Ao lado da presidenta eleita Dilma Rousseff (PT), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva concedeu uma entrevista coletiva nesta quarta-feira (3), em Brasília. O petista tentou demonstrar confiança no trabalho da ex-auxiliar, afastando boatos de que estaria interferindo na montagem da equipe do próximo governo. Lula considerou também “uma temeridade” pensar num eventual retorno à Presidência da República. Confira a seguir os principais trechos da entrevista.

Economia
“A macroestrutura de desenvolvimento e infraestrutura já está elaborada e ela própria [Dilma] foi a coordenadora. Ela agora tem que pensar em outras coisas: o que vai acontecer a mais nesse país pra que a gente não perca esse momento mágico e excepcional da economia. As condições estão dadas para Dilma ter quatro anos exitosos no governo brasileiro.”

Medidas impopulares
“Não temos pela frente medidas impopulares. Quando se fala em medidas impopulares no Brasil normalmente é alguma sacanagem contra o povo antes de deixar o mandato. Não há necessidade e nem eu nem a Dilma queremos que isso aconteça. Vamos fazer o que for preciso pra que a Dilma receba, em 1º de janeiro, o governo com toda a tranquilidade, sem nenhuma preocupação ou percalço.” 

Vantagens
“O que a Dilma vai ter de vantagem: ela ajudou a colocar esse carro em marcha. O carro não está na garagem: os pneus estão calibrados, o motor está regulado, o carro está a 120 quilômetros por hora. Se ela quiser, pode pisar um pouco mais no acelerador e chegar a 140, 150. Ela não tem por que brecar esse carro. Só tem que dirigir com muita responsabilidade, olhar bem as curvas e não ultrapassar onde tem duas faixas. Em economia não existe mágica, é seriedade, compromisso e previsibilidade.”

Continuidade
“A Dilma tem que montar o time dela. É a técnica dessa seleção. A continuidade é na política, não nas pessoas.”

Oposição
“Queria pedir à oposição: contra mim eles podem continuar raivosos, mas a partir de 1º de janeiro, que eles olhem um pouco mais o Brasil, que torçam pro Brasil dar certo, que ajudem. Quando tomam uma atitude, prejudicam é a parte mais pobre da população e não o presidente. Que nossa oposição não faça a política que fez comigo, do estômago, da vingança, do trabalhar pra não dar certo. Oposição não pode fazer isso, até porque governa Estados importantes da federação e a relação institucional entre Estados e União tem que a mais harmoniosa possível, porque senão todos perdem.”

Equipe
“Essa mulher [Dilma] tem condição de montar uma equipe excepcional. Primeiro, porque ela conhece muita mais gente que eu conhecia em 2002; segundo, porque a relação com os partidos está muito mais consolidada; e terceiro, porque ela passou oito anos no governo, conhece as pessoas boas e as que não são tão boas. Portanto, a bola está com a senhora, dona Dilma. Monte o seu time. Eu estarei na arquibancada, de camisa uniformizada, sem corneta, batendo palma e nunca vaiando.”

Congresso
“O congresso é a cara da sociedade, é a média da cara de vocês, é a síntese da sociedade brasileira. A gente tem o hábito de tentar menosprezar, muitas vezes por preconceito. As pessoas são eleitas. Tem cidadão que é eleito com 10 milhões de votos e tem outro que é eleito com um milhão. Eles chegam aqui e cada um vale um voto, não tem melhor ou pior. O presidente da república se relaciona com a força política eleita, não com a força que gostaria que fosse eleita. Ela [Dilma] vai ter que conversar com o PCdoB e com o Tiririca. Só vai ter, teoricamente, bancadas mais consolidadas na Câmara e no Senado.”

Possível retorno
“Quem vai sair do governo como eu vou sair tem a responsabilidade de pensar e contar até um milhão antes de voltar algum dia. Pra quem chega ao final do mandato com o reconhecimento popular que tem o governo e com a aprovação pessoal minha, voltar é uma temeridade. A expectativa gerada é infinitamente maior.”