Nesse espaço aqui no Sagres Online, assim como nas participações na última hora do Tom Maior, na Sagres TV, de vez em quando tento sair do senso comum, porque o futebol vai muito além dos grandes clubes e atletas. Além de um esporte de alto rendimento – e estamos, inclusive, neste momento vivendo uma época única, com dois dos maiores jogadores da história do esporte rivalizando há mais de uma década -, o futebol proporciona histórias incríveis.

Já falamos sobre a responsabilidade social que o esporte tem, e o exemplo que deve dar sobre o ‘novo normal’, com as importantes medidas de segurança que precisamos adotar daqui em diante. Também falamos sobre como a Atalanta ajuda a sua cidade – Bérgamo, epicentro do coronavírus em março – a se reerguer. Ou as histórias de superação dos garotos da Gâmbia no futebol italiano: órfãos e ainda crianças abandonaram sua terra em busca de uma vida melhor.

Não chore porque acabou, sorria porque aconteceu. Essa frase do Villarreal mexeu muito na despedida de duas bandeiras históricas do clube: Bruno Soriano e Santi Cazorla. O primeiro, o jogador que por mais tempo defendeu a camisa do ‘Submarino Amarelo’ (16 anos, 14 no time principal) e também líder de presenças (418). O segundo, possivelmente o melhor jogador do Villarreal. Talvez não um craque do patamar de Juan Román Riquelme e Diego Forlán, mas tão influente e importante quanto.

No último domingo (19), La Liga teve a sua última rodada, que definiu as últimas situações da classificação da primeira divisão do Campeonato Espanhol. Enquanto o campeão Real Madrid permaneceu intacto na liderança, com 87 pontos, o Barcelona chegou a 82, enquanto Atlético de Madrid e Sevilla confirmaram suas posições, ambos com 70. Na Liga Europa, Real Sociedad e Granada, com 56, desbancaram os favoritos Getafe e Valencia. Já o Villarreal seguiu em quinto, com 60.

Mais do que a boa fase do time de Javi Calleja, que se recuperou da temporada ruim no ano passado, a vitória por 4 a 0 sobre o Eibar marcou o adeus de Bruno e Cazorla. Enquanto o volante se aposentou, o meia-atacante assinou com o Al Sadd, clube dirigido por Xavi Hernández no Catar. Com Unai Emery na próxima época, o clube quer voltar a ser protagonista na Europa – nos últimos 15 anos, chegou a ser semifinalista da Liga dos Campeões e, em três oportunidades, da Liga Europa.

Com 11 gols e 9 assistências em 35 partidas no auge dos seus 35 anos, Cazorla foi o grande craque do Villarreal na temporada, mais do que provando a grande recuperação que teve. Por conta de um grave problema no tornozelo, o jogador, então no Arsenal, precisou fazer uma cirurgia em outubro de 2016 depois de jogar com dores no lugar por três anos. Após a operação, contudo, sofreu uma infecção e correu o risco de amputar o pé por danos no tendão de Aquiles, em que perdeu cerca de 10 centímetros do tecido.

Além de precisar reconstruir a pele do tornozelo e arrancar parte do tecido do braço, onde, inclusive, tinha uma tatuagem em homenagem para sua filha, Cazorla passou por oito processos cirúrgicos e ficou longe dos gramados por mais de 600 dias. Após o final do seu contrato com o Arsenal, em junho de 2018, participou da pré-temporada do Villarreal e assinou em agosto com seu ex-clube, que já tinha defendido em outras duas passagens, primeiro entre 2003 e 2006, depois entre 2006 e 2011.

Bruno, que também é do interior da Comunidade Valenciana e cresceu no Villarreal, só vestiu uma cor a sua vida inteira no futebol. Desde 2004 no time profissional, subiu em 2006 para a equipe principal e desde então se tornou uma das referências do clube. Capitão titular desde 2013, após a saída do hispano-brasileiro Marcos Senna, com quem formou uma longa parceria no meio-campo, inclusive na temporada em que o time esteve presente na segunda divisão, quando rejeitou grandes ofertas e prolongou seu contrato até 2020.

A exemplo de Cazorla, Soriano também ficou um longo tempo longe dos gramados, um período maior até que o do seu companheiro. Devido a uma lesão no joelho, e posterior problema na tíbia, o volante não jogou uma partida oficial entre maio de 2017 e junho de 2020. Inclusive, a paralisação do futebol espanhol retardou sua recuperação, mas com o retorno de La Liga finalmente conseguiu entrar em campo. Sua volta, aliás, foi justamente para ter a oportunidade de se despedir, com sete presenças no final do campeonato.

 

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As emocionantes despedidas de Bruno e Cazorla no Villarreal, verdadeiros exemplos de recuperação no futebol. @sagrestv

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