O termo apropriação cultural está cada vez mais presente em debates nas redes sociais. As discussões envolvendo a expressão geralmente estão relacionadas ao racismo, identidade e cultura e causam controvérsia sobre o que é ou não apropriação cultural.

A professora e pós-doutora em pragmática intercultural, Maristela dos Reis Sathler Gripp, explica que o termo surgiu na década de 60 com uma conotação diferente do que é atualmente.

“Surgiu com o filósofo francês, Pierre Bourdieu. Ele tratava a expressão com aspectos relacionados à arte e a literatura no sentido de se apropriar de certos elementos da arte para criar arte. O termo não era utilizado no sentido que é dado hoje, de tirar um bem cultural de um determinado grupo”.

Hoje, a apropriação cultural ocorre quando um indivíduo pertencente a uma cultura adota determinados elementos de uma outra, da qual ele não faz parte, oferecendo um novo significado.

“Quando se fala em apropriação cultural estamos falando de uma questão que envolve elementos de determinado grupo social. Um grupo que geralmente é marginalizado e que tem suas produções culturais vistas de maneira negativa, às vezes até pejorativa” explica.

Esses elementos podem ser de diferentes naturezas, como por exemplo: roupas, penteados, símbolos religiosos, tradições, danças, músicas e comportamentos.

Tranças

As tranças existem há mais de três mil anos e sua história está atrelada à cultura africana. É um penteado usado por algumas tribos da África para diferenciar a origem da tribo, a idade e classe social.

“Uma pessoa negra que tem o cabelo todo trançado é olhada de maneira estranha. No trabalho, geralmente pedem para não usar, dizem que tem aparência de sujo. Há um imaginário social atrelado ao uso do cabelo trançado pela pessoa negra que desqualifica o indivíduo. Por outro lado, quando uma pessoa branca se apropria de uma estética negra, ela é valorizada”.

Maristela afirma que um dos aspectos da apropriação é a utilização de algum elemento sem interesse em conhecer e aprender com os usos e costumes da cultura.

“Nós adotamos as tranças de uma cultura africana e isso tem um valor ancestral para as culturas negras. Há uma história por trás. Quando os negros chegaram ao Brasil escravizados com os cabelos trançados, isso foi importante porque ali eles escondiam ouro para comprar a liberdade depois”, conta.

Dar crédito

Maristela ressalta que conhecer a origem da coisas pode ser um caminho respeitoso com as outras culturas.

“Antes de utilizar algum adereço de uma cultura da qual você não faz parte é importante buscar conhecer a origem. Valorizamos muito uma cultura quando falamos de onde ela vem. É a história que nos fortalece como grupo social. Só valorizamos aquilo que conhecemos”.

A especialista em pragmática intercultural, explica que sem nenhum tipo de referência ou crédito, esses elementos são tratados como algo meramente estético ou lúdico.

“Estamos um mundo globalizado onde as culturas se cruzam. Mas é preciso dar crédito a quem de fato trouxe isso para nossa cultura. Por trás desses elementos há uma história que não está sendo discutida. Não é apenas a questão estética, mas o importante é dar crédito a quem de fato produz essa cultura e a dissemina na sociedade”, finaliza.

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