As mulheres são a maioria da população brasileira e estão a caminho de se tornarem maioria entre estudantes. No entanto, ainda são minoria na área científica. Segundo a UNESCO, apenas 30% dos cientistas são mulheres, e esse número é ainda menor em cargos de liderança na produção científica. Na América Latina, por exemplo, de acordo com a entidade, apenas 18% dos reitores de universidades são mulheres.

Essa desigualdade tem diversas causas, incluindo fatores culturais, familiares e discriminatórios. As mulheres ainda enfrentam preconceitos e barreiras para seguir carreiras científicas. Um exemplo disso é a falta de políticas de igualdade de gênero nas instituições que produzem conhecimento. Muitas vezes, as mulheres têm menos oportunidades de financiamento, reconhecimento e promoção.

Por isso, projetos que incentivam a inserção e o desenvolvimento de meninas e mulheres são muito necessários.

Pensando em incentivar e gerar um local seguro, onde as meninas possam aprender e se interessar por diversas áreas, que um projeto desenvolvido pelo Instituto Federal de Goiás (IFG) tem aproximado meninas da ciência e da robótica.

O “Steam4Girls” realiza momentos com temas relacionados à matemática, artes, tecnologia, ciências e engenharia.  

Origem 

O professor de engenharia Carlos Silveira explica que o projeto “Steam4Girls: aprendizagem criativa para o estímulo de meninas cientistas”, surgiu em em 2019, após um estudo onde a equipe percebeu que existem poucos movimentos que incentivam a robótica para as meninas.

“Nós percebemos que os alunos tomavam conta do computador, daquele jeito que a gente já conhece: brigando, gritando, comportamento que é bem diferente do jeito das meninas. Quando só havia as meninas na sala, a equipe era bem diferente. Elas tinham mais  concentração, foco e faziam a tarefa para alcançar o objetivo. Daí pensamos em ter um lugar só para elas e gerar esse espaço onde elas possam se desenvolver ”, explica.

Visão das alunas sobre o Steam4Girls

A estudante Lana Santos, de 19 anos, conta que ela se interessa por tecnologia desde o ensino fundamental. A menina explica que conheceu o projeto quando estava no 9° ano e isso fez com que ela gostasse ainda mais da área. 

“Eu já tinha um certo interesse na área. E poder ver na prática como funciona várias questões da robótica e as competições foi muito bom e me fez saber que quero continuar aprendendo e levar isso para a minha graduação”, explica a estudante. 

A estudante Júlia Vieira Pontes, de 20 anos de idade, cursa Engenharia de Controle e Automação. Segundo a jovem, o projeto Steam4Girls é muito importante e foi decisivo para que ela tivesse a chance de entender que gosta de ciências e tecnologia.

“Aprendi mais tanto sobre a robótica quanto sobre a área de impressão 3D. O projeto me deu as ferramentas e abriu as portas que eu nunca imaginaria encontrar antes de passar pelo IFG”, ressaltou.

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Incentivo 

A professora Thamise Vilela explica que as principais dificuldades que as alunas demonstram no projeto tem relação direta com a falta de incentivo na infância.

“As maiores dificuldades aparecem no início; É ter noção da parte de robótica e de programação, de entender como se faz um código para fazer o carrinho andar, por exemplo. Então, a dificuldade de ter essa visão que é mais fácil para o homem, já que eles estão no dia a dia do videogame, de ver algumas coisas em inglês. Por isso, eles têm essa facilidade de ter uma visão lógica para fazer os códigos”, pontua a professora.

Segundo a professora é muito importante incentivar áreas diferentes, tanto para os meninos quanto para as meninas, pois as pessoas podem se encontrar nas mais diversas profissões. 

“Os meninos podem querer trabalhar na cozinha e a menina trabalhar em uma construtora. O problema é quando os pais colocam restrições e limitam as mulheres apenas a brincar com bonecas e casinha. É necessário incentivar desde a infância para que elas entendam que também têm essa oportunidade de trabalhar com tecnologia”, explica.

Para a Lana, aquela velha história de que existe profissão de homem e de mulher está muito errada. Segundo ela, ainda há um pensamento coletivo que tenta ditar onde é o lugar de mulher, mas que elas estão aqui para mostrar que têm a mesma capacidade dos meninos.

“Na verdade, a gente vê que muitas vezes as meninas têm uma organização maior e isso traz muitos benefícios durante os processos e no resultado final”, diz. 

 Representatividade feminina

Outro ponto bem interessante, é que o projeto leva representatividade feminina para as alunas. Assim, promovem a inclusão, a igualdade e a diversidade. Além disso, essa ação tem um impacto significativo na autoestima, na identidade e na autoaceitação delas, permitindo que se sintam validadas e representadas.

A estudante, Lana, afirma que ter mulheres em quem se inspirar é fundamental, porque geralmente as figuras de poder são masculinas.

“A gente vê os super-heróis, por exemplo, os meninos tem o Superman e o Homem-aranha enquanto as meninas ficavam se perguntando quem nos representa. Agora nos mostraram grandes mulheres em destaque e é muito bom porque você pensa que um dia pode ser você lá, eu também posso, finaliza.

O tema é alinhado ao Objetivo de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da Organização das Nações Unidas (ONU), ODS 5 – Igualdade de Gênero e 10- Redução das Desigualdades.

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