Felipe Terra, professor do Instituto de Química da Universidade Federal de Goiás (IQ-UFG) e atualmente ocupando o cargo de pró-reitor de Pós-Graduação, faz parte de um grupo de pesquisadores da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) dedicado ao desenvolvimento da vacina Calixcoca.

Esta vacina, ainda em fase de testes, estimula o sistema imunológico a produzir anticorpos que se ligam à cocaína na corrente sanguínea. Esse processo resulta na ampliação da molécula de cocaína, impedindo-a de alcançar o sistema nervoso central, onde a molécula de cocaína isolada pode desencadear a dependência. Esse projeto recebeu destaque na segunda edição do “Prêmio Euro Inovação na Saúde,” e a equipe foi premiada com 500 mil euros (aproximadamente R$ 2,6 milhões).

Felipe Terra concentra sua pesquisa na área da Cristalografia, com foco na determinação da estrutura de derivados da cocaína em nível atômico. Especificamente, ele está empenhado em entender a estrutura da vacina, que envolve o calixareno ligado à cocaína. O calixareno permanece em fase de estudos. A Cristalografia é uma técnica experimental que vai além da análise superficial de cristais e é capaz de identificar, em nível atômico, os átomos que constituem essas moléculas em seu estado sólido.

Os calixarenos são moléculas policíclicas compostas por unidades fenólicas que podem se ligar a outras moléculas. Sua estrutura molecular se assemelha a uma coroa, permitindo a fixação de outras moléculas que determinam sua funcionalidade. Antígenos propostos, como V4N2 e V8N2, baseados em calixarenos, são descritos em um artigo publicado no Journal of Advanced Research.

Ideia

O conceito por trás da Calixcoca sempre foi unir moléculas de cocaína ou seus derivados a essa estrutura de coroa, o calixareno. Isso gera uma macromolécula maior que, quando injetada no organismo humano, atua como um epítopo, estimulando o sistema imunológico a reconhecer a molécula nessa configuração, uma vez que a cocaína isolada é muito pequena para esse reconhecimento.

“Então, o sistema imunológico começa a produzir anticorpos específicos que se encaixam, no modelo chave-fechadura, a essa macromolécula que, por ter o desenho molecular da cocaína na superfície da coroa superior, terá a forma molecular da cocaína e poderá se ligar à cocaína livre presente no sangue do indivíduo que fez uso da droga. Dessa forma, não haverá cocaína livre na corrente sanguínea para se ligar aos receptores que poderiam desencadear a dependência química da cocaína e todos seus efeitos deletérios”, ressaltou. 

Recentemente, a UFG recebeu amostras da Calixcoca para realizar a análise da estrutura da vacina em nível atômico. “Embora ainda não tenhamos conseguido determinar a estrutura cristalina da vacina, já pudemos determinar a estrutura de derivados da cocaína que eram produzidos na rota sintética da calixcoca. Embora a identificação e a caracterização da vacina tenha sido feita por outras técnicas, como a Espectrometria de massas, e não pela cristalografia, os nossos avanços foram importantes para definir as estratégias de síntese e alcançar a vacina”, afirmou Felipe.

Procad

Essa colaboração entre a UFG e a UFMG começou em 2013, por meio do Programa Nacional de Cooperação Acadêmica (Procad) da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), envolvendo quatro instituições: Universidade Federal de Viçosa (UFV), Universidade Federal de Alagoas (Ufal), UFG e UFMG.

O projeto, liderado pelo professor Ângelo de Fátima do Departamento de Química da UFMG, concentra-se nos estudos químicos relacionados à Calixcoca.

Em 2015, os professores Ângelo e Felipe apresentaram uma proposta de bolsa de pós-doutorado à Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Goiás (Fapeg) para permitir que o professor do IQ se concentrasse na caracterização estrutural de diversos calixarenos sintetizados e produzidos no laboratório coordenado pelo professor Ângelo.

“Isso mostra a importância de projetos interinstitucionais com recursos públicos federais, como foi esse Procad”, finaliza Felipe.

*Este conteúdo está alinhado aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), na Agenda 2030 da Organização das Nações Unidas (ONU). ODS 03 – Saúde e Bem Estar

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