Apesar dos pesares, todos os líderes estavam aqui

Nesta última semana, mais precisamente na terça-feira (30), o Brasil sediou o encontro entre os 12 líderes nacionais da América do Sul. A única exceção foi a presidente do Peru, Dina Boluarte, impedida de vir por conta da situação política delicada vivida pelo país após a deposição do ex-presidente Pedro Castillo. Alberto Otárola, presidente do Conselho de Ministros do Peru, representou Dina na reunião.

Para se ter uma ideia, esse é o primeiro encontro presencial entre os líderes nacionais da região desde dezembro de 2014, no Equador. Se pegarmos a última vez que o Brasil sediou a cúpula, voltamos ainda mais no tempo, para junho do mesmo ano. Na época, Dilma Rousseff entrava nos últimos seis meses de seu primeiro mandato. Aécio Neves era o maior expoente da oposição. Jair Bolsonaro ainda não tinha toda a sua relevância política atual. E o 7 a 1 contra a Alemanha na Copa de 2014 ainda era um fantasma extremamente recente dos brasileiros.

Nesses últimos nove anos, a América do Sul observou uma mudança drástica nas relações, muito pelas divergências ideológicas dos governos nacionais. A Unasul (União de Nações Sul-Americana) perdeu consideravelmente a sua força, principalmente após a falta de consenso na escolha do Secretário-Geral da Organização, em 2018. Isso culminou com saída gradual de vários representantes como Colômbia, Equador, Argentina, Brasil, Chile, Paraguai e Uruguai.

Como foi o encontro

Apesar de ainda ser um tabu e não ser citada diretamente no encontro desta última semana, a ideia do Presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, é incentivar o retorno da Unasul e suas pautas. A reunião ainda teve um momento forte de turbulência após as falas do líder brasileiro, que afirmou que os relatos de autoritarismo e violações dos direitos humanos na Venezuela, de Nicolas Maduro, não passam de uma “narrativa”.

Obviamente, em um período de reconexões, as falas de Lula foram encaradas de maneira negativa por vários presidentes, entre eles Gabriel Boric, do Chile, e Luis Lacalle Pou, do Uruguai. Ambos se disseram surpresos e condenaram o regime venezuelano. Alguns especialistas de geopolítica apontam que essas discussões geram consequências nas políticas externas do Brasil daqui pra frente, uma vez que o país poderá ser visto com um aliado da Venezuela.

É importante pontuarmos também que a cúpula pode render bons frutos em uma possível nova união da América do Sul. Mesmo simbólico e sem medidas concretas, o encontro marcou a assinatura por todos os participantes do chamado “Consenso de Brasília”. O documento estabelece o compromisso do continente com a democracia e direitos humanos. Existe também uma promessa dos líderes nacionais de ampliar a integração da região.

Próximos passos

Pegando por uma visão mais ampla, também é importante ressaltarmos que, para o Brasil, e para a América do Sul de maneira geral, a reaproximação é uma medida necessária. Em um mundo que foi separado por visões políticas e ideológicas distintas, a diplomacia é essencial para a criação de um continente forte, que luta por pautas de interesse similar. A união, no fim das contas, é sempre o melhor caminho no mundo da política internacional.

É chover no molhado também afirmar que temos um pepino gigantesco para descascar. A problemática entorno da Venezuela pode e deve ser um grande impeditivo para essa possível reaproximação da região.

Falando do Brasil, a iniciativa de incentivar encontros, debates e abertura de diálogos é um acerto. Ter canal aberto com todos os países e uma diplomacia forte sempre foi uma marca registrada brasileira. A verdade é que, atualmente, os líderes nacionais devem pisar em ovos e pensar muito bem antes de dar declarações.

As falas de Lula desta última semana são problemáticas, inegavelmente. O Brasil, em um período que começa a recuperar a sua importância e protagonismo internacional, deve calcular com muita cautela os seus próximos passos, principalmente pensando em uma América do Sul forte nos embates mundiais. O diálogo deve ser o foco da política externa brasileira. Mas, pensando no copo meio cheio, tivemos uma vitória emblemática nesta última semana. Apesar dos pesares e das dores de cabeça, todos os líderes nacionais estavam por aqui. E que seja assim daqui pra frente.

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