No mês passado, a Santa Casa de Misericórdia de Goiânia paralisou alguns atendimentos eletivos por um dia para chamar a atenção para a grave crise financeira enfrentada pelo hospital. Nesta quarta-feira (18), o hospital apresentou a prestação de contas. Em entrevista à Sagres, a superintendente Irani Ribeiro diz que a unidade de saúde já vem, há alguns anos, enfrentando dificuldades financeiras, que o valor gasto para a compra de insumos e medicamentos é muito maior do que a receita, e que o déficit mensal está em aproximadamente R$ 4 milhões. Assista a partir de 29′

”Precisaria entre R$ 7 milhões e R$ 8 milhões [em recursos] para que fosse tudo realizado. Com R$ 8 milhões nós teríamos condição de atender melhor, uma condição de estar comprando mais o que precisa, de aumentar leitos, para que a população tivesse esse aumento de atendimento”, expõe.

De acordo com a superintendente, a dívida do hospital chegou a estar em R$ 110 milhões. Irani Ribeiro afirma que esse valor já foi reduzido a menos da metade, e que hoje gira em torno de R$ 52 milhões.

Uma das fontes de recursos da Santa Casa é um convênio firmado com o Governo do Estado, de cerca de R$ 2 milhões por mês. No entanto, segundo Irani, o trâmite é burocrático até a chegada da verba para o hospital.

”Estamos pedindo que a sociedade civil organizada possa nos ajudar, pedindo aos parlamentares que continuem os ajudando, e pedimos aos governantes que também nos ajudem nesse processo. O SUS é tripartite, governo federal, estadual e municipal”, afirma.

Irani Ribeiro relata que já se reuniu com o prefeito Rogério Cruz, e pediu ajuda para envio de mais recursos ao hospital. A Sagres entrou em contato com a Prefeitura, e aguarda retorno sobre este assunto. O espaço está aberto.

Irani Ribeiro no Sagres Sinal Aberto II desta terça-feira (18) (Foto: Sagres TV)

Piso para enfermeiros

Uma das preocupações é o PL 2564/20, aprovado pelo Congresso Nacional, e que institui o piso salarial para enfermagem. O presidente Jair Bolsonaro disse que pretende sancionar o projeto, mas o deputado Arthur Lira (PP-AL), que preside a Câmara, decidiu segurar o envio da matéria para sanção até que haja definição da fonte de financiamento do piso da categoria.

”Temos uma entrada de mais ou menos R$ 4,5 milhões por mês. A nossa folha de pagamento, de recursos humanos, juntamente com assessorias, fica em torno de R$ 1,8 milhão. Daí a nossa grande preocupação do PL 2564, desse aumento das enfermeiras, das técnicas de enfermagem. Nós concordamos, elas merecem, toda equipe da saúde merece ganhar bem, porque não é fácil fazer esses atendimentos, dar o melhor para o paciente. Mas o problema é que não temos esse recurso para pagar, e a preocupação é muito grande”, reforça.

O PL do piso da enfermagem estabelece o valor base de R$ 4.750 para o salário de enfermeiros do setor público e privado. O texto prevê salário mínimo de R$ 3.325 para técnicos de enfermagem e de R$ 2.375 para auxiliares de enfermagem e parteiras. Além de entidades privadas, a matéria enfrenta resistência de prefeitos, que alegam um impacto de R$ 5,7 bilhões ao ano, conforme relatório do grupo de trabalho que analisou o projeto.

Endividamento

Em todo o país, de acordo com a Confederação das Santas Casas, Hospitais e Entidades Filantrópicas – CMB, 752 das instituições filantrópicas contrataram operações de créditos com a garantia dos recebíveis do SUS. São R$ 10 bilhões em empréstimos, o que implica em uma parcela mensal de R$ 115 milhões. Somando outras operações financeiras, o passivo com fornecedores e outros estão estimados, no total, em um endividamento na ordem de R$ 20 bilhões.

Nos últimos seis anos, 315 hospitais filantrópicos no Brasil fecharam suas portas ou deixaram de atender ao SUS.