(Foto: internet/divulgação)

Estreou essa semana o filme “A primeira noite de crime” (2018), o quarto da franquia “The Purge”, idealizada por James DeMonaco. Chegamos a comentar sobre ele no último Cinemateca (27/09/2018). E veio num momento muito oportuno, já que coloca uma espécie de espelho diante de todos nós, com nossos grupos de WhatsApp, nossa postagens no Facebook, nossa guerra de memes e todo o ódio destilado em época eleitoral.

A premissa da franquia é simples: a partir de 2022, os Estados Unidos vêem os índices de violência e criminalidade despencarem após a adoção de uma política simples, mas polêmica: o Dia do Expurgo. Nesse dia, durante 12 horas, todas as leis são suspensas, bem como os serviços de emergência. É cada um por si, numa espécie de retorno à condição primitiva do homem, e todo mundo pode colocar para fora o que de pior existe em si. Ou aproveitar para resolver problemas pessoas de forma não convencional – se é que você me entende.

O primeiro filme da franquia, “Uma noite de crime” (2013), mostrava as consequências do Dia do Expurgo em um nível pessoal, na residência de James Sandin, um empresário bem sucedido. No segundo, “Uma noite de crime 2: Anarquia” (2014), nossos olhos se voltavam para os reflexos da ação governamental em uma cidade inteira. No terceiro, “12 horas para sobreviver: o ano da eleição”(2016), o desafio foi mostrar o impacto dessa política de suspensão de leis em todo o país.

Agora, os olhos voltam-se para o início de tudo. Como é que o famigerado Dia do Expurgo começou? Quem o idealizou? Como surgiu? O filme tenta trazer essas respostas.

Ficamos sabendo na tela que, antes de virar medida de política pública oficial, a noite do expurgo foi um experimento social conduzido pelo governo em Staten Island, uma ilha próxima a Manhattan, em Nova Iorque.

É inevitável compararmos o que vemos na tela com o que temos presenciado aqui do lado de fora. Pessoas querendo engolir umas às outras por causa da diferença de opinião ou da falta de consenso com os meios para se alcançar um objetivo único: a felicidade e o desenvolvimento do país. O ódio alimentado (sem expurgo) pela corrida presidencial.

A eleição deixou todo mundo dividido, e eu aposto um milhão de reais que o desejo de muitos é a implantação plena e irrestrita do Dia do Expurgo aqui no Brasil também. Candidatos, inclusive! (eu diria que o filme é da famosa corrente filosófica “A ilusão do mito”). Já pensou o caos? Adicionar e excluir pessoas nas redes sociais, por motivos políticos, virou a coisa mais comum! Imagine se alguém autorizasse isso na vida real.

Para quem gostou dos filmes anteriores da franquia, esse é um capítulo que mantém o ritmo, apesar de ter deixado uma parte dos fãs decepcionada com a ausência de um terror mais pungente. Isso, em parte, graças à mudança de direção, que saiu das mãos de DeMonaco e foi para Gerard McMurrya. Mas demonstra que ainda há fôlego de sobra para novos capítulos. A receita é boa!

A produção fica a cargo da Blumhouse Productions, responsável por obras como a franquia “Atividade Paranormal” e “Sobrenatural”, e filmes elogiados como “Corra!” (2017), “Fragmentado”(2017) e o ainda inédito “BlacKkKlansman” (2018), de Spike Lee. Assista e tente se enxergar no caos.