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Os recentes casos de violência contra professores em escolas públicas de Goiás e a insegurança dos docentes foram temas de debate na Sagres 730 neste Super Sábado (28). Desde abril deste ano, pelo menos dois professores foram mortos por alunos de instituições em que trabalhavam. Uma professora de Aparecida de Goiânia, que não quis se identificar por motivos de segurança, relata que vem sofrendo ameaças frequentes por parte de alunos. 

“Todos os dias, em uma ou outra sala, nem é preciso dizer nada, e já sou recebida com palavras do tipo ‘agora é a aula daquela professora chata’. Nessa semana ao solicitar que o aluno não conversasse, este me respondeu ‘você não manda em mim, e não sabe do que sou capaz. É melhor ficar na sua”, relata. 

A Professora e da representante da Secretaria de Estado da Educação de Goiás e do Proseg (Protocolo de Segurança Escolar ) Lucilélia Castro, fala sobre a ação lançada em julho, como medida para identificar os problemas e criar planos de emergência para crises referentes a violência nas unidades de ensino. 

“A secretaria resolveu criar um manual de possibilidades. Um deles é a questão de identificação do problema, especialmente fazendo um contato com todos os interessados. Não é só a escola, não só a comunidade escolar, é toda a comunidade, criando parcerias com todos os envolvidos, que estão ligados, de alguma forma, à ela”, argumenta. 

Assista o debate

A professora da rede municipal de ensino, Edinéia Pereira, pede uma solução urgente para o problema, e diz que o própria estrutura do ambiente escolar público não contribui para o bem estar docente e dos alunos. 

“A gente trabalha em um ambiente insalubre. Sala de aula com tetos caindo, com quadro precisando reformar. Os professores estão fragilizados. Não é à toa que tem um número muito grande de professores saindo de licença por depressão, por pânico”, reclama. 

O presidente do Conselho Estadual de Educação, Marcos Elias, pede maior envolvimento da sociedade com a coisa pública. “Se há violência dentro da escola, é uma violência da sociedade. Para resolver, é preciso envolver a sociedade. Esse aspecto de a gente considerar aquilo que é público no Brasil, e em vez de dizer que é público, dizer que é do governo, é uma cultura terrível, porque é o que não permite, de fato, que nós tenhamos boas escolas, essa infraestrutura tão necessária e tão importante, se constrói quando a sociedade percebe aquele espaço como (sendo) dela”, reflete. 

O Conselheiro no Conselho Estadual dos Direitos da Criança e do Adolescente (ECA), Marcos Pedro da Silva, afirma que crianças e adolescentes é que torna-se vítimas da atual geração. “A crise não é da criança, não é do adolescente, é dessa geração. Ou nós adultos, mais maduros, entendemos isso e abaixamos o nosso ego de lidar com eles, na linguagem deles, tentando assemelhar, ou a gente será fadado ao fracasso”, afirma. “Não é só Educação e o ECA que têm de dar conta. O ECA vem para proteger porque entende que esse adolescente, antes de cometer qualquer coisa, é vítima do processo”, resume. 

De acordo com dados de uma pesquisa feita pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico, sobre violência em escolas com mais de 100 mil professores, o Brasil lidera o ranking de agressões contra docentes. A professora que relatou sofrer ameaças deixa uma reflexão. “Penso que, nessas situações que vivenciamos, são tão complexas, pois envolvem uma questão social familiar. Penso que é necessário um plano direcionado a nós (professores) que previna tais situações que vêm acontecendo nas escolas”, conclui.

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Os convidados Marcos Elias, Edinéia Perreira, Marcos Pedro da Silva e Lucilélia Castro nos estúdios da Sagres 730 (Fotos: Palloma Rabêllo/Sagres On)