Os casos de violência nas escolas aumentaram com a retomada das aulas presenciais. Em algumas unidades de saúde, o aumento chega a 50%, principalmente em escolas públicas. Os principais fatores para esse aumento podem ser questões sociais como estresse, sobrecarga, crises de ansiedade, intolerância e depressão.

Em entrevista à Sagres, a psicóloga Nádia Santana, avaliou que muitos casos dessa violência estão relacionados com a vivência durante a pandemia.  

“Essa restrição que nós tivemos do contato social, teve consequências pros nossos adolescentes, pras nossas crianças, a gente precisa de convivência social para se desenvolver. A maneira como a gente se relaciona, isso falando de maneira presencial, interfere na nossa qualidade de vida, na nossa saúde emocional. A gente teve muitos prejuízos com essa questão de ficar isolados”, afirmou Santana.

A profissional da saúde mental ressaltou que as crianças e os adolescentes perderam os relacionamentos pessoais numa fase muito importante da vida, ligada ao desenvolvimento da própria identidade.

“É quando eles estão construindo a identidade deles de uma maneira diferenciada, a identidade é construída desde quando a criança nasce, desde os primeiros anos, mas neste momento é uma consolidação e onde essas relações são muito importantes”, considerou Nádia.

Além dos prejuízos nas relações pessoais e na construção da própria identidade, a psicóloga Nádia Santana, alertou para as relações virtuais.

“O relacionamento virtual existe, ele é importante, ele atuou muito como um complemento num momento difícil de se relacionar amplamente de maneira presencial. Só que ele traz um modelo de relação que é totalmente diferente, você pode falar o que quiser sobre as outras pessoas, contido do julgamento, da intolerância, e ao mesmo tempo você está escondido, você está por trás de uma câmera, você não tem um conflito real”, observou.

Nádia Santana analisa que o comportamento virtual foi levado para as relações presenciais e que isso também contribui para essa violência. A psicóloga avalia ainda que as questões emocionais foram intensificadas com o isolamento social. 

“A pandemia ampliou muito os conflitos psicológicos, quem já era ansioso ampliou a ansiedade, quem tinha tendência a depressão, ampliou a questão da depressão, então, isso teve uma interferência direta na nossa saúde emocional e as pessoas estão meio em ebulição, precisam ser cuidadas, precisam de apoio nesse momento”, destacou.

Questionada sobre o lado positivo das redes sociais e da possibilidade de manter as relações mesmo a distância, Nádia Santana destacou que viver virtualmente foi fundamental, tanto para os adolescentes, quanto para as crianças e os idosos. A relação entre o virtual e a violência que aumentou nas escolas, segundo a psicóloga, se trata de comportamento, muitos advindos do período da pandemia. 

“O comportamento do agressivo não nasce do nada e não aparece simplesmente por conta disso, mas o que se possibilitou de conflitos nesse tempo, tanto na saúde emocional quanto aprendizado de comportamentos que validam, nas redes sociais é validado, está sendo validade esse comportamento sincero, sincero agressivo, julgador, intolerante. Então de alguma maneira receberam validação como se isso fosse normal. Então acredito sim que proporcionou atitudes agressivas mesmo em quem não manifestaria se não tivesse essas condições”, finalizou.

Confira a entrevista a partir de 02:49

Leia mais: