A Associação Brasileira de Desenvolvimento (ABDE) apresentou o Plano ABDE 2030, que é um conjunto de ações estratégicas que financiará projetos inspirados nos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS). A iniciativa foi apresentada em 15 de março durante o Fórum do Desenvolvimento para ajudar o Brasil atingir as metas da Agenda 2030 da Organizações das Nações Unidas (ONU).

Os 17 ODS foram criados para orientar as políticas públicas em todo o mundo. Eles compreendem 169 metas assumidas pelos países-membros da organização para transformar a qualidade de vida, produzir de forma sustentável e preservar os bens naturais e a vida de todos que habitam o planeta.

O Sistema Sagres de Comunicação é membro signatário do pacto global de mídia desde 2020 e se tornou a primeira rede multiplataforma do Centro-Oeste brasileiro e a segunda do país a integrar a lista de mais de 100 veículos internacionais de comunicação. Desde então, a Sagres incentiva e apoia iniciativas que busquem os ODS, como a série de reportagens do Repense que são produzidas pela empresa.

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Nesta quinta-feira (06), jornalista Rubens Salomão conversou com a presidente da Associação Brasileira de Desenvolvimento (ABDE) e do Banco de Fomento do Rio Grande do Sul (Badesul), Jeanette Lontra, para saber mais sobre o Fundo Nacional de Promoção aos ODS, dedicado exclusivamente ao financiamento de projetos sustentáveis no Brasil. 

Confira a entrevista na íntegra:

Rubens Salomão – O que é a Associação Brasileira de Desenvolvimento?

Jeanette Lontra – A ABDE, muitas vezes, é desconhecida do grande público, mas ela tem um papel extremamente importante em todo o país. A Associação congrega 33 instituições financeiras públicas e privadas de todo o país, nacionais e subnacionais. Também contamos com o Sebrae e a Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), que são também nossos associados. O papel da ABDE é de executar e definir ações de fortalecimento do Sistema Nacional de Fomento, que tem como missão promover o desenvolvimento brasileiro por meio de financiamento a setores estratégicos.

A ABDE é composta por agentes financeiros e associados de todo o país. Temos desde o sul do país, como é o meu caso no Rio Grande do Sul com o Badesul, até o Norte, Nordeste e Sudoeste. Então, a gente tem uma capilaridade em todo o país e isso dá uma importância enorme para a ABDE nessa promoção do desenvolvimento sustentável e na implementação dos ODS. E o que nos motivou a trabalhar no plano ABDE 2030 foi um questionamento: como é que o sistema nacional de fomento pode acelerar e dar escala à implementação dos ODS no país? Como nós temos toda essa capilaridade, esse foi o mote.

Rubens Salomão – Como conseguir financiar projetos que queiram atingir essas metas, já que as coisas ficam mais na teoria e na prática falta dinheiro para executar?

Jeanette Lontra – Esse foi justamente o motivo do nosso plano. A ABDE 2030 que lançamos em março deste ano, através de um Fórum foi realizado, trata muito fortemente das questões dos ODS. Esse plano apresenta cinco missões transformadoras para o desenvolvimento sustentável no Brasil. Incluindo sempre, é claro, projetos e propostas com possibilidade de fomento que podem ser oferecidas pelo Sistema Nacional de Fomento.

Quais são essas cinco missões?

Futuro Digital Inteligente e Inclusivo: A  gente não tem como promover o desenvolvimento sustentável sem ter a questão da digitalidade e a inclusão de todos no sistema, principalmente dos pequenos empreendedores. Eles precisam muito da digitalidade.

Ecossistema de Inovação em Bioeconomia para a Amazônia: Na própria COP 27 vai ser um dos temas que vai ser levado muito fortemente. A ABDE vai estar presente também, não presencialmente, mas um dos nossos associados, que é o BNDES, que é o maior banco de desenvolvimento do país e que é o nosso associado também, vai estar lá representando a ABDE na COP 27 falando justamente de todos esses temas.

Agronegócio Engajado: A gente precisa muito trabalhar o agronegócio com sustentabilidade e também com inclusão digital. Se não tivermos uma inclusão digital no agronegócio, os nossos jovens não vão ficar no campo. A gente precisa trabalhar muito fortemente também a inclusão digital no próprio campo, no agronegócio.

Infraestrutura e Cidades Sustentáveis: Também é outro tema e outra missão que a gente vai trabalhar muito fortemente dentro do nosso Plano ABDE 2030. A gente precisa trabalhar as cidades para que elas se tornem cada vez mais atrativas e inclusivas. A gente precisa trabalhar muito a inclusão nas cidades.

Saúde como Motor do Desenvolvimento: A gente percebeu com a Covid-19 e a pandemia, que precisamos cada vez mais tratar do tema de saúde em nosso país e no mundo. São eixos norteadores que perpassam pelo ambiental, social, econômico e institucional também.

Rubens Salomão – A gente se conheceu pelos canais de comunicação da Sagres e ABDE. A senhora soube de um podcast que a gente faz aqui e se interessou. Como foi essa história?

Jeanette Lontra – A gente está sempre atento a todos os canais que tratam desse assunto que consideramos fundamental. Então, quando a gente ouve algum canal falando, a gente vai buscar para ver se conseguimos mostrar o que a ABDE e o seu Sistema Nacional de Fomento estão fazendo, que é um trabalho extremamente importante. E nós estamos, como você falou mesmo, trabalhando juntos com a ONU, com o PNUD que também é nosso parceiro.

Rubens Salomão – A presidente soube de um podcast novo do Sistema Sagres chamado PODS, que tem ODS no nome. A ABDE existe desde antes da Agenda 2030. Só para tentar aproximar nossa conversa de quem está nos ouvindo aqui em Goiás. Aqui nós temos a GoiásFomento, que é um órgão do governo do Estado, que tem linhas de crédito para diversos segmentos. O que significa a GoiásFomento, o Badesul, o BNDES, Sicoob, Sicred, essas instituições e tantas outras, que são mais de 30, estarem associadas à ABDE?

Jeanette Lontra – A GoiásFomento também é nossa associada. Hoje, temos, além do BNDES que é um grande banco, o Banco do Brasil, bancos nacionais, o Banco da Amazônia, o Bando do Nordeste, e 16 agências de fomento. Trabalhamos no sentido não de buscar o crédito simplesmente pelo crédito, mas com projetos de longo prazo, principalmente. E aí a gente trabalha com projetos na área do agronegócio, com financiamento a municípios. 99% do nosso sistema financia os municípios hoje.

A inovação também perpassa todos os setores que a gente trabalha. E MPEs têm sido também o nosso grande foco. A gente sabe que as micro e pequenas empresas sofreram muito com a pandemia e elas têm um papel extremamente importante na geração de emprego e renda do país. Nós é que distribuímos recursos com o Programa Nacional de A poio ao Médio Produtor Rural (Pronamp) e outros projetos que financiaram os recursos para esse segmento.

Imagem: Divulgação/ABDE

Rubens Salomão – A ABDE lançou um edital para uma consultoria e criar um fundo. O que pode mudar nesse sentido de incentivar esses projetos que tratam de ODS com esse fundo? Como isso funcionaria? 

Jeanette Lontra – Esse fundo foi construído junto com o PNUD, que é o nosso parceiro, num processo de seleção de consultorias para apoiar a estruturação e a construção de propostas do primeiro Fundo Nacional de Promoção aos ODS, que vai ser dedicado justamente ao financiamento de projetos sustentáveis no Brasil.

Esse edital já foi aberto e nós tivemos sete propostas, mas ainda não podemos divulgar. É um espaço muito importante para aumentar a discussão sobre a importância da expansão da agenda dos ODS em todo o país. E o Sistema Nacional de Fomento que vai ser o grande responsável pela implementação e construção de uma política de financiamento a projetos ligados aos ODS.

A gente ainda não sabe, por exemplo, como vai ser a estrutura dele: se vai ser um fundo 100% público, se vai ser um fundo com capital público e privado ou com incentivo à capital filantrópico. Mas estamos nessa construção e ele vai viabilizar muito que a gente possa levar os ODS e implementá-los junto ao Sistema Nacional de Fomento.  

Rubens Salomão – O edital é exatamente para tomar essas decisões, saber como o fundo funcionaria na prática e depois o fundo vai sair do papel.

Jeanette Lontra – Isso mesmo.

Rubens Salomão – Tem uma expectativa de conclusão?

Jeanette Lontra – Acredito que a gente possa concluí-lo ainda neste ano para começar a implementar a partir do próximo ano.

Rubens Salomão – E não tem uma expectativa de quando no total o fundo vai ter? Depende dessas decisões?

Rubens Salomão – E a gente está falando para quem, presidente? É só para empresários? ONG’s? Esse fundo deve buscar e atender que tipo de iniciativa?

Jeanette Lontra – Ele vai fortalecer toda a implementação dos ODS junto ao Sistema Nacional de Fomento para que a gente possa levar aos financiamentos, por exemplo. Principalmente no financiamento das pequenas empresas que eu acho que são as que têm menor condição de entender e atender os ODS. Claro que a gente pode trabalhar com ONG’s, a gente pode trabalhar com grandes empresários também, mas é uma possibilidade que precisa ser construída ainda.

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