Você já ouviu falar na crise dos dois anos, também chamada de adolescência infantil? A jornalista Pollyanna Silva, tem vivenciado isso nas últimas semanas com o filho Eduardo, de 1 ano e 9 meses.

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“Ele chora do nada, grita, pega as coisas e joga no chão, e repete muito a palavra ‘não’, que acredito que não entenda muito o que significa”, afirma.

Pollyanna tem razão. Nessa fase de mudanças de comportamento e de assimilação, os pequenos realmente ainda não sabem exatamente o que significa ouvir um ‘não’ toda hora, e por isso resolvem insistir em fazer exatamente o contrário.

Pollyanna com o filho Eduardo (Foto: Arquivo pessoal)

Também jornalista, a Gabriela Amaral enfrenta situação parecida com a filha Rafaella, de 2 anos, principalmente na presença de outras crianças. “Falar ‘é meu’ ou ‘eu quero’ e chorar quando tem uma negativa”, afirma. “Esses ‘momentos de crise’ acontecem mais em momentos onde ela está com outras criança e há aquela disputa do ‘é meu’”, complementa.

A crise dos dois anos

É exatamente nessa fase que a criança passa a verbalizar aquilo que deseja (ou não). E é aí que podem começar os conflitos entre pais e filhos, por isso pode ser considerada uma espécie de “adolescência do bebê”.

“Isso se dá também porque a criança começa a se identificar, a se sentir mais capaz também para fazer essas negativas, principalmente em situações em que ela se vê contrariadas, frustrada. Então o ‘não’ se torna uma palavrinha muito recorrente”, explica a psicóloga Maria Júlia Oliveira.

Para muitas famílias, a primeira mudança é notar que o bebê dócil, carinhoso, que faz caretas irresistíveis, passa a fazer as chamadas ‘birras’, gritos e choros incessantes. “Sempre usei muito a verbalização com ele para tudo”, conta Pollyanna.

“Geralmente quando acontece, tentamos acalmá-la, fazer com que ela pare de chorar e então explicamos a situação. Ela costuma reagir bem”, diz Gabriela, que também recorre ao diálogo para esse momento de orientação.

Maria Júlia Oliveira afirma que esse, o da crise dos dois anos, é um dos períodos mais importantes da vida da criança. “É um período de reorganização psíquica, social, cognitiva. É um processo em que a criança está deixando o que ela já sabe para aprender novas funções, novos processos, adquirir novas aprendizagens”, enumera.

Ouça a entrevista a seguir

Quanto tempo dura?

A psicóloga explica que os pais ou adultos responsáveis tornam-se os mediadores dessas crises, e é a maneira como essa mediação acontece que pode definir quanto tempo esse período. De acordo com Maria Júlia, o acolhimento e o diálogo são o melhor caminho.

“Se a gente intervém da mesma forma que a criança, ninguém ali está aprendendo nada, o processo não se desenvolve. Acredito que o adulto não pode reagir como a criança”, reforça.

Busca por ajuda

Assim como para os pequenos é tudo muito novo e, às vezes, confuso, para os pais, especialmente os de primeira viagem, a dúvida pode se transformar em medo ou insegurança sobre o que fazer para mediar a situação.

Maria Júlia ressalta a importância do acolhimento e da paciência nos momentos de crise, pois são atitudes que a criança também vai assimilar com o tempo, e que pedir ajuda pode ser a melhor saída.   

“Pode ser muito novo para esses pais a forma como tudo está acontecendo. Então é não deixar de pedir ajuda. Que seja por outros pais que passem por essa situação, que seja da escola, que seja de um profissional da psicologia, mas jamais deixar de pedir ajuda. É abraçar, acolher as necessidades da criança e entender que é um período de desenvolvimento, não vai acontecer por todo o tempo”, conclui.

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