Nas últimas semanas, um “jogo” que surgiu na Rússia vem preocupando pais e responsáveis de adolescentes em todo o mundo. A repercussão acerca do virtual “Baleia Azul” traz à tona a necessidade de falar sobre as mudanças de comportamento dos jovens que passam horas envolvidos nas redes sociais.

O contexto geral do “jogo” é a participação de um grupo fechado no Facebook, ou em grupos de WhatsApp, que levam ao cumprimento de 49 desafios que antecedem a etapa final, que é o suicídio.

De acordo com o psicólogo e psicanalista da Secretaria Estadual de Saúde (SES-GO), Miguel dos Reis Cordeiro, em entrevista à 730 nesta segunda-feira (24), como a última etapa do Baleia Azul é tirar a própria vida, os participantes tragicamente sempre perdem.

Ouça a entrevista na íntegra em dois blocos

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Bloco 1

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Bloco 2

“A meta é terrível, que é perder a vida. Não é um jogo de ganhar. Isso não é brincadeira. Muita gente nova nesse mundo, de 14, 15, 16 até 26 anos, estão vivendo um tempo muito ruim, negativo e difícil, e estão desenvolvendo uma personalidade mórbida, uma tendência de se aproximarem perigosamente como saída, como alívio, como solução para muitos problemas”, analisa.

No Brasil, os casos de supostas vítimas do jogo subiram no estado de Pernambuco. Até o final da última semana, a polícia investigava sete mortes de jovens possivelmente relacionadas ao Baleia Azul. Cordeiro explica que a rapidez da internet para viralizar o conteúdo e a crise vivida no país potencializam as ocorrências de autoextermínio entre os usuários.

“Imagine um país sem expectativa de vida quanto ao mercado de trabalho, com uma péssima qualidade de ensino, com o crime organizado agindo desde o Congresso Nacional. Um país que não é capaz de garantir que os pais cuidem dos filhos. Eles têm que trabalhar fora e os filhos ficam soltos, em uma situação de vulnerabilidade”, afirma.

Apesar disso, para o especialista, é exatamente a vulnerabilidade que mais atinge os jovens. Cordeiro explica que, por conta disto, participar de jogos virtuais com conteúdos perigosos não pode ser tratado como doença e compara o “jogo” ao mundo das drogas.

“A gente não pode dizer que isso é uma doença. A idade os deixa vulneráveis a todo tipo de ameaça, de agravo, de comedimento negativo. O traficantes, por exemplo. O estrago que o traficante causa no Brasil é muito maior do que o Baleia Azul”, pontua. Cordeiro complementa dizendo que, se comparado ao tráfico e ao crime organizado, o “Baleia Azul é fichinha”.

O psicólogo clínico, especialista em Desenvolvimento Humano e Psicologia Positiva, Ely Carvalho, o Baleia Azul pode ser comparado a uma prática mais antiga, como a chamada “roleta russa”, praticada com arma de fogo, e responsabiliza a sociedade de consumo pela mudança de comportamento dos jovens.

“As famílias querendo dar para os seus filhos o que é ‘ter’ e não ‘ser’, mostrar aos filhos o que é possuir, e não o que é de fato do sentimento, do afeto, do envolvimento, vou tornando estas pessoas mais distantes, vão se envolvendo em coisas que são virais, que são banais, mas que preenchem o tempo naquele determinado momento, e que me traz um prazer e satisfação inicial, e que pode ser um caminho sem volta”, avalia.