Na última semana, o presidente do Brasil, Jair Bolsonaro, pareceu ter mudado o tom do discurso. Em pronunciamento na terça-feira (23), em cadeia nacional de rádio e TV, Bolsonaro afirmou que sempre se preocupou com vacinação e que fez o possível para garantir doses para os brasileiros. Na manhã seguinte, criou um comitê de enfrentamento à Covid, com outras autoridades, como presidentes da Câmara e do Senado, Arthur Lira e Rodrigo Pacheco, respectivamente.

Em entrevista à Sagres 730, o deputado federal Vitor Hugo, líder do PSL na câmara dos deputados, afirmou que o Palácio do Planalto, com o presidente à frente das ações, deve sim fazer uma reavaliação de rumo. “Em termo de atuação, discurso, composição da equipe. Não só porque o parlamento está falando, não é uma pressão do parlamento, é porque, no fundo, o parlamento reflete aquilo que lhe chega, é uma representação popular”.

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A tentativa de mudança ocorre no pior momento da pandemia no Brasil, que registrou recordes de óbitos, em dias seguidos, causados pela Covid-19. Além disso, o avanço lento da imunização e a eminência da falta de insumos para que as pessoas possam ser tradas nas UTIs fizeram subir a pressão sobre a presidência da República.

Essa não é a primeira vez que Jair Bolsonaro tenta mudar o tom. Em outras oportunidades, o presidente mostrou um início de alteração, mas retornou ao discurso mais difundido durante a pandemia, com críticas ao isolamento social e o apoio a remédios sem eficácia comprovada no tratamento da doença.

O discurso do presidente da Câmara dos deputados, Arthur Lira, em que o parlamentar usou termos como “tudo tem limite”, “estou apertando o sinal amarelo” e “que os remédios políticos são conhecidos e amargos”, causou surpresa em Vitor Hugo e nos deputados da Casa. “É um toque do Lira, público, poderia ser no privado, para dizer, ‘olha, existem coisas que na percepção da maioria dos deputados poderiam ser aperfeiçoadas’”.

Porém, Vitor Hugo afirmou que conversou com Lira e que o discurso foi direcionado a todas as autoridades. “Ele fez questão de dizer que o foco dele não era o presidente da República e depois quando você lê o texto e não tira só os fragmentos, você vê que ele está se referindo a todas as autoridades”.

O deputado ainda contou que há uma coordenação de esforços e que os próximos projetos da Câmara serão todos voltados para o combate à pandemia.

Ministro das Relações Exteriores

Uma das questões que tem chamado a atenção é a política externa brasileira, principalmente em relação aos Estados Unidos e a China, tradicionais parceiros do Brasil. Alguns senadores pediram que o Ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, renunciasse ao cargo, porque acreditam que o ministro tem falhado na conversa com outros países, na busca por vacinas.

Vitor Hugo disse que é difícil falar sobre decisões, exclusivas do presidente, como uma possível exoneração de Ernesto Araújo, mas afirmou que o ministro cumpre um papel dentro do governo. “Por causa da questão ideológica que é também um aspecto importante, foi um aspecto importante da eleição do presidente Bolsonaro. Ernesto se identifica e se comunica muito bem com essa parcela do eleitorado do presidente, que valoriza muito essas questões ideológicas e isso deve estar sendo considerado pelo presidente, pelo Palácio do Planalto, para a tomada de decisão”

Aquisição de vacinas

O deputado do PSL afirmou que acredita que Bolsonaro nunca negou a importância das vacinas. Segundo Vitor Hugo, o presidente tinha apenas “algumas restrições e desconfiança a algumas vacinas de origens diversas”.

A Coronavac, vacina produzida no Instituto Butantan, em São Paulo, e pela fabricante chinesa Sinovac, já foi chamada por Bolsonaro de “vachina” e o presidente chegou a comemorar a paralisação das pesquisas em determinado momento.

A vacina da Pfizer/Biontech foi oferecida ao Brasil em agosto de 2020, mas o País recusou o imunizante, em função do contrato, que isenta os laboratórios de responsabilidade em casos de reações adversas. As propostas feitas pela empresa previam a distribuição de até 70 milhões de doses até junho de 2021. No último dia 19 de março, o mesmo contrato foi aceito para a aquisição do imunizante, com previsão de entrega de 100 milhões de doses até dezembro.

Segundo Vitor Hugo, o contrato da Pfizer não dispunha de maneiras para que as pessoas entrassem com ação no Brasil, em caso de reação adversa, mas que uma mudança feita pela Câmara possibilitou a compra. “Nós aprovamos e discutimos propostas internamente na Câmara para trazer essa responsabilidade para o estado brasileiro. Então, que a União seja responsável para pagar, para cobrir eventuais danos”, encerrou.