Um estudo recém-lançado pela Unicef, em parceria com o Instituto Claro e produzido pela Cenpec Educação, mostrou um aumento do abandono escolar entre 2019 e 2020 no Brasil. Em outubro do ano passado, 3,8% das crianças e adolescentes de 6 a 17 anos não freqüentavam mais a escola, o que representa 1 milhão 380 mil jovens. Em 2019, essa taxa era de 2%.

Em entrevista à Sagres 730, a ex-secretária de Educação de Goiás, a professora Raquel Teixeira destacou as mudanças no exercício profissional dos professores que tiveram que se adaptar às aulas online.

“Mudou tudo. Ficou muito claro que o papel do professor não é fornecer aulas, ele não é só um transmissor de aulas, ele passa a ser um mediador do processo de aprendizagem. Na verdade tudo isso já vinha acontecendo antes, quando trabalhamos a reforma do ensino médio, quando falávamos em tecnologia já estava em curso uma mudança no próprio papel do professor pelo o mundo em que nós vivemos hoje. Pelos conhecimentos científicos que nós temos, de memória, de cognição, pelo mundo laboral e social. Então, isso já estava em formatação, mas a pandemia acelerou”, afirmou.

Para Raquel Teixeira o maior benefício da pandemia para os professores foi “acabar com o medo da tecnologia”. Ela salientou que “a tecnologia se tornou um grande aliado do professor no processo de aprendizagem, esse é um legado indiscutível”.

Ouça a íntegra da entrevista:

Hoje na direção da escola de formação de professores de São Paulo, a ex-secretária de Educação de Goiás falou sobre os prejuízos que a ausência de aulas presencias podem causar aos estudantes. O Brasil é um dos países que está a mais tempo sem aulas presenciais.

“É um desastre, por mais que a tecnologia tenha sido um enriquecimento para as nossas aulas, a aula presencial é indiscutivelmente o melhor processo de educação, principalmente na educação básica (…). O efeito mais visível até agora é a evasão absurda. O Brasil sempre teve evasão alta, mas agora é muito maior. Os impactos são muito grandes nas áreas pedagógica, emocional e social”, declarou.

De acordo com Raquel Teixeira, estudos mostram que há uma perda de 4 anos em termos pedagógicos. Além disso, os casos de depressão infantil, abusos, estupros de vulneráveis e violência doméstica tem crescido e essas situações são consequência da paralização das escolas. A ex-secretária frisou que quanto mais tempo a criança fica longe da sala aula, mais difícil é ela voltar, o estudante “perde os vínculos”.

A Secretaria de Educação informou que 30 mil alunos não confirmaram as matrículas em Goiás, ou seja, muitos estudantes não devem abandonar a escola. Raquel Teixeira defendeu o retorno das aulas presenciais com os devidos cuidados.

“A escola é uma dos lugares mais controlados que você pode ter. São Paulo voltou a ter aulas presenciais nos dia 8 de fevereiro e estava fazendo atividades extra curriculares desde de setembro. A escola é uma espaço completamente controlado, você usa máscara, faz distanciamento social, usa álcool gel, lavar as mãos toda hora, medir a temperatura, é um espaço muito mais controlado do que uma igreja, uma praia, um bar ou um ônibus. Então não tem sentido”, argumentou.

Em Goiás os professores já se manifestaram afirmando que só voltam a ministrar aulas presencialmente quando forem imunizados contra a Covid-19. Raquel Teixeira ressaltou que as crianças têm baixas taxas de transmissibilidade e contaminação, além de apresentarem sintomas leves quando são contaminadas.

No entanto, ela reconheceu que o ideal seria que todos os professores serem vacinados antes do retorno às salas de aula, mas disse que o prejuízo para a educação no Brasil é muito grande. “Eu entendo as inseguranças, mas temos que nos dar conta que depois de um ano são gerações perdidas”, frisou.

Educação pós-pandemia

Com quase um ano sem aulas presencias nas escolas públicas de Goiás, a grade curricular dos estudantes está prejudicada. Questionada sobre como as escolas deverão se organizar para reverter esse atraso no conteúdo, quando as aulas presenciais voltarem. Raquel Teixeira disse que será necessário priorizar os conteúdos considerados “essenciais” para o desenvolvimento dos alunos.

“É utópico achar que o currículo de 2020 e de 2021 serão cumpridos integralmente. Temos que trabalhar com a ideia de um ciclo de 2020/2021, fazer uma escolha pedagógica das habilidades essenciais estruturantes, sem as quais o aluno não consegue progredir no seu processo de aprendizagem. Trabalhar essas habilidades estruturantes do currículo, propor metodologias ativas que ajudem o estudante a vivenciar e aprender e, fazer formação de professores com avaliação formativa durante o processo”, explicou.

Outro ponto abordado pela ex-secretária de educação de Goiás é o retorno das aulas presenciais nas escolas particulares, enquanto as escolas públicas seguem fechadas.

“Esse a grande dor que eu tenho, as escolas públicas estão se distanciando das escolas privadas e é exatamente a criança de nível socioeconômico mais baixo, as crianças mais vulneráveis, que estão na escola pública que merecem e tem o direito de ter o nosso apoio para que essa defasagem, essa desigualdades não continue a crescer”, finalizou.