Um trabalho com drones e modelagem 3D promete agora auxiliar a recuperação de florestas no Brasil. Até então, órgãos como o Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima, secretarias ambientais, entre outros, usam a tecnologia para fiscalizações de desmatamento e queimadas. No entanto, o novo projeto mais rápido e capaz de enriquecer os tradicionais, de autoria do engenheiro florestal e pesquisador, Rafael Walter de Albuquerque, quer ir além.

O aplicativo e o método desenvolvidos na pesquisa poderão ser utilizados gratuitamente por profissionais com pouco treinamento. Para isso, o trabalhador precisa seguir o guia, que será lançado em livro até o final do primeiro semestre de 2023 pelo Pacto pela Restauração da Mata Atlântica em parceria com a Aliança pela Restauração na Amazônia.

“Nós acreditamos que esse trabalho vai ajudar o País, porque muitos profissionais, universidades e empresas precisam consultar como se faz o uso de drones e de imagens de satélite para monitorar a restauração florestal na Amazônia e na Mata Atlântica, e esse conhecimento estava muito pulverizado”, justifica o engenheiro, que coordenou o grupo de especialistas responsável.

O drone

Utilizando um drone considerado de baixo custo, o Rafael Albuquerque coletou imagens processadas em um software de modelagem tridimensional. Além disso, ele trabalhou em um algoritmo de aprendizado de máquina para identificar, por ora, duas espécies de árvores que são importantes indicadores da qualidade das florestas: lacre e embaúba.

“Para cada espécie, precisa ser feito um trabalho científico robusto. Como são centenas de espécies nos dosséis [coberturas das árvores], serão centenas de milhares de trabalhos a serem feitos”, explica.

(Pesquisador Rafael Walter de Albuquerque | Foto: Arquivo pessoal)

A pedido de ecólogos, considerou-se estudar primeiramente essas duas, por uma indicar que a floresta está saudável e outra indicar que está comprometida.

O dossel é a camada superior das árvores que forma uma cobertura sobre a mata quando as copas das árvores se tocam. Depois que ele se forma, algumas espécies crescem verticalmente em busca de luz solar. O mapeamento dessas informações é um desafio técnico, mas Rafael Albuquerque afirma que o drone desempenha muito bem essa atividade.

Embora a fotogrametria aérea e a matemática utilizada já existissem há décadas, os drones e a capacidade de processamento dos computadores atuais aceleram e barateiam o procedimento.

A restauração de áreas florestais é uma tarefa essencial para preservar a biodiversidade e melhorar a qualidade de vida na região, garantindo, por exemplo, a qualidade das águas consumidas nas cidades. É nesse sentido que o Código Florestal Brasileiro (Lei 12.651/2012) exige que os produtores agrícolas façam a conservação ambiental e, eventualmente, a restauração florestal da mata danificada pela ação humana.

A criação do trabalho

Rafael Albuquerque criou o trabalho durante seu doutorado no Instituto de Energia e Ambiente (IEE) da Universidade de São Paulo (USP). O pesquisador desenvolveu o projeto no Laboratório de Análise e Modelagem Espacial (SPAMLab) da USP. Além disso, teve a colaboração do Laboratório de Processamento de Imagens e Geoprocessamento (Lapig), da Universidade Federal de Goiás (UFG).

O pesquisador explica que tanto a criação de projetos de restauração florestal pelos profissionais contratados por agricultores quanto a avaliação pelos órgãos de fiscalização é uma tarefa árdua: “As florestas foram um produto de evolução de bilhões de anos, então restaurá-las é no mínimo uma tarefa complexa. O desafio é grande porque o Brasil é um país predominantemente tropical e as florestas tropicais têm uma biodiversidade muito maior do que uma floresta da zona temperada.”

Os drones equipados com câmeras conseguem capturar fotos de alta resolução espacial. Trabalhadas com os recursos apropriados, essas imagens geram dados precisos sobre a vegetação. Agora, através do método desenvolvido, será viável medir com precisão o crescimento horizontal da vegetação, como a área desmatada e a cobertura do dossel, e o crescimento vertical, como a densidade e a altura das árvores. É possível inclusive calcular a quantidade de árvores e, consequentemente, a quantidade de biomassa, o que possibilita seu monitoramento ao longo do tempo.

Tecnologia

Profissionais já usam a tecnologia de mapeamento 3D criar modelos digitais precisos de edifícios, paisagens e até mesmo de pessoas. Os objetos são fotografados em ângulos diversos. Dessas diversas imagens de duas dimensões são marcados os pontos de correspondência entre as imagens. Elas são transformados em uma nuvem de pontos digital tridimensional colorida. Outra vantagem do método é que ele não se baseia em pedaços amostrais da floresta. Mas, em toda a área monitorada e de forma mais veloz.

Trata-se de uma tecnologia acessível também para o poder público. Muitos órgãos de fiscalização já possuem drones e os levantamentos mais tradicionais são dispendiosos. Ainda que não seja possível abrir mão de determinados dados coletados com trabalho de campo convencional, o novo método promove transparência. Além disso, é acessível e não exige grandes investimentos em treinamento, tornando a metodologia mais democrática.

*Com informações de Ivan Conterno do Jornal da USP

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