O ponto forte do governo Alcides Rodrigues (PP) é a área econômica. As finanças, antes combalidas por conta de uma herança maldita do governo anterior, estão sendo gradualmente recuperadas. Pouco a pouco, o Estado volta a ter perspectiva de desenvolvimento sustentável. O ponto fraco é a política. Do ponto de vista político, o governo Alcides não existe. É um zero à esquerda.

 

O governo que nega estar fazendo política pensando em 2010, por exemplo, tem dois articuladores para a área: Fernando Cunha (PSDB) e Roberto Balestra (PP). A favor da tese de que não faz nem promove o debate político estaria, pode-se até argumentar que o governo tem dois articuladores mas não tem nenhum, já que ambos dão o tom zero à esquerda para as ações políticas que inexistem no governo.

A falta de articulação política é antiga. Mais: está na origem do governo. Um dos principais nomes do PP defende nos bastidores, há tempos, a necessidade de um nome que realmente tenha peso para dialogar com os agentes políticos do Estado. É colocada até na conta dessa falta de um nome político forte a situação de crise gerada na chamada base aliada, com o confronto aberto e fratricida entre PP e PSDB. “Isso só acontece porque o governo não tem ninguém para articular por ele”, pondera a fonte.

No início do governo, Fernando Cunha teve suas funções esvaziadas por ser muito ligado ao senador Marconi Perillo (PSDB). Era preciso dar uma cara alcidista ao governo, dizia-se. Então surgiu Roberto Balestra. Mas Balestra é um secretário sem pasta desde o início. Não tem estrutura. Nem voz. Nos bastidores é recorrentemente desautorizado. É geral a avaliação de que ele não fala pelo governador. E o próprio governador vira e mexe trata de deixar isso claro, embora em conversas reservadas.

Homens do governo
Além deles, acredita-se que falam politicamente pelo governo o secretário de Infraestrutura, Sérgio Caiado, o secretário geral do PP, Sérgio Lucas, e o presidente da Metrobus, Francisco Gedda. E o que eles dizem? De concreto, nada. Dentro do PP, são na verdade os principais alimentadores da guerra deflagrada contra o PSDB. Funcionam como contraponto à altura de Carlos Alberto Leréia, Daniel Goulart e Sérgio Cardoso, no PSDB. Uma turma do barulho.

Politicamente, os articuladores do governo Alcides, ou anti-articuladores, criaram uma crise interna e agora estão sendo engolidos por ela. De tanta esperteza, estão sendo devorados por ela, a esperteza. Isso porque a situação hoje do PP é a de um partido sem lastro forte nas bases do interior e com três alternativas concretas:

 

1.
aliar-se ao PMDB, o que geraria uma outra crise, essa histórica, com aqueles que por décadas têm os peemedebistas como inimigos figadais;
2. voltar ao braços do PSDB, em forma de rendição, dando por perdida uma guerra que, se não começou, alimentou com caviar e champanhe;
3. desintegrar-se de vez.

 

Mas e Henrique Meirelles, como fica nessa história?

A grande jogada política do PP nos últimos tempos foi assumir Henrique Meirelles como seu sonho de consumo e sua salvação. Sua candidatura ao governo foi lançada e incensada com convicção e dentro de visão de jogada genial, por colocar o governador Alcides Rodrigues de volta ao debate político, ele que estava escanteado pela ação estratégica de Marconi Perillo e Iris Rezende (PMDB), que não falam de outra coisa senão do confronto final entre dois como forma justamente de não abrir espaço para um terceiro nome.

O governador está só

De fato, a estratégia pepista funcionou. Mas funcionou contra, também. Colocou o PSDB em alerta e o fez antecipar a campanha e os contra-ataques ao governador, que virou “traidor” na boca de Leréia e “ingrato” na propaganda subliminar tucana na TV e no rádio. No que funcionou a favor, a estratégia do PP motivou Meirelles a se apresentar como possível candidato. E ele fez sua parte, de um lado dando corda às especulações, de outro, ajudando o governo a resolver problemas concretos, como a recuperação da Celg. Ocorre que Meirelles, ao mesmo tempo, avisou: topa ser candidato, está fazendo a sua parte, mas para isso o PP e o governador terão de fazer a parte deles.

A parte do PP e do governador é dar visibilidade ao governo, melhorando sua imagem, e criando uma estrutura partidária firme, para dar conta do embate com Marconi e Iris, se for o caso. Sobre esses dois pontos, o que foi feito até agora? Nada. O governo deu visibilidade há duas semanas a uma agenda positiva que ficou resumida ao lançamento de asfalto para cidades (Paci) e ao anúncio da salvação próxima para a Celg. Não há, além disso, qualquer trabalho de imagem sendo conduzido dentro do governo, de forma a dar um rumo a um governo que não o tem desde o início.

Se antes os governistas eram só entusiasmo com a candidatura de Meirelles, hoje o que impera é a desconfiança. Por uma razão simples. Menos por conta da falta de uma admissão oficial de Meirelles sobre uma candidatura (o que, naturalmente, pelo cargo que exerce no comando do Banco Central, não vai acontecer), e mais por conta da falta de segurança em relação ao atual governo sobre a decisão de verdadeiramente investir na candidatura dele contra Iris e Marconi.

Henrique Meirelles: sem defesa consistente entre os Alcidistas

A visão de dentro do governo é a de que Alcides bravateia a candidatura de Meirelles, mas nada faz para que ela se concretize. O resultado é um governo com auxiliares acovardados, que nem defendem Meirelles nem o governador. No fundo, nada fazem porque, mais que a fé num fortalecimento do governo e na candidatura de Meirelles, prevalece cada vez mais o medo da volta de Marconi Perillo ao governo.

Goiás em tempos de guerra
Eis alguns pontos do embate na política em Goiás. Até agora, os alcidistas acham que estão ganhando, os marconistas não têm dúvida de que estão na frente e os peemedebistas entendem que Deus proverá a Iris o que Iris acredita ser dele e do PMDB.

(Texto publicado no Jornal Tribuna do Planalto. Clique aquí e veja outras notícias de política)