Norberto Salomão
Norberto Salomão
Norberto Salomão é Advogado, Historiador, Professor de História, Analista de Geopolítica e Política Internacional, Mestre em Ciências da Religião e Especialista em Mídia e Educação.

O G7 em Hiroshima

Quando em 6 de outubro de 1973 tropas egípcias e sírias atacaram bases militares israelenses na região do Suez, iniciava-se a 4ª Guerra árabe-israelense ou Guerra do Yom Kippur. A criação do Estado de Israel, em 1948, gerou insatisfação dos árabes da região e já tinham levado à três conflitos anteriores, nos quais os árabes saíram derrotados em todos eles.

O Yom Kippur é um dos feriados religiosos mais importantes para o povo de Israel. É o “dia do perdão”, e deve ser dedicado à contrição, às orações e ao jejum, como demonstração de arrependimento e expiação, em busca do perdão divino.

O objetivo dos árabes era surpreender os judeus com ataques massivos no dia do seu feriado religioso. Apesar de intensos combates, as pretensões árabes foram frustradas mais uma vez. Além do mais, Israel sempre teve o apoio das potências ocidentais, destacadamente dos Estados Unidos.

A retaliação dos países árabes, diante de mais essa derrota, foi reduzir as exportações de petróleo para gerar a alta de preços e, assim prejudicar a economia das potências ocidentais. Os efeitos dessa ação geraram a chamada 1ª Crise Mundial do Petróleo.

Pois bem, foi nesse contexto que o presidente da França, Valéry Giscard d’Estaing, propôs a organização de um grupo com as nações mais poderosas para se reunirem regularmente e discutirem as demandas econômicas internacionais.

A primeira reunião ocorreu na França, em 1975, com o G6 (França, Alemanha, Reino Unido, Itália, EUA e Japão). O G7 se efetivou no ano seguinte com a adesão do Canadá. Entre 1998 e 2014, chegou a ser G8, com a inclusão da Rússia. Mas o ambicioso expansionismo de Putin, ao invadir a Criméia, levou à sua retirada em 2014.

Desde então, todos os anos o grupo se reúne para discutir as questões mais relevantes que envolvem os vários aspectos do cenário nacional. Este ano o Japão sediou, em maio, a 49ª reunião do G7, na emblemática cidade de Hiroshima, e tendo como preocupação central as implicações da invasão russa à Ucrânia.

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Hiroshima carrega uma profunda carga de comoção histórica em relação às bombas atômicas, bem como a cidade de Nagasaki. Assim, como não poderia ser diferente, os representantes internacionais que participaram da Cúpula do G7 visitaram o Memorial da Paz, um monumento de Hiroshima para que não se esqueça o trágico evento que marcou a história da cidade. Fumio Kishida, primeiro-ministro japonês, destacou a necessidade de livrar o mundo das armas nucleares.

Porém, a proliferação de armamento nuclear tem aumentado nos últimos anos. A Rússia suspendeu recentemente seu último grande tratado de controle de armas nucleares com os Estados Unidos, o acordo START que limitava ogivas e sistemas de lançamento. A Coreia do Norte vem expandindo seu próprio arsenal nuclear. O Irã também parece caminhar nessa mesma direção. Além disso, há o temor de que a China pode mais que dobrar seu arsenal nuclear até 2030.

Contudo, em meio as tensões entre China e EUA, o próprio Japão tem realizado o aumento de seus gastos militares e concorda e ser protegido pelo “guarda-chuva nuclear” dos Estados Unidos, sob o pretexto de que uma “nação não-nuclear” tem o direito de se aliar e ser defendida por uma nação que dispõem desse tipo de recurso.

Além disso, mesmo diante dos insistentes apelos das vítimas de Hiroshima e Nagasaki, o governo japonês não se demonstra receptivo a assinar o Tratado de Proibição de Armas Nucleares, em vigor desde 2021. O próprio ministro Kishida afirmou que, diante do atual contexto de tensões internacionais, um mundo sem armas nucleares se tornou ainda mais difícil.

Mesmo diante de todo esse quadro, não custa sonhar. Na última sexta-feira (19), a cúpula do G7 emitiu uma declaração conjunta denominada “Visão de Hiroshima”, na qual propõe a redução de dispositivos nucleares, bem como a transparência e a fiscalização dos estoques militares.

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