Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostraram um queda da taxa de natalidade no Brasil em 2021. De acordo com o órgão, 2,63 milhões de pessoas nasceram no país, o que representa 1,6% a menos do que no ano anterior. Além disso, os números de 2021 são os menores desde 2003.

Ainda conforme o IBGE, o ano de 2021 também registrou um recorde de mortes, com 1,8 milhão de óbitos. O índice também superou o maior número absoluto e a maior variação percentual desde 1974.

Para o professor do Departamento de Geografia Humana da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo (USP), Fábio Contel, a pandemia e a taxa de fecundidade podem explicar os números.

“Soa um pouco paradoxal, porque ao mesmo tempo tem o aumento das mortes e a diminuição dos nascimentos. Acho que o principal fator para explicar essa diminuição da natalidade é a diminuição da taxa de fecundidade na população brasileira“, destaca.

Taxa de fecundidade

Fábio Contel acredita que a pandemia e a taxa de fecundidade podem explicar o alto número de óbitos e a queda da natalidade no Brasil | Foto: Arquivo Pessoal

A taxa de fecundidade corresponde ao número de filhos vivos nascidos por mulher na idade reprodutiva, isto é, de 20 a 35 anos, aproximadamente. Na verdade, Fábio Contel afirma, em entrevista ao Jornal da USP, que a taxa de fecundidade vem em uma descrescente “significativa” desde a década de 1970 e 1980.

“Na década de 60, por exemplo, essa taxa estava em torno de seis filhos por mulher; na década de 80, eram quatro filhos por mulher; no ano de 2000, essa taxa de fecundidade era de 2,2 e, em 2020, uma média de 1,65 filhos. Nós temos um comportamento demográfico hoje, principalmente nesse quesito de fecundidade, muito semelhante à maior parte dos países ricos. Essa taxa de fecundidade vinha diminuindo já por uma série de fatores estruturais, mas numa temporalidade diferente”, analisa.

Fatores como o acesso ao sistema de saúde e à educação são fundamentais na promoção da transição demográfica e são, em parte, responsabilidade da urbanização.

“É preciso levar a sério essas informações estatísticas que órgãos públicos brasileiros produzem. Elas são ouro para a gente implementar políticas públicas de maneira mais eficiente, de maneira mais ampla. A gente leva muito a sério esses dados, eles são a condição básica, a condição fundamental para a gente implementar políticas de aposentadoria, de saúde, de educação, de moradia. São a condição fundamental para que a gente planeje tudo isso que é tão importante para o povo brasileiro”, pontua.

Mortalidade

Ainda de acordo com o IBGE, para alguns meses de 2021, cerca de metade da população que morreu teve relação direta com a Covid-19, o que pode explicar, por exemplo, o aumento no número de óbitos.

“Na história da geografia da população, pandemias são tidas como eventos de supermortalidade em populações. Então, historicamente, fomes, guerras e epidemias ou pandemias causam transtornos bastante importantes nesses padrões demográficos. No mundo inteiro, as estatísticas mostraram que algo em torno de 15 milhões de pessoas perderam a vida em consequência direta da pandemia. No caso brasileiro, foram registrados quase 700 mil óbitos, é um número extremamente expressivo”, explica.

“Felizmente, com a implementação de medidas sanitárias, como a quarentena e o uso obrigatório de máscaras, além da vacinação, os números diminuíram”, conclui.

*Esse conteúdo está alinhado com o Objetivo de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU 03 – Saúde em Bem Estar

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