, mesmo que por pouco tempo, também traz riscos à saúde.

“Usar menos tempo não vai dar essa inibição, por exemplo, não é verdade. A gente tem homens que fazem um ciclo e já tem essa inibição. Então, não existe tempo e dose segur, isso é muito importante colocar. Com esse uso, pode parar de produzir até mesmo espermatozoides e esses homens acabam ficando inférteis. Outras questões, como ginecomastia, que é o aumento da mama masculina, risco de vários cânceres, porque o anabolizante prolifera todas as células, boas e ruins”, exemplificou.

Quando o hormônio é indicado?

Marília Zanier, que é integrante da atual diretoria da Sociedade Brasileira de Endocrinologia de Goiás, defende que os hormônios são boas medicações, mas quando há a deficiência deles.

“Nesse caso a gente tem segurança e respaldo. Mas, como anabolizantes, a gente precisa usar doses muito mais altas, que não tem nenhum estudo de segurança. Pelo contrário, a gente acostuma ver muitos efeitos colaterais nesse paciente”, afirma.

Para isso, a especialista explica que é preciso confirmar que o paciente tenha essa deficiência. “Homem que tem, por exemplo, essa insuficiência androgênica, deficiência de testosterona, e na ausência de contraindicações a essa reposição. Isso confirmado laboratorialmente e clinicamente”, pontua.

A médica endocrinologista, Marília Zanier, acredita que a proibição de anabolizantes para uso estético foi um bom senso do CFM | Foto: Arquivo pessoal

Outro caso em que há uma prescrição médica para o uso de hormônios é na transição de gênero, que é uma hormonioterapia em pessoas trans. “Também é reconhecido pelo Conselho Federal de Medicina, mas lembrar que para isso temos que ter uma série de documentos, comprovações, termos de esclarecimento”, ressalta.

Hormônios bioidênticos

O CFM também definiu que ficam proibidas a prescrição e a divulgação de hormônios anunciados como bioidênticos em formulação nano ou com nomenclaturas de cunho comercial sem a devida comprovação científica de superioridade clínica.

Além disso, moduladores seletivos do receptor androgênico para qualquer indicação. A vedação está de acordo com o entendimento da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).

“Aqui a questão é porque querem induzir a população a achar que esses hormônios são mais naturais, não fazem mal e isso não é verdade. Na maioria das vezes que se divulga isso de bioidêntico, são hormônios manipulados, que temos muito menos evidências científicas ou qualquer segurança”, critica Marília Zanier.

“Manipulação você nem tem bula, então a gente não orienta essas manipulações hormonais. O que a gente tem de estudo científico está pronto para comprar, foi fiscalizado pela Anvisa. Então, essa proibição é muito válida, porque é para acabar com isso do paciente achar que é manipulado, bioidêntico, vai fazer menos mal ou é mais natural, pelo contrário”, conclui a endocrinologista.

Proibição de anabolizantes pelo CFM

De acordo com a entidade, a inexistência de comprovação científica suficiente que sustente o benefício e a segurança do paciente foi o motivo da decisão. O Diário Oficial da União publicou a resolução nesta terça, segundo a Agência Brasil.

Além disso, a medida destaca a inexistência de estudos clínicos randomizados de boa qualidade metodológica. Conforme a decisão, eles não demonstram a magnitude dos riscos associados à terapia hormonal androgênica em níveis acima dos fisiológicos. Além disso, não há comprovação científica de condição clínico-patológica na mulher decorrente de baixos níveis de testosterona ou androgênios.

A resolução determina, também, que permanece proibida ao médico a adoção experimental de qualquer tipo de terapêutica não liberada para uso no Brasil sem a devida autorização dos órgãos competentes. Além disso, sem o consentimento do paciente ou de seu responsável legal, que devem estar devidamente esclarecidos.

A restrição também se estende à realização de cursos, eventos e publicidade para estimular o uso ou fazer apologia a possíveis benefícios com finalidades estéticas. Incluem também ganho de massa muscular ou de melhora na performance esportiva. 

Abuso

Segundo o conselho, é crescente o número de pessoas utilizando esse tipo de medicação de forma ilícita. O CFM relata ainda um aumento na administração do hormônio do crescimento (GH) de forma abusiva por atletas, amadores e profissionais.

Eles usam como droga ergogênica, por isso o hormônio está lista de substâncias anabolizantes da Anvisa e no rol de drogas proibidas no esporte pela Agência Mundial Anti-Doping.

“Drogas ergogênicas tendem a melhorar o desempenho físico retardando a fadiga, impulsionando o ganho de massa muscular (propriedade anabolizante) e a quebra de gordura (propriedade lipolítica)”, destacou o CFM.

*Esse conteúdo está alinhado com o Objetivo de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU 03 – Saúde e Bem Estar

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