Norberto Salomão
Norberto Salomão
Norberto Salomão é Advogado, Historiador, Professor de História, Analista de Geopolítica e Política Internacional, Mestre em Ciências da Religião e Especialista em Mídia e Educação.

O comportamento do eleitor brasileiro no exterior

As sucessivas crises econômicas que marcaram os anos de 1980 e 1990, que repercutiam em baixos salário e altos índices de desemprego, levaram muitos brasileiros e brasileiras a buscarem por novas oportunidades fora do Brasil.

A partir de 2015, observamos uma nova onda de emigração de brasileiros para o exterior. O ceticismo em relação às perspectivas de crescimento da economia nacional levou a retomada da elevação do número de pessoas que buscavam uma vida melhor no exterior. Assim, o crescimento do número de brasileiros residindo no exterior passa a chamar a atenção para o interesse e a participação desses contingentes nas eleições para presidente.

Segundo dados recentes do Ministério das Relações Exteriores, há 4,2 milhões de brasileiros vivendo em outros países, um aumento de quase 20% em relação aos números de 2018. Convém destacar que esses números não são exatos, pois muitos brasileiros que fizeram essa espécie de diáspora estão em situação ilegal, são os denominados “indocumentados”.

Em 2014 Dilma Rousseff foi eleita presidenta do Brasil.

De acordo com o Tribunal Superior Eleitoral (TSE), cerca de 697 mil brasileiros têm domicílio eleitoral no exterior e estão aptos a votar em 2022. Em 2018 o número foi em torno de 500 mil. Dessa forma, em 2022 observou-se uma elevação de 39,21%. É importante destacar que os brasileiros que moram no exterior só podem votar para os cargos de presidente e vice-presidente da República e não há o voto em trânsito.

Neste ano o Ministério das Relações Exteriores (MRE), observou a necessidade de criação de novas seções eleitorais para atender o crescente número de eleitores brasileiros que estão residindo no exterior. Assim, em abril, o Plenário do Tribunal Superior Eleitoral autorizou a instalação de postos de votação fora da sede das embaixadas e repartições consulares em 21 países.  Com essa medida, a votação ocorreu em 181 cidades estrangeiras.

Brasileiros votam no exterior.

Segundo informações disponibilizadas pelo TSE, as cidades que mais concentram eleitores brasileiros são Lisboa, Miami, Boston, Nagoia e Londres. As mulheres são maioria, representando 58,54% dos habilitados para votar, ou seja, 408.055 mulheres. Outro dado interessante é que 198.112 eleitores e eleitoras estão na faixa etária entre 35 e 44 anos. Já os jovens, entre 16 e 17 anos de idade, totalizam 1835 eleitores.

Mas, além desses dados estatísticos, entendo ser interessante observarmos o comportamento dos eleitores brasileiros que vivem no exterior.

Em 2014, já havia uma onda antipetista que se refletiu no comportamento dos eleitores brasileiros. Dos 141.501 brasileiros, que votaram no primeiro turno, em 89 países, 49,51% preferiram Aécio Neves, 26,01% Marina Silva e 18,35% para Dilma Rousseff.

É possível observar que em 2018, o Antipetismo se expandiu e a polarização política e a participação de brasileiros que viviam fora do país também se ampliou. Assim, se dependesse apenas da votos desses brasileiros emigrados, Bolsonaro, à época filiado ao PSL, ganharia com folga já no primeiro turno com 61% dos votos contra 18% de Fernando Haddad (PT).

Em 2018 Jair Bolsonaro venceu as eleições para presidente da República.

Segundo os dados divulgados pelo TSE, no primeiro turno da eleição de 2018, os eleitores no exterior depositaram 403.932 votos válidos, mais que o triplo do verificado em 2014. Já no segundo turno o comparecimento às urnas foi bem menor, apenas 212.046 eleitores participaram. Bolsonaro manteve a grande vantagem sobre o petista e, no exterior, o resultado foi de 71% a 29%.

Nas votações de 2022, o comportamento do eleitor emigrante sofreu alteração. Avaliando as publicações de boletins nas redes sociais e o aplicativo “Boletim na Mão” do TSE, o ex-presidente Lula da Silva (PT) aparece à frente na maior parte dos países da Europa e Oceania, já o presidente Jair Bolsonaro (PL) conseguiu ficar à frente em países como Israel e Japão.

Fato é que em cada uma das três últimas eleições, a polarização política parece ter despertado o desejo do brasileiro que vive no estrangeiro em participar e contribuir para definir, dentro de suas possibilidades, os destinos do seu país de origem. O importante é que a democracia prevaleça e que o livre exercício da cidadania seja preservado.

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