O pedreiro Adenilton Nicolau Musco tem 47 anos. É casado, mora em um barracão em Goiânia com a esposa e três filhas. Ele ficou conhecido na última semana após um vídeo da família viralizar nas redes sociais. Nas imagens, ele comemora a aprovação para o curso de Filosofia na Universidade Federal de Goiás (UFG) pelo sistema de cotas. Ele utilizou a nota do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) de 2014. 

No entanto, ele não conseguiu se matricular como cotista porque concluiu o ensino médio em uma instituição de ensino particular. “Eu precisava da conclusão do ensino médio porque eu estava procurando uma vaga de emprego. Eu saí da escola pública e fui para uma particular para poder concluir o ensino médio rápido. Como eu não me atentei no edital para esse ponto, que eu tinha de ter vindo de uma escola pública, aí eu não tive como ingressar na faculdade”, conta. 

Ao saber que não conseguiria a matrícula na última quinta-feira (4), porém, Adenilton fez um novo vídeo, falando sobre o ocorrido. “Meu sonho não morre aqui e não vou desistir. A partir de amanhã vou procurar uma faculdade, particular mesmo, e vou terminar esse curso em nome de Jesus”, relata. 

Adenilton sonha em cursar Filosofia. Uma segunda opção, contudo, é o curso de História. Além disso, ele sabe exatamente onde encontrar apoio e força para continuar. “Isso que aconteceu [ser aprovado] dá um gás para a gente, que passa o tempo todo trabalhando. Isso reanima. Já falei para minhas filhas, vou procurar estudar em uma universidade, nem que seja particular”, afirma. 

Exemplo em casa

O pedreiro é pai de três filhas, e todas estudam em universidades públicas. A mais velha está prestes a se formar em Direito na Universidade Estadual de Goiás (UEG). Ademais, a caçula cursa Nutrição na Universidade Federal de Goiás (UFG). 

Já a Sara Linhares, que gravou a reação do pai ao saber da aprovação, estuda Letras, também na UFG. A postagem teve mensagens de apoio, mas também de críticas à universidade e ao sistema de cotas. 

Em um outro vídeo, ela explica o ocorrido e diz que não compactua com ataques à instituição de ensino. No entanto, a estudante pede reflexão sobre o sistema de cotas.

“Está muito claro no edital. Matriculei meu pai em horário de trabalho, e por isso não me atentei. A gente não compactua com comentários descrediblizando a universidade pública”, afirma. “Meu pai é um pedreiro, tem três filhas, a gente mora em um barracão na região periférica de Goiânia. Mas está na lei”, complementa. 

Sonho possível

No vídeo postado nas redes sociais, Sara conta que, após o episódio em que o pai não conseguiu a matrícula, a família já foi procurada por faculdades e pessoas interessadas em ajudar o pedreiro a ingressar no ensino superior. 

“Tem faculdades entrando em contato com ele, para que ele possa estudar. Ele quer muito estudar. O sonho não acabou, pode ser um sonho que começou agora”, relata. 

Para  o pedreiro, o sonho está mais possível, graças ao apoio da família. “Me apoiaram muito, passam força para a gente conseguir. Eu tenho muito apoio em casa, graças a Deus. Eu acredito que vai dar certo, eu não vou desistir”, conclui.

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