Até que idade pode-se dizer que um jogo de videogame pode ser considerado retrô? Se estamos no Playstation 5 e o game é de Playstation 3, acho que a resposta pode ser um “quase sim”. Essa classificação pode ser atribuída a Puppeteer, game lançado em setembro de 2013, mas que segue atemporal, seja pela história cativante ou pela diversão, que pode ser aproveitada tanto por crianças quanto por adultos.

Em um mundo predominantemente dominado por aventuras com cenário e exploração 3D, Puppeteer aposta em uma fórmula já usada, de plataforma 2D, mas com profundidade nos cenários e com mudanças de gameplay que tornam a jogatina uma experiência perfeita.

História

Em uma noite, somos apresentados a Kutaro, um jovem que foi transformado em marionete e raptado pelo Rei Urso da Lua. Ao chegar no castelo do tirano, que fica no satélite natural da Terra, ele tem sua cabeça de marionete devorada por ele. Mas calma, logo você consegue uma nova para repor a perdida, e, nesse contexto, você descobre que pode acumular 3 cabeças e elas são suas “vidas” dentro das fases.

Nesse meio tempo, você percorre o interior do castelo e encontra uma bruxa que  te informa sobre uma lendária tesoura chamada Cálibrus, que está aprisionada pelo Rei. Puppeteer faz uso de elementos da “Jornada do Herói” e, nesse sentido, Kutaro consegue roubar a tesoura mágica, libertar Pikarina, filha do Sol, e fugir do castelo.

A aventura se dá por atos (por se tratar de Teatro) e é toda sobre cortar com a tesoura. Você deve cortar em diversos contextos: para subir, descer, derrotar os chefes (generais) mandados pelo Rei Urso da Lua e muitas outras situações. É imprescindível derrotar esses chefes e generais, pois eles possuem almas de crianças raptadas em seus interiores e, estes últimos, pedaços da Pedra da Lua, material capaz de restabelecer a paz e ajudar na derrota do governante vigente.

Experiência

Não há um parafuso solto ou trocado de lugar quando o assunto é a localização e dublagem: ela é melhor que já ouvi em um game de Playstation 3. Toda a organização lembra um relógio, que, apesar da complexidade interna, funciona harmonicamente. Kutaro, mesmo sendo protagonista, não diz nada durante toda a aventura. O narrador, dublado por Carlos Campanille, traz humor e ironia na medida certa, como um verdadeiro contador de histórias deve ser, sem errar no tom.

“Zeca” Rodrigues consegue fazer o Rei Urso vestir bem a persona de um autoritário que, no fundo é mimado e cheio de medos. Denise de Cássia faz a Bruxa da Lua ser uma personagem querida, que, às vezes, nos faz duvidar se ela realmente está do nosso lado por um interesse genuíno na causa ou se pretende nos enganar quando estivermos no ápice da jornada.   

A sensação de se estar em um teatro é completa, o cenário muda e os sons de reação da plateia complementam a gameplay, o narrador é, por vezes, coagido a mudar sua perspectiva sobre algum assunto espinhoso para o vilão. E a trilha sonora costura tudo, por assim dizer, de forma fantástica, delineando a situação e aumentando a carga dramática sempre que necessário.

Realidade

Coexistem diversas simbologias e referências a culturas do mundo real dentro do game, uma delas é a cabeça do Lutador, um dos grandes heróis que lutaram contra a tirania e não resistiram. Ele é uma clara referência à cultura de ringues e lutadores mexicanos, tanto que a conquista dessa cabeça se dá em um cenário que é repleto de referências ao México.

Outra cabeça que traz referências do mundo real é a de Ninja, que se alia ao estágio que traz elementos da cultura Asiática, com as lanternas japonesas com as magatamas ( vírgulas que são tradição desde o período Jōmon) desenhadas. Além do chefe do estágio ser literalmente um Torii (portal Japonês). Todo esse apreço pelo Japão tem um motivo, afinal a desenvolvedora, Japan Studio, é de lá.

A cabeça do Cavaleiro nos lembra imediatamente da Europa medieval, além de que a do Pirata também nos lembra a época das grandes navegações. Por fim, a cultura é um elemento essencial, além da referência, com tom discreto de denúncia, da situação do tráfico infantil, que o game trata de forma leve para que as crianças se atentem e os adultos se lembrem de que o mundo ainda não é perfeito. De toda forma, Puppeteer entretém e conscientiza sobre diversos outros temas durante a jornada. 

Nota: 5 / 5 ⭐⭐⭐⭐⭐

Plataforma: Playstation 3

*Este conteúdo está alinhado aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), da Agenda 2030 da Organização das Nações Unidas (ONU). Nesta matéria, se destaca: ODS 16 – Paz, Justiça e Instituições Eficazes.

Leia Mais