“Em todos os ciclos de vida as mulheres sofrem violência de várias naturezas. Violência física, sexual, psicológica, sofrem negligências principalmente as mulheres idosas e com deficiência. Violência patrimonial, política, institucional, obstétrica”. A fala é da médica sanitarista do Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Goiás (HC-UFG), Marta Maria Alves da Silva, em entrevista ao Tom Maior da Sagres TV nesta terça-feira (21).

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Neste mês de novembro, três casos diferentes de violência contra mulher, repercutiram no Brasil. A influenciadora Patrícia Ramos e a apresentadora Ana Hickmann apresentaram denúncias contra seus maridos. Em Goiás, a ex-mulher do prefeito de Iporá teve a casa invadida, parcialmente destruída e sofreu tentativa de feminicídio por parte do ex-companheiro.

Marta Maria destacou a preocupação da unidade de saúde com pacientes que apresentam sinais de violência. Trata-se de um protocolo clínico de atendimento às mulheres vítimas de violência, lançado no fim do ano passado.

O objetivo do protocolo é auxiliar os profissionais de saúde do HC-UFG na identificação e conduta de situações de violência cometidas contra mulheres durante o atendimento nas unidades e serviços da unidade. O protocolo inclui o atendimento de mulheres em situação de violência em todos os seus ciclos, ou seja, desde mulheres adolescentes até mulheres idosas.

“Esse protocolo foi construído junto à saúde da mulher, da adolescente, envolvendo várias áreas, desde as mulheres que chegam na maternidade, no pronto-socorro, as que são encaminhadas para internar. O objetivo desse protocolo é o manejo clínico, um atendimento para orientar no exame físico, na anamnese, na conduta clínica e terapêutica das mulheres em situação de violência”, afirma.

O protocolo traz em sua estrutura conceitos, objetivos, justificativa e o marco legal para a sua implementação no HC-UFG bem como tudo o que envolve a atenção integral a essas mulheres, como a vigilância, notificação e atribuições de todos os profissionais envolvidos no atendimento em saúde.

Além disso, o protocolo descreve ainda os tipos de violência (física, sexual, psicológica, negligência, financeira e autoprovocada) que podem ser cometidos contra as mulheres, os fluxos para atendimento dessas mulheres no HC-UFG, o monitoramento e o encaminhamento para a Rede de Atenção e Proteção às Mulheres em situação de violências. O protocolo aborda também sobre educação permanente, cita as referências bibliográficas e histórico.

Segundo Marta Maria, a Rede de Atenção e Proteção às Mulheres em Situação de Violência encaminha os casos relatados pelas vítimas aos conselhos tutelares, ministério público e delegacias. Para reforçar esta causa, foi lançada nesta semana a campanha 21 Dias de Ativismo Pelo Fim da Violência contra a Mulher.

“Esses 21 dias são para que a gente possa trabalhar esse tema, articular toda a sociedade civil. Precisamos chamar a atenção e dar um basta na violência contra as mulheres”, conclui.

Ontem (21), a Comissão de Assuntos Sociais (CAS) do Senado divulgou a 10ª edição da Pesquisa Nacional de Violência contra a Mulher, realizada pelo Instituto DataSenado, em parceria com o Observatório da Mulher contra a Violência (OMV). Foram entrevistadas mais de 21 mil mulheres brasileiras para o estudo.

Recorrência

Segundo a pesquisa, três a cada dez brasileiras já sofreram violência doméstica provocada por um homem. Dentre as mais de 25,6 milhões de vítimas espalhadas pelo Brasil, 22% declaram que algum desses episódios de violência ocorreram nos últimos 12 meses.

Além disso, a maior parte das vítimas vive a primeira agressão ainda jovem. A incidência de agressões em mulheres entre 19 e 24 anos chega a 22%. A faixa etária de 15 a 18 anos acumula 17% dos casos, seguido de 16% de 30 a 39 anos.

Ainda conforme o levantamento, dentre os diversos tipos de violência doméstica, a violência psicológica é a mais recorrente, somando 89% das respostas da pesquisa. Em seguida, a violência moral se mostra presente com 77%, e a violência física com 76%. A violência patrimonial soma 34%, e a sexual 25%.

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