A poluição, comum nesta época de tempo seco, provoca prejuízos ao Meio Ambiente e à Saúde das pessoas. Doenças respiratórias aparecem com mais facilidade. As queimadas associadas com a falta de chuva ainda ajudam a piorar a situação. A elevação da concentração de poluentes pode aumentar em 50% o risco cardíaco de pessoas com alguma vulnerabilidade. Além do coração fazer mais esforço, os poluentes do ar promovem uma irritação no pulmão. Assista à reportagem a seguir

As queimadas acabam levando fumaça, com partículas em suspensão, para dentro das cidades e que se somam à poluição já provocada pela queima de combustíveis fósseis. Somente nos quatro primeiros meses de 2022, foram registadas 790 ocorrências de incêndios em vegetação em Goiás, o que representa um aumento 26% em relação ao mesmo período do ano passado. Em abril, quando começa a estiagem, foi o período que mais houve registros de incêndio: 558 no total.

Todo ano, no período de seca, é um verdadeiro sofrimento para a auxiliar de atividades educativas Thaynara Lindria, que sofre com rinite alérgica desde criança. “Esse tempo me afeta bastante porque meu nariz entope e eu fico com a garganta seca. A maior dificuldade é durante a noite porque tento dormir e meu nariz está entupido, fico com falta de ar e dor de cabeça. Parece gripe, mas você sente que é uma rinite alérgica”, relata Lindria.

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Incêndio no Jardim Botânico (Foto: Nivea Ramos/Sagres Online)

Nessa época, Thaynara intensifica o uso de cremes para pele e hidratante labial. Isso porque as mudanças das temperaturas, associadas à baixa umidade e a qualidade do ar classificada como inadequada, ressacam a pele e proporcionam maior incidência de doenças respiratórias como gripes e resfriados, além de agravar problemas crônicos como a asma, rinites e pneumonia.

O médico infectologista Marcelo Daher explica que o corpo humano se comporta de maneira diferente quando entra no tempo de estiagem e que o ambiente é propício para a transmissão de doenças virais.

“O tempo seco e a baixa umidade do ar faz com que nossas vias aéreas sofram. Nós temos as chamadas “células ciliadas” que trabalham produzindo o muco e movimentando para expelir esse muco. Quando estamos nesse clima, a transmissão de doenças respiratórias fica mais fácil”, aponta o médico.

Marcelo Daher destaca ainda outro motivo que favorece a transmissão de doenças: “Quando no ambiente mais frio, a tendência é manter os ambientes mais fechados, o que diminui a circulação de ar e aumenta a transmissão também”, relata o médico.

Poluição

Se depositada nesse ambiente seco, a poluição do ar, proveniente da queima de combustíveis dos veículos, da fumaça produzida pelas indústrias e principalmente pelos incêndios, há uma agressão ainda maior no trato respiratório, o que pode provocar tosses e espirros. Esses fatores também estão associados ao aumento da transmissão de doenças, e facilitam a entrada de vírus e bactérias no corpo humano.

Há 14 anos, a cuidadora Doraci Alves convive com o mal cheiro oriundo de fábricas de plástico em frente à casa dela, em Goiânia. Todos os dias, Doraci e o marido acordam de madrugada e não conseguem voltar a dormir por conta do incômodo. “Aqui em casa a gente nem dorme a noite com tanta catinga. Dói a garganta, dói a cabeça. A gente já foi ao Ministério Público (MP-GO), aos órgãos de meio ambiente e eles não fazem nada”, declara Doraci.

A cuidadora conta que, para fugir da situação, iniciou uma reforma na residência para, assim que for concluída, se mudar para outro local. “Eu lutei mais de 30 anos para construir esse sobrado. Pensei que fosse ficar até o resto da minha vida. Vou ter que vender por causa dessa fábrica, porque não aguentamos mais”, lamenta.

Foto: Norberto Salomão

Queimadas

De acordo com especialistas, a queimada da vegetação é o maior vilão da qualidade do ar. A incidência de incêndios aumenta no período de estiagem, quando está mais propício para que o fogo se alastrar mais rapidamente.

O professor e engenheiro ambiental, Antônio Pasqualetto, afirma que a prática da queima de lixo no fundo de quintal ou em propriedades rurais, é uma forma de fazer uma limpeza no terreno. Embora de baixo custo, a prática provoca sérias consequências ambientais e para saúde.

“Quando se realiza uma queimada, estamos jogando material particulado na atmosfera, que são poluentes como o CO2 (gás carbônico) no final da combustão, como também está retirando da vegetação. Essa vegetação realizaria a fotossíntese e faria a captura do CO2 na atmosfera”, explica Antônio Pasqualetto.

O professor acrescenta que esse chamado material particulado está em uma dimensão pequena, passa pelas narinas e chega a atingir o pulmão. Somente esse fator já é suficiente para causar uma gama de doenças respiratórias e cardíacas – parada cardiorrespiratória e até neurológicos (AVC).

Os incêndios em vegetações que começam de forma natural são comuns, principalmente, no Cerrado. O bioma necessita de altas temperaturas para que as sementes saiam do estado de dormência. No entanto, conforme o tenente Ailton Araújo, do Corpo de Bombeiros de Goiás (CBMGO), 90% das queimadas são provocadas por ação humana.

“As pessoas colocam para limpar o seu lote porque acham que é o mais barato. Mas entre as consequências está o prejuízo à qualidade do ar. Isso traz danos à saúde, sobretudo das pessoas mais vulneráveis, como crianças e idosos e aquelas que têm problemas respiratórios”, argumenta.

Paisagem linda, mas poluída

O Instituto Federal de Goiás (IFG) detectou no ar do Estado de Goiás a presença de elementos químicos como Cálcio, Alumínio, Estrôncio, Magnésio, Ferro, Sódio, Zinco, Manganês e Bário, todos acima dos limites indicados pela Organização Mundial da Saúde (OMS).

No tempo de estiagem, é comum ver um cenário lindo durante o nascer e o pôr do sol. O céu fica avermelhado e as nuvens dispersas. No entanto, isso é um mal sinal. Esse fenômeno se chama Smog fotoquímico, que nada mais é do que reações químicas de diversas substâncias poluentes. Quando elas são emanadas na atmosfera, produzem novos poluentes nocivos à saúde.

Qual seria a solução? Chuva! Mas a previsão é de que o retorno do período chuvoso aconteça apenas a partir da segunda quinzena de outubro. “A chuva ajudaria na limpeza da atmosfera na medida que, ao ocorrer a precipitação, esses poluentes seriam depositados no solo e o ar ficaria mais limpo”, reforça Pasqualetto.

Mas durante esse período de seca, somado às queimadas, informa o professor, a queima de combustíveis fósseis e os processos industriais fazem com que a atmosfera fique sobrecarregada com os poluentes. “Quando chega o mês antes das chuvas, a condição do ar já está tão ruim que passa a aumentar a demanda nos serviços de saúde”, reitera.

Enquanto a chuva não chega, é fundamental que a população se conscientize em relação ao prejuízo ao meio ambiente e à saúde que as queimadas intencionais provocam. No caso das indústrias, é necessário tomar medidas mais sustentáveis para diminuam a emissão de gazes, em especial de CO2.

Intensificar a hidratação e manter a carteira de vacinação atualizada são formas de prevenir doenças. “Nessa época muito seca, as pessoas devem prestar atenção na hidratação, especialmente os extremos de idade, como crianças e idosos. Tomar água e hidratar a pele”, declara o professor. Sobre a imunização, vacinas contra Covid-19 e gripe são essenciais. “Esses são imunizantes importantes, principalmente nesta época em que há maior transmissão de doenças respiratórias”, conclui doutor Marcelo Daher.

Repense

Para obter medidas mais eficazes para melhorar a qualidade do ar é preciso, inicialmente, ir a campo, colher dados e fazer análises. No próximo episódio do Repense vamos conferir como funcionam os sistemas de monitoramento da qualidade do ar na reportagem de Rafael Rodrigues.

Esta reportagem integra a série Repense Consumo desenvolvida pelo Sistema Sagres de Comunicação com o apoio da Fundação Pró Cerrado. Ao longo de 12 episódios vamos aprofundar sobre temas relativos à sustentabilidade, produção e consumo, que estão conectados ao Objetivo de Desenvolvimento Sustentável (ODS) 13 da Organização das Nações Unidas (ONU), que é “Ação Contra a Mudança Global do Clima”.

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