Pesquisadores da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) desenvolveram uma tecnologia que utiliza inteligência artificial para antecipar jogadas de futebol. Então, como um bom zagueiro, o software consegue prever se um ataque resultará em algum perigo em zonas com mais probabilidade de sair gols.

O programa de computador se baseia no comportamento dos times, analisa a posição e movimentação dos jogadores, quantidade e qualidade da troca de passes, etc. A tecnologia precisa apenas de cinco segundos para saber se a jogada pode resultar em um ataque perigoso ou não. Se apresentar algum risco, o software indica ao treinador a melhor defesa para parar a jogada.

O trabalho faz parte da dissertação de mestrado do pesquisador Leandro Stival, que teve orientação do professor da Faculdade de Tecnologia (FT) da Unicamp de Limeira (SP), Ulisses Dias. Além disso, a revista científica Plos One, da Public Library of Science, publicou um artigo com base na dissertação.

Vale ressaltar ainda que a pesquisa teve a colaboração dos professores e pesquisadores Allan Pinto, Felipe dos Santos Pinto de Andrade, Paulo Roberto Pereira Santiago, Henrik Biermann e Ricardo da Silva Torres.

Teoria de Grafos

Pesquisador Leandro Stival criou software para ser usado no futebol | Foto: Reprodução/Jornal Unicamp

De acordo com Leandro Stival, ele criou a tecnologia com base na Teoria de Grafos, um estudo de objetos matemáticos que modela diversas aplicações da realidade. O pesquisador combinou com os avanços dos processos de aprendizado de máquina, braço da inteligência artificial que permite sistemas “aprenderem” com dados e decidir com pouca ou nenhuma intervenção huamana.

“Nossas análises tiveram como base o jogo coletivo para disponibilizar ao treinador, ou a alguém da comissão técnica, a possibilidade de olhar para a equipe, ou para a equipe adversária, e saber se precaver no caso de receber ataques perigosos”, explica Leandro Stival.

Além da comissão técnica de um time, o pesquisador também argumenta que as transmissões pela TV podem usar o programa para exibir as melhores defesas possíveis para o ataque.

“Poderia ser mostrado, por exemplo, qual a porcentagem de chance de uma determinada jogada terminar na área inimiga. Seria mais uma forma de interação do torcedor com o jogo”, pontua.

Brasil x Croácia

Quando o Brasil fracassa em uma Copa do Mundo, torcedores criam inúmeras teorias ou sugerem jogadas em que a seleção poderia ter executado. Nesse sentido, para o último Mundial de 2022 do Catar não foi diferente. No ano passado, a Croácia marcou um gol a quatro minutos do fim da prorrogação, levou a disputa para os pênaltis e passou. O programa poderia evitar?

Professor Ulisses Dias orientou a dissertação que desenvolveu um programa para usar no futebol | Foto: Reprodução/Jornal Unicamp

“Dá para acreditar que isso seria possível, sim. Já havia informação suficiente ali [no desenho da jogada] para dizer: olha, tem alguma coisa muito errada aqui; a postura do Brasil irá permitir um contra-ataque”, opina Ulisses Dias.

Entretanto, o professor defende que a tecnologia alerta sobre uma jogada de futebol perigosa, e não adivinha será um gol certo do adversário. “Sabemos se, ao final de uma posse de bola, aquela movimentação vai gerar uma jogada ofensiva. Não estou dizendo, no entanto, que poderemos dizer se isso vai resultar em gol”, ressalta.

Leandro Stival ainda afirma que a comissão técnica de futebol pode utilizar o software em treinamentos táticos, para a equipe entrar em campo sabendo o que esperar. “E, por meio de uma análise mais aprofundada, você consegue identificar padrões de sua equipe ou da equipe adversária”, orienta.

Por enquanto, os pesquisadores desenvolveram a tecnologia a partir de jogos gravados, mas eles querem aplicar em jogadas de futebol ao vivo. “Por enquanto, nossos cálculos são ainda um pouco lentos. Ainda carecemos de poder computacional. Contudo, nosso projeto é fazer isso em tempo real no futuro”, finaliza Ulisses Dias.

*Esse conteúdo está alinhado com o Objetivo de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU 09 – Indústria, Inovação e Infraestrutura

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