A contagem regressiva para a estreia da seleção feminina de futebol na Copa do Mundo deste ano, na Austrália e na Nova Zelândia, chega a dois meses nesta quarta-feira (24). O maior evento da modalidade serve então como inspiração para a exposição “Rainhas de Copas”, realizada no Museu do Futebol, em São Paulo, desde 28 de abril.

Mais do que contar a história das Copas femininas e da participação brasileira, a exposição apresenta a luta das mulheres por espaço no esporte mais popular do planeta. Assim, ela parte de 1988, quando um torneio experimental com 12 seleções aconteceu na China. O torneio foi o embrião do primeiro Mundial da Federação Internacional da modalidade (Fifa), quatro anos depois, no mesmo país.

Apesar de o evento-teste não ter sido televisionado, a mostra traz imagens raras de lances e gols do Brasil. Além do acervo das próprias atletas e recortes do Jornal dos Sports, que teve a repórter Cláudia da Silva como única jornalista do país a cobrir a competição. No espaço destinado a 1988 há, inclusive, uma foto da sueca Pia Sundhage, então jogadora e, hoje, técnica da seleção brasileira.

“Quando a gente pesquisa sobre 1988, descobre a Cláudia e passa a fazer contato com aquelas jogadoras, pioneiras, criamos vínculos com elas. É dessa forma que resgatamos as histórias, procurando em acervos da hemeroteca para confirmar dados, trazendo fotos das próprias atletas, porque não existe cuidado nenhum com a memória do futebol de mulheres no nosso país”, destacou Juliana Cabral, é ex-zagueira da seleção feminina do Brasil e uma das curadoras da exposição, ao lado de Aira Bonfim, Lu Castro e Silvana Goellner.

Exposição

“Muito do que as pessoas vão percorrer [na mostra] é o que estava nas mãos daquelas rainhas que vivenciaram aquilo. É também uma homenagem a todas as mulheres que estiveram em campo por algum momento, mas, infelizmente, pela falta de estrutura e preconceito, não conseguiram se tornar rainhas”, completou a ex-atleta, que representou o Brasil nas Copas do Mundo de 1991 e 1995 e que conquistou a medalha de prata na Olimpíada de Atenas (Grécia), em 2004.

A exposição transita pelas Copas de 1991 a 2019, com a ficha técnica das partidas da seleção e registros marcantes. Um deles, por exemplo, é a reconstituição do primeiro gol verde e amarelo em Mundiais (que não tem imagens) – de Elane sobre o Japão na edição inaugural do evento – ou o vídeo com o golaço de Marta contra os Estados Unidos na semifinal de 2007. Mas, apresenta também diversas reivindicações de atletas durante a competição, a exemplo da foto das brasileiras segurando um cartaz com a mensagem “Brasil, precisamos de apoio”, justamente após o vice-campeonato de 16 anos atrás, melhor campanha do país.

“Tem muita gente falando sobre o futebol de mulheres no país que não conhece a história, que não sabe que a mulher foi proibida de jogar no país [devido a um decreto de 1941, que perdurou até 1979], que não sabe que as categorias de base [femininas] surgiram faz pouco tempo, depois da obrigatoriedade da Conmebol [Confederação Sul-Americana de Futebol], em 2019 [exigindo que os clubes participantes dos torneios continentais tivessem equipes femininas profissionais e de formação]”, disse Juliana.

“Então, conhecer a história, as protagonistas, é extremamente importante para que as pessoas entendam o contexto atual. Quem vier à exposição conseguirá ver que nada nunca foi cedido à mulher. Ela sempre lutou muito para ocupar esse espaço, com muita bravura e qualidade”, completou a curadora e ex-atleta.

Jogadoras

Na última sala da exposição, o visitante confere um painel interativo no qual pode conhecer a trajetória das jogadoras que já representaram o Brasil nas Copas do Mundo. Entre elas estão Marta, Cristiane, Formiga, Pretinha, Kátia Cilene, Sissi e a própria Juliana, que se tornaram as referências que elas próprias não tiveram na carreira. Há, ainda, uma réplica do troféu do Mundial, que a seleção brasileira tentará conquistar pela primeira vez.

“Acho que temos bons nomes [na atual seleção], uma base que, talvez, não brilhe nesta Copa, mas é um futuro muito promissor. Quem já está atuando e nunca disputou uma Copa, tenho certeza de que, por tudo que vem fazendo pela seleção, fará um grande Mundial. E a gente quer isso: colocar cada vez mais nomes das rainhas que puderam pisar em campo, defender a seleção, e que a luta continue para a mulher estar sempre dentro de campo”, concluiu Juliana.

O ingresso para visitar a exposição “Rainha de Copas” custa R$ 20,00 (meia R$ 10,00), sendo que crianças até sete anos não pagam. O Museu do Futebol fica na Praça Charles Miller, no Estádio Paulo Machado de Carvalho (Pacaembu). A mostra vai até 27 de agosto e funciona de terça-feira a domingo, das 9h às 18h (horário de Brasília), com entrada, portanto, até 17h.

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