É inegável o quanto a cultura futebolística reina em nosso país. Ordem e progresso, ou melhor, bola e sucesso. São milhares de jovens dando o primeiro passo, calçando a sua chuteira, driblando as barreiras, querendo ser craque. Não tem um que nunca pensou em ser um jogador de futebol, ovacionado pela torcida e marcando o gol do titulo. Está no DNA verde e amarelo.

Questões sociais como a desigualdade estratosférica, a educação sem reação, a corrupção a céu aberto, a saúde na UTI, são deixadas fora do campo de jogo. Precisamos mesmo é do pão quente, crocante e, preferencialmente, com recheio. O circo, que sempre foi atrativo com suas lonas coloridas, agora tem ar-condicionado para amenizar o calor do verão.

Eu não sou diferente. Fui mordido pelo bicho redondo, não importa o nome que se dê, mas é algo profundo. O remédio existe, entretanto, os efeitos são retardantes, estressantes, nada como antes… Estão escritos na receita e a bula é clara. Amém! Vestimos a máscara da lei, encaramos os adversários mais temidos, monstros psíquicos, olhos que não piscam, verbos imperativos.com.br. De teia em teia, escalo estádios, inspiro o ódio e expiro o amor. De pedra em pedra derrubo Golias que cai e insiste em se levantar. Enfrentamos o clima do jogo, chuvas de criticas, deserto profissional, o frio do freezer… Ao som daquele pequeno instrumento que ecoa no circo, sinto-me forte, um sonho de Ícaro. Nossa bandeira tremulando firme decidindo aquilo que não pode ser visto por meros mortais, afinal de contas, minhas asas são de cera.

No final do voo guardo minha mascara na mochila, troco meus cartões e dou a vantagem no campo da vida. O placar sempre adverso, minha torcida tem o meu sobrenome e sofrem a cada jornada. Sigo em frente, esperando,vendo e buscando a melhor colocação, olhos piscando, pedras no bolso ao som das vaias de Viena e das esferas do globo…

Fabricio Vilarinho, 37 anos, nascido em Brasília-DF (goiano de direito pelo posicionamento territorial da capital federal)  graduado em geografia pela UFG, casado, pai da Amanda, Arthur e Alice. Árbitro assistente desde 2001 e faz parte do quadro FIFA desde 2012. São 292 jogos pela CBF, 07 jogos de eliminatórias da Copa do mundo, 10 finais de Goianão e mais de 800 jogos. Uma carreira diferente de um amante do futebol.