Novos dados divulgados pelo Sistema de Alerta de Desmatamento do Cerrado (SAD Cerrado), na quarta-feira (20), revelam que o desmatamento no Cerrado mais do que dobrou em novembro, atingindo a marca preocupante de 115 mil hectares. Este número representa um aumento de 103% em comparação com o mesmo período do ano anterior e um crescimento de 70% em relação a 2021.

O desmatamento acumulado de 2023 até o momento alcança 966 mil hectares em todo o bioma, superando em 19% o total registrado durante 2022. Além disso, novembro se destaca como o terceiro mês de 2023 com a maior área desmatada, apresentando um aumento de 5% em relação a outubro.

“O ano de 2023 está se consolidando como o ano dos recordes de desmatamento no Cerrado. Historicamente, o pico costuma ocorrer no meio do ano, na época de seca. Estamos observando um aumento atípico do desmatamento agora no final do ano, sendo que a expectativa era de queda nesse período. Assim como foi possível reduzir o desmatamento na Amazônia em ao menos 50%, esperamos no próximo ano que esses esforços sejam também direcionados para uma drástica redução do desmatamento no Cerrado”, afirmou Fernanda Ribeiro, pesquisadora do IPAM.

Área desmatada mensalmente no bioma Cerrado entre janeiro a novembro de 2021 a 2023. Fonte: SAD Cerrado/IPAM

Matopiba

A principal contribuição para esse aumento alarmante no desmatamento vem da região do Matopiba, uma fronteira agrícola composta por partes dos estados do Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia. Somente em novembro de 2023, a área devastada nessa região cresceu impressionantes 173%, totalizando 84,3 mil hectares. Esse valor representa 73% de todo o desmatamento do bioma no mês.

Destacando-se, o cerrado baiano experimentou um aumento significativo de 671% no desmatamento em novembro, passando de 2,4 mil hectares em 2022 para 18,9 mil hectares em 2023. O Piauí registrou um aumento de 259%, com 18,1 mil hectares desmatados, enquanto o Maranhão liderou o desmatamento com um crescimento de 131%, totalizando 32,7 mil hectares. O Tocantins também contribuiu, com um aumento de 74%, alcançando 22,8 mil hectares perdidos.

Concentração de alertas de desmatamento em novembro de 2023. Fonte: SAD Cerrado/IPAM

Em decorrência do acelerado desmatamento no Matopiba, os municípios dessa região ocupam todas as posições entre os dez maiores desmatadores do Cerrado. Pelo segundo mês consecutivo, Cocos, no oeste baiano, lidera o ranking com 4,3 mil hectares desmatados, seguido por Alto Parnaíba, no Maranhão, com 3,7 mil hectares, e São Desidério, vizinho de Cocos, com 3,5 mil hectares perdidos.

Vazios fundiários

A categoria de vazios fundiários, áreas sem mecanismos de governança definidos, foi a segunda mais desmatada, representando 14% dos alertas. No entanto, as áreas privadas continuam liderando, contribuindo com mais de 75% da área desmatada, cerca de 87 mil hectares.

No que diz respeito à vegetação nativa, a savana continua sendo a mais afetada, ocupando a maior parte do bioma, seguida pelas formações campestres. As formações florestais, embora menos afetadas, concentraram 21% do desmatamento em novembro. Este cenário ressalta a urgência de ações para conter a devastação no Cerrado e preservar esse ecossistema vital.

“Precisamos implementar e fortalecer as políticas públicas voltadas para prevenção e controle do desmatamento, conservação e restauração do Cerrado, que são necessárias para garantir a proteção dos últimos remanescentes de vegetação nativa. É essencial incluir o Cerrado, juntamente com outros biomas não-florestais, em discussões internacionais sobre mudanças climáticas e biodiversidade, como a COP, para o fortalecimento e incentivo a essas políticas”, completa Ribeiro.

*Este conteúdo está alinhado aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), na Agenda 2030 da Organização das Nações Unidas (ONU). ODS 13 – Ação Global Contra a Mudança Climática

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