OPINIÃO CLÉBER FERREIRA
A chegada de Eduardo Batista para assumir o comando técnico do Atlético, em substituição a Jorginho, demitido após a derrota para o Goiás, no sábado, 27 de agosto nos remete a refletir mais uma vez sobre aquela parábolas, já muitas vezes abordadas por comentaristas e palestrantes de diversas áreas, sobre a verdade e a mentira.
“Após convencida pela Mentira a dar um passeio juntas, a Verdade saiu em companhia do seu antônimo numa longa caminhada. Muitas horas andando e as duas chegaram a uma fonte. A Mentira passa a mão na água e convida a Verdade para um banho refrescante. Estafada com o calor da caminhada, ela topa. Nuas ambas se atiram no poço.
Num descuido da Virtude, a Mentira salta fora, se veste com a roupa da Verdade e sai em disparada. Ao notar o que se passava a Verdade sai da fonte e sem querer vestir a roupa da Mentira, nua, corre pela cidade para tentar alcançar sua enganadora, mas não consegue. Vendo que sua nudez chocou as pessoas, a Verdade volta para a fonte e mergulha outra vez nas suas águas. A partir deste dia muitos passaram conviver com Mentira vestida de Verdade, ou tiveram que aceitar a Verdade nua, ainda que isto lhe provoque algum choque moral”.
Jorginho foi demitido porque não conseguiu resultados à frente do time do Atlético. A responsabilidade caiu sobre suas costas e isto é uma mentira vestida de verdade. A verdade nua é que a diretoria do Atlético, sobretudo o presidente/diretor de futebol Ádson Batista errou muito no planejamento e na execução da montagem do elenco rubro-negro para a temporada 2022. Não foi levanda em consideração que o Dragão disputaria paralelamente três competições de nível elevado: Campeonato Brasileiro da Série A, Copa do Brasil e Copa Sul-americana.
No primeiro momento o elenco montado tinha poucas peças e a sequências de jogos basicamente a cada três dias, com viagens longas entre um e outro estafou os atletas que em vários jogos entraram em campo sem condições físicas para exercer a profissão. Cabe aqui um adendo: como nas Copas há premiação em dinheiro para o clube que vai passando de fase, o Atlético pode pagar vultuosas premiações e se existe uma coisa que faz jogador jogar muito é premiação alta. Assim o Dragão foi passando de fase nas duas Copas e tropeçando no Brasileiro. Chegou a fase quartas de final na Copa do Brasil, sendo eliminado pelo Corinthians e vai disputar com o São Paulo a vaga para a final, na Copa Sul-americana.
Time bom, mas elenco reduzido. Foi assim que sobrevivendo nas Copas e naufragando no Brasileiro o clube trocou de técnico por três vezes. Antes de Jorginho estiveram à frente do Atlético Clube Goianiense: Marcelo Cabo e Umberto Louzer.
A esperança para a organização da casa era a janela de julho. Ela chegou e o Atlético trouxe jogadores comuns, inexperientes e alguns de nível técnico muito baixo, anunciados pelo presidente Adson Batista como reforços. Para dizer que todos não podem serem adjetivados assim, Willian Maranhão a rigor é o único que pode ser chamado de reforço. Os demais compõem o elenco, uns três com mais maturidade darão conta de jogar uma Série A no futuro e parte dos contratados nem para compor elenco serve.
A qualidade ruim das contratações, obrigou o treinador continuar conviver com a falta de peças. Para se ter noção desta verdade, se o único centroavante do elenco, o argentino Diego Churin não pode jogar é preciso improvisar algum jogador na posição e as duas peças possíveis, Luiz Fernando e Welington Rato não tem sequer porte físico para a função. Falta opções para zaga, laterais e ataque, ou seja, o técnico não tem soluções ideais para nenhum dos setores.
No jogo fatídico, diante do Goiás Jorginho tentou uma escalação. Quando viu, aos 18 minutos do primeiro tempo já perdia por dois a zero. Fez três alterações, colocando em campo os atletas apresentados pelo diretor de futebol/presidente como reforços e teve de tirar dois dos que entraram no primeiro tempo, para refazer o time mais uma vez – os reforços Édson Fernando e Kelvin não reforçaram – entraram no meio do primeiro tempo e saíram no meio do segundo, ambos sem jogar nada. Ninguém pode falar que ele se negou a usar os reforços, mas….eles não reforçam, a exemplo da maioria dos que foram contratados na janela de julho.
A história escrita por Jorginho é página virada. A caneta agora está nas mãos de Eduardo Batista, que nem vou avaliar a competência. O que me compete agora é lembrar que a caneta mudou de mão, mas o papel e a tinta são os mesmos: mesmo elenco, falta de opção e qualidade para reposição na hora de fazer alterações, com o Atlético em penúltimo lugar, na zona de rebaixamento para a Série B. Mesmo não estando mais na Copa do Brasil, o Dragão ainda está na Sul-americana e não pode nem pensar em cair de divisão no Brasileiro.
Tomara que as contusões e suspensões por cartões sejam poucas e que os adversários tenham mais problemas do que o Atlético.
Esta é a verdade nua dos fatos.