Preservar hoje para garantir o amanhã! Essa é uma meta para o homem do campo do século XXI Quando falamos de agricultura sustentável e melhores práticas, o pensamento deve focar na conservação dos recursos naturais. Cuidando da natureza, certamente ela retribuirá em benefícios.

A agricultura sustentávelé capaz de promover o aumento da lucratividade, fornecendo ganhos competitivos para o produtor rural a partir do desenvolvimento tecnológico.

Para Leonardo Machado, coordenador institucional do Instituto para o Fortalecimento da Agropecuária de Goiás (Ifag), ligado a Federação da Agricultura e Pecuária de Goiás (Faeg), praticar a sustentabilidade na agricultura é proteger a biodiversidade, produzir alimentos saudáveis e de boa qualidade, fazer uso de adubos naturais, rotação de culturas, entre outras ações.

“Hoje, toda essa questão de bioinsumos, de insumos naturais, menos agressivos, tem feito parte do contexto da produção, de agregar o sistema de produção normal aos bioinsumos de forma natural, menos agressiva ao meio ambiente e que auxilia o produtor a ter um custo menor”, afirmou

Produzir e preservar são atividades da rotina de produtores como o Matheus Fernandes, o Heider Mandala e o Rogério Vian. A tarefa deles tem sido de aumentar a produtividade, mas sem agredir a natureza; Aumentar a renda, mas levando alimentos mais saudáveis para a mesa dos goianos.

Processo de adubação orgânica. Vídeo: Matheus Fernandes.

Cama de Frango”

Matheus Fernandes planta soja, milho, sorgo e girassol e ainda cria frangos em uma propriedade rural em Rio Verde. Um dos materiais mais usados é a chamada “cama de Frango”.

A “cama de frango” é um material composto principalmente de palha de arroz, serragem, fezes, urina, restos de ração e penas que se misturam, caracterizando um produto de origem animal.

De acordo com Matheus Fernandes, o produto estava à disposição na propriedade e com bastante abundância.

Ele percebeu há alguns anos que o material orgânico poderia ser um fator para melhorar a produtividade da soja, sem gastar com fertilizantes importados, o que poderia aumentar o custo.

O produtor procurou estudar sobre o assunto e em 2018 passou a usar tecnologias para aproveitar o material. Ele trabalha no sistema de compostagem.

A “cama de frango” não pode ser utilizada na alimentação do rebanho e é uma ótima opção de fertilizante para as lavouras, pastagens e hortaliças.

O material tem alto teor de nitrogênio, cálcio, fósforo, potássio, enxofre, zinco e magnésio, este adubo orgânico favorece o crescimento de raízes das plantas e retém os nutrientes disponíveis no solo.

“A cama de frango entrava também no processo de adubação da lavoura, mas como não tínhamos confiança para usar somente ela, não participava do custo de produção, entrava como um plus, algo que ajudaria. Agora não, temos certeza do que estamos fazendo e ela entra como redução de custo, e substitui 100% de adubo que era importado”, afirmou Matheus. Além disso,

A liberação dos agentes químicos é feita de forma gradativa e lenta, nutrindo a planta por longos períodos, além disso, o produtor vai conseguir reduzir os custos. O material ainda pode ser misturado ao chamado “pó de rocha”.

O pó de rocha é um remineralizador e ajuda na recomposição dos minerais, melhorando as condições do solo com menor custo. O elemento é rico em micro e macronutrientes e que estes em mistura no solo alteram os índices de fertilidade.

A aplicação é feita em média 40 dias antes do plantio que o material disponibilize todo o seu potencial para as plantas. As aplicações ocorreram em soja, milho, cana-de-açúcar, reforma de pastagens e produção de silagem para alimentação animal e também podem ser feitas em espécies frutíferas, hortícolas e florestais.

Matheus relatou que a fazenda dele já prepara a comercialização em larga escala do combinado “pó de rocha” e “cama de frango”. Atualmente, o que é produzido é aplicado na própria fazenda e o excedente é vendido para produtores vizinhos.

Segundo o produtor rural, outro benefício com o adubo orgânico é uma maior resistência da planta. Além disso, de acordo com Matheus os elementos são compostos de micro-organismos que levam benefícios ao solo. O produtor explicou que uma molécula orgânica absorve 20 vezes o peso dela em água.

“Quando você começa a adubar o solo com os resíduos orgânicos, a capacidade de retenção de água do solo aumenta, na prática a sua lavoura estará mais pronta para qualquer stress hídrico.

Qualquer veranico, 15, 20 dias sem chuva, sua planta estará mais resistente”, destacou. Outro elemento importante é que o adubo orgânico ajuda a dificultar o ataque de pragas e doenças migratórias.

Processo de adubação orgânica. Vídeo: Matheus Fernandes.

Agrofloresta

Outro manejo sustentável é a chamada Agrofloresta. Os Sistemas Agroflorestais (SAFs) – que reúnem culturas de importância agronômica em consórcio com a floresta.

Álvaro Gonçalo Rodrigues é engenheiro Agrônomo e supervisor da Emater-GO. Para ele, o sistema tem diversos reflexos positivos, entre eles uma integração da mata nativa, com culturas existentes, colaborando para a preservação de espécies extremamente importantes para o equilíbrio ecológico, como as abelhas;

“Hoje devido ao uso de agrotóxicos há problemas enormes quanto a mortalidade de abelhas, há 80 espécies de alimentos que dependem dela para polinização e isso precisa ser preservado. Há um custo elevado com o desastre ambiental a agrofloresta é importante e visando as condições ambientais favoráveis”, avaliou Álvaro.

O técnico conta que o sistema agroflorestal tem sido expandido para diferentes regiões do estado. Um dos pontos que ele tem acompanhado de perto é na região de Anápolis, local da propriedade do Heider Mandala.

Heider é produtor de hortaliças em uma pequena fazenda da família. Lá boa parte da área é de mata virgem e ao longo dos anos, houve o plantio de árvores como: o Eucalipto, o Guanandi, a Mutamba, e o Baru.

O produtor fez cursos técnicos, entre eles no Instituto Federal de Goiás (IFG) e no Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar-Goiás). Heider Mandala afirmou que na agrofloresta intercala espécies de pequeno porte como as hortaliças e outras árvores maiores.

Heider relatou que a agrofloresta proporcionou a ele dois tipos de renda. A primeira relativa a venda de folhagens e outros tipos de hortaliças e a segunda a partir da comercialização das frutas das árvores da agrofloresta e ainda o processamento de bens como plantas medicinais, aromáticas e a própria madeira.

“A agrofloresta é muito mais do que plantar e vender, ela traz com ela uma forma de viver, uma ideologia. Ela vem para recuperar, a proposta é de ajudar de alguma forma o processo de recuperação do planeta, por menor que seja, já é um grande passo. A agrofloresta traz o conceito natural para a agricultura e procurando manter e organizar um dia que foi estragado pelo ser humano”, disse o produtor.

Para Heider na Agrofloresta, harmonia é a palavra-chave para alcançar o equilíbrio. Ele explicou que outro benefício é uma barreira natural, ajudando a evitar que pragas cheguem até a propriedade e possa deixar as plantas susceptíveis a doenças.

“No nosso caso específico, estamos ao lado de uma GO, de uma rodovia, a gente tem que ter todo cuidado. Deixamos o cerrado natural crescer e estamos completando com outras árvores de maior porte para ser uma barreira biológica, impedindo que chegue a fuligem da rodovia, é uma forma de conciliação do natural com o local”, disse.

Soja orgânica

O Agro tem peso importante na economia nacional, ano passado chegou a 26% de participação no Produto Interno Bruto (PIB). Aumentar a produtividade, a renda do produtor e levar alimentos mais saudáveis à mesa do goiano é um desafio.

Para 2021, o Produto Interno Bruto (PIB) do setor agropecuário no estado deve crescer em 4% de acordo com dados da Federação da Agricultura e Pecuária de Goiás (FAEG).

Em meio a importância econômica, a agricultura sustentável é um movimento sem volta e aos poucos, tanto pessoas como empresas vão ter que se adaptar a consumidores preocupados com a qualidade dos seus alimentos.

Uma dessas figuras é o Rogério Vian, presidente do Grupo Associados de Agricultura Sustentável (GAAS). O GAAS é composto por grupos organizados que atuam em 10 estados, com cerca de 2.500 participantes ativos. Desde o seu início, cerca de 3 milhões de hectares foram beneficiados com a adoção de práticas sustentáveis.

Rogério produz soja, além de outros produtos agrícolas. Filho de agricultores, ele nasceu em Barra do Garças, em Mato Grosso, e vive há 40 anos em Mineiros, no sudoeste goiano.

A propriedade dele é próxima ao Parque Nacional das Emas. Lá foi estabelecida uma relação harmônica entre a produção de soja e a natureza.

Rogério deixou de lado a produção convencional, com uso de fertilizantes químicos e agrotóxicos, para uma atividade que conta com apenas produtos biológicos, como microrganismos, feromônios e insetos para o controle de pragas e doenças da lavoura, foi aos poucos.

Produtor Rogério Vian na produção de soja em sua fazenda em Mineiros. Foto: Reprodução Facebook Rogério Vian

O governo federal no ano de 2006 proibiu o plantio de variedades transgênicas e o uso de defensivos químicos num raio de 2 a 10 quilômetros do Parque das Emas. Rogério foi obrigado a adotar práticas sustentáveis, após 28 anos de agricultura convencional.

No entanto, Rogério conta que houve um processo gradativo de transição. “É uma transição, e toda transição precisa ser feita devagar e aprendendo, não é da noite pro dia. Temos que começar devagar. Na minha primeira área comecei com 53 hectares, é importante saber se aquele manejo se adapta a realidade, não é uma agricultura de pacote, de norte a sul do país”, afirmou.

Rogério ainda explicou que um dos elementos para adubação orgânica é a utilização do pó de rocha, e assim foi possível diminuir o custo de produção, gerando renda e produtividade por hectare, reduzindo o risco, se tiver uma seca, praticar um modelo de agricultura que seja mais resiliente. O custo de redução de produção é de 30 a 50%.

Na propriedade dele, foi montada uma Biofábrica onde Rogério reproduz bactérias e microrganismos para serem aplicados na lavoura.

“Vários produtores estão instalando em suas fazendas as biofábricas para produzir a bactéria de forma isolada ou em comunidade, para controle de doenças e pragas, isso é muito comum. Eu multiplico bactérias, fungos para controle de pragas e usamos com controle biológico, em grande parte. Tem vírus, tudo isso com manejo integrado de pragas e doenças, levantamos os perigos os inimigos naturais, fazemos de uma maneira para interferir o mínimo possível da lavoura”, disse Rogério.

Economia

Além do custo de produção, possibilidade de novos ganhos de renda como é o caso do Matheus e do Heider, há ainda outro benefício, que é menor dependência de fatores econômicos internacionais, como produtos cotados em dólar ou atraso nas entregas dos itens.

“O Brasil importa quase a totalidade dos insumos que precisa para agricultura, nitrogênio, fósforo e potássio, a gente importa mais de 80% destes elementos que são importantes na agricultura convencional de larga escala. E tentamos trabalhar com recursos regionais, esterco, compostagem, esterco de frango, peru, cavalo, de grandes confinamentos, usamos pós de rocha para dar mais nutrição as plantas”, afirmou Rogério Vian.

Alimento de qualidade

Para os três produtores rurais citados nesta reportagem, um dos principais objetivos de práticas mais sustentáveis é de produzir alimentos mais ricos, com mais qualidade para a mesa do goiano.

“A minha propriedade hoje é produtora de saúde. Quando usamos diferentes ingredientes orgânicos, a qualidade do grão muda, até o gosto da fruta muda. É um alimento mais completo e que vai proporcionar ao consumidor mais saúde”, afirmou Matheus Fernandes.

Rogério Vian destaca que a produção de alimentos, a partir do plantio com o uso de adubo natural pode favorecer não apenas a planta, mas o produto que chega a casa do consumidor.

“A gente foca muito também na questão nutricional, a gente precisa fornecer alimentos com maior poder nutricional, como você acaba plantando todas as culturas com meia dúzia de nutrientes, há uma limitação para o ser humano, se usa o pó de rocha, há minerais com quase 100 elementos, alimento precisa suplementar o ser humano”, destaca Rogério Vian.