O ex-ministro Sergio Moro disse que vai apresentar ao Supremo Tribunal Federal (STF) provas contra o presidente Jair Bolsonaro (sem partido). Em entrevista à revista Veja, ele diz que não recua em nada do que afirmou no dia de sua demissão, há uma semana, na manhã do dia 24 de abril.

No dia da demissão, Moro esclareceu que só deixou o Ministério da Justiça e Segurança Pública por conta da mudança na direção-geral da Polícia Federal (PF), antes ocupada por Maurício Valeixo, indicação do próprio Moro. “Nunca foi minha intenção ser algoz do presidente”, disse o ex-ministro na entrevista.

Ainda na entrevista à Veja, Moro revelou que soube da demissão de Valeixo na madrugada de sexta-feira (24), gota d’água para que ele deixasse o cargo. De acordo com o ex-ministro, Bolsonaro reclamava de não ter acesso a relatórios de investigações da PF. O presidente alegou que só demitiu Valeixo porque o então diretor-geral estaria cansado. Moro disse à Veja que o combate à corrupção não é uma prioridade no atual governo.

“Sinais de que o combate à corrupção não é prioridade do governo foram surgindo no decorrer da gestão. Começou com a transferência do Coaf para o Ministério da Economia. O governo não se movimentou para impedir a mudança. Depois, veio o projeto anticrime. O Ministério da Justiça trabalhou muito para que essa lei fosse aprovada, mas ela sofreu algumas modificações no Congresso que impactavam a capacidade das instituições de enfrentar a corrupção. Recordo que praticamente implorei ao presidente que vetasse a figura do juiz de garantias, mas não fui atendido. É bom ressaltar que o Executivo nunca negociou cargos em troca de apoio, porém mais recentemente observei uma aproximação do governo com alguns políticos com histórico não tão positivo. E, por último, teve esse episódio da demissão do diretor da Polícia Federal sem o meu conhecimento. Foi a gota d’água”, afirmou.

Hoje (1º) no Twitter, rede social na qual travou uma guerra contra o presidente após sua saída do Ministério, Moro disse que concedeu entrevista à revista Veja “com a intenção exclusiva de me defender das fakes news e ofensas e explicar minha saída do Governo, nem mais nem menos”.

No sábado (26), o procurador-geral da República (PGR), Augusto Aras, pediu ao STF a abertura de um inquérito para apurar as declarações feitas pelo ex-ministro. No dia da demissão, Moro apresentou, a pedido do Jornal Nacional, prints de uma conversa com Bolsonaro, na qual, segundo Moro, o presidente teria tentado interferir politicamente na troca de comando da PF.

Bolsonaro, por sua vez, em pronunciamento no final da tarde daquela sexta-feira (24), disse que Moro só aceitaria a saída de Valeixo da PF depois que ele próprio fosse indicado pelo presidente da República ao STF.

Para o lugar de Moro, Bolsonaro nomeou André Mendonça, que foi empossado na última quarta-feira (29), cinco dias depois da demissão do ex-ministro. Já para a direção-geral da Polícia Federal, Bolsonaro teve de anular a posse de Alexandre Ramagem, depois que o STF suspendeu o decreto de nomeação dele para o cargo que era ocupado por Valeixo, braço direito de Moro.

Em entrevista à Sagres nesta sexta-feira (1º), o cientista político Pedro Célio disse que a relação entre Bolsonaro e o STF, chegará a um “ponto limite” e diante de uma “crise”. “Vai chegar a um ponto, e eu acho que será o ponto limite que estaremos diante de uma crise que vai jogar lenha na fogueira do impeachment, mas ainda não resolve tudo, que chegaremos a um ponto de paralisia decisória, esse é um problema terrível”, afirmou.