No momento em que as lideranças políticas começam a atuar nos bastidores, colocando os projetos à mesa para as eleições em 2022, no cenário nacional, alguns agentes buscam se posicionar como uma terceira via para o pleito presidencial. Porém, o cientista político Pedro Célio afirmou, em entrevista à Sagres, que a polarização entre Lula e Bolsonaro já está colocada e deve se confirmar no próximo ano. “Nos próximos meses ainda assistiremos gente de esquerda buscando, junto com políticos do centro, uma possibilidade da terceira via, mas eu, pessoalmente, acho difícil sair da polarização, pelo menos, para a próxima eleição”.

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O cientista explicou que a esquerda tenta buscar uma liderança que não seja o ex-presidente Lula, mas que a percepção popular sobre o trabalho do ex-presidente, entre 2003 e 2010, é muito forte e isso se impõe ao espectro político. “A política tem esse elemento, que a gente esquece, que é a memória da população, o gosto da população, a percepção popular”.

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Do outro lado, Bolsonaro deve superar a crise causada pela má gestão da pandemia e chegar ao 2º turno das eleições como representante do pensamento conservador brasileiro, declara Pedro. “Bolsonaro ainda assim será um elemento central nas eleições de 2022.[…] Então uma possibilidade de polarização entre direita e esquerda, com discursos bem fixados, taxativos e até radicalizados, não deve ser descartada”.

Diferente de 2018, os adversários do presidente da República não vão subestimá-lo, garante o cientista político. Pedro Célio explicou que Bolsonaro é quem mais sabe explorar o sentimento negativo do brasileiro em relação à política. “Por mais que ele tenha uma aparência de estupidez, de bestialidade, por mais que isso seja verdadeiro em Bolsonaro […] ainda encontra uma forte ressonância na população”.

Política em Goiás

O cenário para 2022 em Goiás se desenha com Caiado buscando aumentar a sua base, enquanto o PSDB tenta definir que tipo de oposição será e o MDB tenta avançar sem as lideranças de Iris Rezende e Maguito Vilela. Um outro ponto chave para a disputa eleitoral é a pandemia que alterou o processo político brasileiro. Pedro Célio explicou que esse último fator deve pautar o discurso dos candidatos.

“Tudo aquilo que os partidos de oposição esperavam para construir um discurso contra Ronaldo Caiado, no plano administrativo, da gestão fiscal do estado, da competência para colocar projetos em desenvolvimento foi por água abaixo, porque o grande tema ainda é o da pandemia”, detalhou o cientista político, que afirmou que os projetos para 2022 terão que levar em consideração o pós-pandemia, com assuntos como recuperação do emprego, retomada do desenvolvimento e projetos para tapar buracos que ficaram na economia.

Além disso, o cientista afirmou que MDB e PSDB têm menos forças do que sempre tiveram e que vivem um processo de indefinição. Ao PSDB, Pedro declarou que resta o papel de crítica ao atual governo, mas ainda não é possível saber com quais condições isso será feito, com qual candidatura ou tendência de coligação. Já o MDB vive uma indefinição “histórica do partido”: pode apoiar o governo, fazer oposição ou apresentar um candidatura própria. “Há muito tempo com o MDB, não há uma identidade político eleitoral que caracteriza o partido, é outra coisa”, relatou.

O cientista ainda ressaltou que quando o atual governador pode se candidatar à reeleição, ele tem uma força de atração, pois tem a caneta na mão e o controle dos processos midiáticos no que diz respeito à administração pública. Segundo o cientista, o pouco tempo de exposição do político em um cargo executivo traz uma vantagem, assim como uma desvantagem. “O Caiado tem um tempo curto, tanto para construir sua base, como também de desgaste frente à população”.