Nesse espaço aqui no Sagres Online, assim como nas participações na última hora do Tom Maior, na Sagres TV, de vez em quando tento sair do senso comum, porque o futebol vai muito além dos grandes clubes e atletas. Além de um esporte de alto rendimento – e estamos, inclusive, neste momento vivendo uma época única, com dois dos maiores jogadores da história do esporte rivalizando há mais de uma década -, o futebol proporciona histórias incríveis.
Já falamos sobre a responsabilidade social que o esporte tem, e o exemplo que deve dar sobre o ‘novo normal’, com as importantes medidas de segurança que precisamos adotar daqui em diante. Também falamos sobre como a Atalanta ajuda a sua cidade – Bérgamo, epicentro do coronavírus em março – a se reerguer. Ou as histórias de superação dos garotos da Gâmbia no futebol italiano: órfãos e ainda crianças abandonaram sua terra em busca de uma vida melhor.
No llores porque todo haya terminado, sonríe porque llegó a ocurrir.
Hasta siempre 💛. pic.twitter.com/Y67fne1vJ0
— Villarreal CF (@VillarrealCF) July 20, 2020
Não chore porque acabou, sorria porque aconteceu. Essa frase do Villarreal mexeu muito na despedida de duas bandeiras históricas do clube: Bruno Soriano e Santi Cazorla. O primeiro, o jogador que por mais tempo defendeu a camisa do ‘Submarino Amarelo’ (16 anos, 14 no time principal) e também líder de presenças (418). O segundo, possivelmente o melhor jogador do Villarreal. Talvez não um craque do patamar de Juan Román Riquelme e Diego Forlán, mas tão influente e importante quanto.
No último domingo (19), La Liga teve a sua última rodada, que definiu as últimas situações da classificação da primeira divisão do Campeonato Espanhol. Enquanto o campeão Real Madrid permaneceu intacto na liderança, com 87 pontos, o Barcelona chegou a 82, enquanto Atlético de Madrid e Sevilla confirmaram suas posições, ambos com 70. Na Liga Europa, Real Sociedad e Granada, com 56, desbancaram os favoritos Getafe e Valencia. Já o Villarreal seguiu em quinto, com 60.
Mais do que a boa fase do time de Javi Calleja, que se recuperou da temporada ruim no ano passado, a vitória por 4 a 0 sobre o Eibar marcou o adeus de Bruno e Cazorla. Enquanto o volante se aposentou, o meia-atacante assinou com o Al Sadd, clube dirigido por Xavi Hernández no Catar. Com Unai Emery na próxima época, o clube quer voltar a ser protagonista na Europa – nos últimos 15 anos, chegou a ser semifinalista da Liga dos Campeões e, em três oportunidades, da Liga Europa.
Com 11 gols e 9 assistências em 35 partidas no auge dos seus 35 anos, Cazorla foi o grande craque do Villarreal na temporada, mais do que provando a grande recuperação que teve. Por conta de um grave problema no tornozelo, o jogador, então no Arsenal, precisou fazer uma cirurgia em outubro de 2016 depois de jogar com dores no lugar por três anos. Após a operação, contudo, sofreu uma infecção e correu o risco de amputar o pé por danos no tendão de Aquiles, em que perdeu cerca de 10 centímetros do tecido.
Além de precisar reconstruir a pele do tornozelo e arrancar parte do tecido do braço, onde, inclusive, tinha uma tatuagem em homenagem para sua filha, Cazorla passou por oito processos cirúrgicos e ficou longe dos gramados por mais de 600 dias. Após o final do seu contrato com o Arsenal, em junho de 2018, participou da pré-temporada do Villarreal e assinou em agosto com seu ex-clube, que já tinha defendido em outras duas passagens, primeiro entre 2003 e 2006, depois entre 2006 e 2011.
Bruno, que também é do interior da Comunidade Valenciana e cresceu no Villarreal, só vestiu uma cor a sua vida inteira no futebol. Desde 2004 no time profissional, subiu em 2006 para a equipe principal e desde então se tornou uma das referências do clube. Capitão titular desde 2013, após a saída do hispano-brasileiro Marcos Senna, com quem formou uma longa parceria no meio-campo, inclusive na temporada em que o time esteve presente na segunda divisão, quando rejeitou grandes ofertas e prolongou seu contrato até 2020.
A exemplo de Cazorla, Soriano também ficou um longo tempo longe dos gramados, um período maior até que o do seu companheiro. Devido a uma lesão no joelho, e posterior problema na tíbia, o volante não jogou uma partida oficial entre maio de 2017 e junho de 2020. Inclusive, a paralisação do futebol espanhol retardou sua recuperação, mas com o retorno de La Liga finalmente conseguiu entrar em campo. Sua volta, aliás, foi justamente para ter a oportunidade de se despedir, com sete presenças no final do campeonato.