Poucas vezes, nos meus 44 anos de vivência profissional, no jornalismo, vi declarações tão confusas, quanto as dadas pelo presidente do Goiás, Paulo Rogério Pinheiro, na coletiva a imprensa, após o empate por 2×2, entre o time que ele preside e o América Mineiro, jogo que ocorreu no Estádio Hailê Pinheiro, em Goiânia, na quarta, 26 de outubro. Paulo Rogério misturou muitos assuntos e argumentos confusos.

Logo na primeira resposta, disse que estava dormindo em média duas horas por noite, desde o dia 12 de outubro e pra mim, só pode ter sido esta a causa de tanta coisa desconexas ditas numa única aparição.

Mesmo vendo as desconexões e entendendo a situação de estresse que a falta de sono pode ter provocado no presidente do Goiás, não posso deixar de avaliar o que ele disse, sobretudo as consequências que suas palavras podem gerar: ele é voz oficial do Goiás Esporte Clube.

Já iniciou a 1ª resposta dando mostras de irritação e por uma causa injusta….extremamente injusta. Reclamando do pênalti marcado pelo árbitro, Wagner do Nascimento Magalhães, FIFA/RJ e confirmado pelo árbitro se vídeo, o gaúcho Daniel Nobre Bins, que também é dos quadros da FIFA.

Não vi o lance menos de umas 50 vezes, para tentar entender a irritação do presidente esmeraldino: bola levantada na área do Goiás, procurando pelo meio campo Aloísio, do América. No momento em que o jogador americano tenta chegar na bola, o zagueiro Caetano, do Goiás, dá a chamada gravada (quando um dos braços é passado sobre o pescoço de alguém para limitar o movimento) em Aloísio. Disposto aproveitar o lance de perigo com a bola ao seu favor na área adversária, Aloísio força para sair do golpe; neste momento Caetano leva o braço em direção a bola e evita o domínio da bola no peito, por parte dos jogador do América, com o braço.

De frente para o lance, olhar atento o árbitro Wagner do Nascimento Magalhães marca o pênalti. É chamado pelo árbitro de vídeo, olha o lance, nota tudo o que acabei de relatar e confirma a marcação. Absolutamente nada de anormal. Pênalti ocorrido e marcado. O próprio Aloísio bate e abre o placar. Depois o Goiás empata, com Vinícius, o América volta à frente com Welington Paulista e o Goiás torna empatar com Diego. O jogo termina 2×2.

No momento das entrevistas após o jogo, ao invés da rotineira fala do técnico Jair Ventura e dos jogadores, Paulo Rogério aparece para falar, justificando que jogadores e comissão técnica não falariam porque estavam indignados com os acontecimentos. Aí Paulo Rogério Pinheiro soltou as palavras (na minha avaliação, insanas). Entre as expressões estão: “O Goiás é o clube mais prejudicado do futebol brasileiro”; “Não tenho forças para lutar. Estou cansado. É o Goiás contra o Brasil”; “Estou cansado de lutar contra o sistema”.

Enquanto ia proferindo estas expressões, o presidente do Goiás misturou no discurso, os acontecimentos (lamentáveis) do jogo contra o Corinthians, suspenso no dia que deveria acontecer (sábado, dia 15). Tudo porque o Ministério Público de Goiás (num ato de infelicidade) recomendou que o jogo fosse realizado com torcida única, para evitar brigas entre as “organizadas” dos clubes: a justiça comum (num ato de infelicidade) acatou, o Corinthians recorreu para ter o direito de jogar com a presença do seu torcedor e a CBF, suspendeu o jogo, remarcado para o próximo sábado, dia 29, no local para onde a partida estava marcada, Estádio Hailê Pinheiro.

No período entre a suspensão do jogo e remarcação muito diz-que-me-disse, mas nada além de uma nova data, com 10% dos ingressos reservados para a torcida corinthiana (como manda o Estatuto do Torcedor) foi confirmado.

Paulo Rogério desenterrou todo falatório, afirmando que tentaram tirar o jogo de Goiânia, fazer o jogo com portões fechados e que há uma força tarefa para derrubar o Goiás para a série B, porque a CBF não quer três clubes do Centro Oeste na série A. Pode até ser verdade, mas não seria (e não será o Goiás) o candidato a ser rebaixado: Atlético Goianiense e Cuiabá estão em situação de faixa do rebaixamento, onde o Goiás, nas últimas 15 rodadas, não passou por perto.

Mas o mais grave na minha avaliação, das palavras do presidente do Goiás, foi a defesa do árbitro André Luiz Castro, punido pela Comissão de Arbitragem, por deixar de sinalizar um pênalti muito claro a favor do Santos, no jogo do time paulista, contra o Flamengo, no Maracanã. Camacho, do Santos foi derrubado na área, por Matheuzinho, do Flamengo – André Luiz Castro está a menos de três metros do lance, com o olhar em cima da disputa e não assinala o pênalti. Na sequência a bola é lançada na área do Santos e Pedro marca um gol para o Flamengo.

Se o pênalti tivesse sido marcado o gol não aconteceria. O árbitro de vídeo e seu auxiliar, Adriano Milczviki e Luciano Roggembaum respectivamente, com imagens claras as suas vistas não corrigem o erro do árbitro goiano. Assim o gol de Pedro que deveria ser anulado para o pênalti a favor do Santos ser cobrado, não foi. O gol foi confirmado, o Santos muito prejudicado e meia hora após o final do jogo, o presidente da Comissão de Arbitragem da CBF, Wilson Seneme faz circular uma portaria punindo André Luiz Castro e os dois árbitro de vídeo, através do PADA – Programa de Assistência ao Desempenho do Arbitro, que prevê, entre outras coisas, 30 dias de suspensão das escalas para apitar jogos.

Paulo Rogério Pinheiro, mesmo reconhecendo que André Luiz Castro “errou feio”, criticou a punição e quis sugerir que ela aconteceu porque André Luiz é goiano e ainda cobrou: “Será que o Seneme vai punir em meia hora o Wagner do Nascimento Magalhães?”.

Não vai não. O Wagner não cometeu erro algum e o do André foi ridículo, caracterizando a necessidade de punição imediata mesmo. Nada haver com a naturalidade dele. Ser de Goiás não dá direito a um erro tão grosseiro. Mas Paulo Rogério defendeu o “erro feio”!

Na sequência da entrevista, Paulo Rogério ainda falou que não sabe que hora que o árbitro de Goiás e Corinthians vai dar o pênalti para o time paulista e fez outros pré julgamentos perigosos.

Paulo Rogério é um homem sério, conhece de futebol como poucos que se dignificam participar da direção de um clube. Da sua competência de gestão ninguém precisa duvidar – tem formação nas melhores faculdades do mundo, logo, tem preparo pouco visto em presidentes de clubes no Brasil. Mas não completou um ano como presidente ainda, ou seja, é noviço no cargo. Daqui um ano não dará uma entrevista tão desastrosa como esta. Vai ver que blindar técnico e jogadores em momentos de derrota evitando que eles enfrentem perguntas dos jornalistas não é producente, como é completamente contra producente jogar nas costas da arbitragem a responsabilidade por uma derrota provocada pela comissão técnica e os jogadores que entraram em campo.

A entrevista foi finalizada com o presidente anunciando que vai tirar 90 dias de descanso e viajar para o exterior. Depois do que ouvi ele dizer, acho a medida necessária. Tanta coisa sem nexo, dita em uma pancada só, por um gênio como o Paulo Rogério, só pode ser fruto do cansaço.

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