Goiânia é conhecida como “cidade verde”, sendo uma das capitais mais arborizadas do Brasil, com índice de área verde em 14,78 m² por habitante¹*. A realidade é melhor do que em outros locais, mas Goiânia precisa superar desconstrução ambiental sofrida ao longo de nove décadas. E, deve ir além de plantar árvores.

Espaços de proteção ambiental estão em alguns pontos da paisagem urbana, em contraste com o asfalto e concreto. Hoje, a capital conta com mais de 1.350 praças espalhadas por todo o território. A cidade tem cerca de 250 unidades de conservação, sendo mais de 40 parques urbanos²*. O número poderia ser ainda mais expressivo, caso os recursos naturais não fossem violentados e sucumbidos a um urbanismo desenfreado.

Atílio Corrêa Lima logo nos primeiros anos da cidade planejou um traçado que formava uma rede de parques e parkways, dando à capital um ar de “cidade-parque”, repleta de áreas verdes que possuiriam função higiênica e recreativa. No entanto, todos os parques de Goiânia foram bastante violentados para que fossem efetivamente concretizados.

A solução que a cidade vem adotando se mostra insuficiente. Distribuição de mudas e o incentivo para plantio em calçadas ou até mesmo em parques tem o seu valor. No entanto, precisa vir acompanhadas de políticas públicas entre elas o uso do Plano Diretor de Arborização Urbana (PDAU) que poderia das as diretrizes para um plantio e manejo correto de árvores da cidade. Ainda está em tramitação na Câmara de vereadores.

O texto vai e volta do legislativo, desde 2016. Sua implementação efetiva poderia coibir ou ao menos reduzir as mutilações durante as podas realizadas, por exemplo, próximo a fiação elétrica. Além disso, poderia indicar qual espécie mais adequada para se plantar em determinado local, evitando um plantio desordenado e que traga prejuízos a coletividade.

Agressão x Preservação

Parques como o Botafogo e o Bosque dos Buritis foram projetados em 1938. O primeiro foi previsto com uma área de 400.000 m², restando hoje, cerca 124.800 m² e apenas 10% de sua mata nativa. Perdeu áreas para ocupações privadas e públicas, como no prédio da antiga Assembleia Legislativa e do Tribunal de Justiça de Goiás.

O segundo seria um parque linear conectando-se com o Jardim Botânico, ao sul da cidade. E ao norte formaria uma espécie de cinturão verde, protegendo as imediações dos córregos Botafogo e Capim Puba. A realidade foi concreta, literalmente, com a canalização do curso d’água, convertendo em uma importante via do conturbado trânsito da cidade, a Marginal Botafogo.

Um dos critérios para que Pedro Ludovico escolhesse a região de Campinas para abrigar Goiânia era por conta Teixeira, a área da nova capital do estado foi escolhida, principalmente, por causa dos cursos d’água. De acordo com a Agência Municipal do Meio Ambiente (Amma), Goiânia possui em seu território 80 córregos, quatro ribeirões e um rio, o Meia Ponte.

O Meia Ponte sofreu diversos tipos de agressão, hoje em vez de águas limpas, o que se vê é esgoto, resíduos industriais, e outros tipos de dejetos, que praticamente inviabilizam a vida no rio. Há uma tentativa, ainda tímida, para recuperar o manancial, por meio da Expedição Meia Ponte articulada pela Câmara Municipal de Goiânia.

Porém, sem envolvimento e com aplicação de recursos do Executivo do Estado e do Município e com busca de capital até mesmo internacional, pouco sairá do papel e a dessa forma, a cidade continuará de costas para o Meia Ponte. A mesma atenção vale para seus afluentes, entre eles, o Ribeirão Anicuns, bastante maltratado.

Projetos estruturantes

Para os próximos 90 anos, Goiânia precisa se valer do planejamento e de cumprimento das projeções idealizadas. Um dos projetos, por exemplo, que poderia resultar em menor degradação ambiental e maior proteção a fauna e flora é o Macambira Anicuns. Recentemente a Prefeitura de Goiânia recebeu autorização do Ministério de Planejamento e Orçamento para continuar buscando recursos junto ao Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID).

O investimento será de cerca de US$ 75 milhões para execução do parque linear entre a Vila João Vaz e o Setor Urias Magalhães. Idealizado no início da década de 2000, para ser um Parque Linear de 24 km ainda não ficou pronto. Não basta apenas requalificar o espaço físico e dotá-lo de equipamentos urbanos, é preciso ter recursos e empenho para cuidar. Além de incentivar a população a cuidar do local.

Por falar em educação ambiental, as ações são tímidas, com algumas escolas municipais ou grupos mais engajados. É preciso atuação para que a população se aproprie dos espaços e que o propósito do Meio Ambiente ecologicamente equilibrado, de responsabilidade mútua, conforme prevê a Constituição Federal, seja atingido.

Retomando a análise das questões estruturantes, resta a aplicação do Plano Diretor, cujas leis complementares ainda não foram aprovadas em sua totalidade. Além disso, há leis que estão em vigor, mas falta empenho público, como os Engenhos Publicitários, em que há uma tremenda poluição visual nas grandes placas e letreiros que escondem, por exemplo, a beleza do Art Decó.

Transporte

Além disso, lembramos ainda da ausência de uma política articulada de transporte coletivo com outros modais. As ciclovias (se é que podem ser chamadas assim, pois são pistas compartilhadas entre ciclistas e pedestres), tem pouca conexão entre elas e expõe o ciclista a risco. As ciclofaixas e ciclorrotas apagadas e pensadas mais em lazer e menos em deslocamentos diários.

O transporte privilegia os deslocamentos individuais, entopem ruas e avenidas de carros. As intervenções da área de Mobilidade são confusas e fora da realidade, desconexas com a realidade, em muitos casos. De todo modo, são insuficientes, pois pouco se privilegia o deslocamento em massa, priorizando os ônibus.

No entanto, Goiânia não de forma isolada, mas em conjunto com seus vizinhos já estão em atraso ao não pensar em Trem de Superfície e Metrô. E sempre vem aquele argumento: “Ah, mas é caro”. Tudo bem? Mas é um projeto para décadas, para o futuro, e não para o governante de plantão descerrar a placa. Falta integração de projetos, que podem refletir em melhor qualidade para as pessoas, e isso está associado a proteção do Meio Ambiente.

Em 2021, Goiânia ficou entre as cinco melhores capitais no Índice de Desenvolvimento Sustentável das Cidades (IDSC) do Brasil, de acordo com os 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), estabelecidos pela Organização das Nações Unidas (ONU). O resultado é expressivo, mas se quiser ir além, Goiânia precisa ter mais ousadia nos próximos 90 anos.

Rodapé:

*1. O dado tecnicamente é diferente do índice de cobertura vegetal, em que Goiânia aparece com 94 m² de área verde por habitante. Leva-se em consideração a arborização em parques, bosques, praças, vias públicas e jardins. A Sociedade Brasileira de Arborização Urbana propôs como índice mínimo para áreas verdes públicas destinadas à recreação o valor de 15 m² por habitante.

*2. A diferença entre unidades de conservação e parques, é que o segundo tem intervenções urbanas, como pistas de caminhada, playground, etc.

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