Pessoas diagnosticadas com o novo coronavírus e que apresentam sequelas da doença, a chamada covid longa, podem se confundir com os sintomas. Isso porque, conforme médicos, as manifestações são semelhantes a outras doenças e muitas vezes o paciente não procura um profissional.

A fisioterapeuta Lívia Pimenta Bonifácio explica que a covid longa pode antecipar a chegada de outras condições pré-existentes | Foto: Arquivo pessoal

De acordo com a fisioterapeuta Lívia Pimenta Bonifácio, pesquisadora e pós-doutora em Saúde Pública pela Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP) da USP, a covid longa não necessariamente tem a capacidade de mascarar outras doenças. Entretanto, ela pode antecipar a chegada de condições pré-existentes.

“Se o paciente poderia ter uma propensão, futuramente, a ter algum problema cardiovascular e é acometido pela covid-19, todo o processo virulento, a patogenicidade viral e todo o mecanismo de danos endoteliais e microvasculares que a sars-cov-2 oferece acabam antecipando um problema que poderia aparecer muito tardiamente ou nem aparecer”, afirma em entrevista a Hugo Luque do Jornal da USP.

Fadiga com interferência na vida diária, dores de cabeça e no peito. Além disso, febre, tosse persistente e dificuldades para respirar são sintomas da covid longa. Nesse sentido, o paciente confunde esses indícios facilmente, por exemplo, com a própria covid aguda, o que torna a intervenção médica essencial.

“A gente não sabe se, antes de ser acometido pela covid, ele já estava investigando algum outro problema de saúde ou apresentava outros sinais, tanto em relação à parte cardiovascular como em relação à perda de memória. Temos que tomar cuidado para não generalizar. O que a gente percebeu no pós-covid é que os sintomas mais longos, que permanecem e são apresentados mais tardiamente, são os relacionados à parte cardiovascular, à parte oftalmológica e neurológica”, destaca Lívia.

Covid longa

O infectologista Fernando Bellíssimo Rodrigues, professor da FMRP, definiu a covid longa, ou síndrome pós-covid, como “a persistência de sintomas variados, nos mais diversos sistemas, por mais de três meses após a infecção aguda pela covid. Sintomas esses que não estavam presentes antes da infecção”.

O infectologista Fernando Bellissimo Rodrigues relaciona a covid longa com a fase aguda da doença | Foto: Reprodução/Fapesp

Um estudo da Fiocruz Minas afirma que metade das pessoas diagnosticadas com a covid-19 apresenta sequelas que podem perdurar por mais de um ano. O estudo acompanhou 646 pacientes, dos quais 324 desenvolveram a covid longa. Além disso, a revista Transactions of The Royal Society of Tropical Medicine and Hygiene também publicou a pesquisa.

Vale ressaltar que não existe um teste específico para identificar a covid longa, como na forma aguda da doença. Apesar disso, a Organização Pan-Americana da Saúde (Opas) detectou que, em média, de 10% a 20% de pessoas com covid-19 apresentam, posteriormente, sintomas da síndrome pós-covid.

Fernando Bellíssimo Rodrigues explica que a causa da covid longa está relacionada à presença de sintomas na fase aguda e à vacinação. Sendo assim, com relação à imunização, a afirmação do infectologista pode significar uma queda na ocorrência da síndrome pós-covid com o avanço da aplicação das doses.

“Nós vimos muito mais covid longa lá atrás, após a primeira e a segunda ondas, do que estamos vendo agora. Mas é sabido que um percentual significativo das pessoas não vacinadas que tiveram covid sintomática vão desenvolver sintomas prolongados”, conclui o professor.

*Esse conteúdo está alinhado com o Objetivo de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU 03 – Saúde e Bem Estar

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