Uma decisão do governador Ronaldo Caiado (DEM) adiou as eleições para reitor, diretores de institutos, coordenadores de campus, coordenadores centrais e setoriais da Universidade Estadual de Goiás (UEG). O Sindicato Docente da Universidade Estadual de Goiás (ADUEG) divulgou uma nota apontando insatisfação com o adiamento das eleições.

Em entrevista ao Sinal Aberto, na Sagres 730, Juliana Vasconcelos Braga, presidente da Associação de Docentes da UEG ressaltou que “existe uma grande indignação por parte dos professores da Universidade, em razão do adiamento das eleições por um prazo indeterminado”.

O decreto emitido na véspera do conselho universitário altera o artigo 30 do Estatuto da instituição, que diz que as eleições deveriam ocorrer em novembro e a posse em janeiro. Juliana declarou que “o governador alterou dizendo que as eleições podem acontecem na data que quiser”.

“O problema é que ficou contraditório, porque o artigo 28 diz que a intervenção só pode durar 12 meses e a intervenção começou em setembro de 2019, ou seja, em setembro de 2020 já completou-se 12 meses. Então nós já estamos com 15 meses de intervenção na universidade, onde o governador indicou o reitor. Então toda a equipe gestora da universidade é de gente nomeada pelo governador, isso fere o princípio da autonomia da universidade”, explicou.

O governo defende que não é possível realizar as eleições de maneira online, por conta da pandemia. No entanto, as aulas da universidade não foram paralisadas e estão sendo ministradas de forma remota, assim como forram realizadas as eleições para o Conselho. Segundo Juliana, o sistema utilizado é seguro.

“O Conselho da Universidade foi feito durante a pandemia, a Universidade tem um sistema de eleições online e tem todas as condições de realizar a eleições independente da pandemia”, frisou.

A Presidente da Associação de Docentes da UEG destaca que “a eleição é um movimento de retomada da autonomia da universidade que não é o desejo do governo”.

“Estamos em um processo de intervenção e após isso sofremos um reforma administrativa muito danosa. Nós não tivemos turmas abertas para 52 cursos no ano passado. Eu acho que o desejo do governador é impor essa reforma pedagógica e administrativa que vai fechar cursos, que vai fechar unidades universitárias, que vai precarizar ainda mais o trabalho dos professores. E uma eleição compromete essa reforma que o governo está querendo impor”.

A UEG está passando por dificuldades há muito anos e Juliana reconhece que a universidade precisava se recompor. Porém, para ela, isso “não é uma justificativa viável que isso seja feito de cima para baixo”.

“Nós temos uma premissa constitucional da autonomia das universidades. Nós já tivemos um grande e duro golpe que foi a retirada da vinculação orçamentária de 2% que nós tínhamos da receita líquida do estado. Isso já foi tirado no início do governo, ou seja, o nosso orçamento que já seria de R$ 600 milhões para 2021, passou a ser R$ 240 milhões. Como um governo acha que vai fazer uma reforma sem desconstruir uma universidade cortando o orçamento dessa forma?”, detalhou.

Juliana relatou à Sagres 730 que há um déficit de professores na UEG, que a instituição precisa realizar um concurso para professores, e que se não houver investimento, unidades e cursos serão fechados. “Hoje a situação da universidade é caótica, se estava ruim, hoje está muito pior. Se fosse para destruir, que não mexesse”, salientou.

Caso o governo não volte atrás na decisão de adiar as eleições, os professores devem paralisar as atividades. “O governo não tem demonstrado nenhum desejo de dialogar com a universidade. Então as decisões são sempre autocráticas e não ouvem os desejos da comunidade universitária. Temos um clima de insatisfação muito grande e os professores não querem retomar as aulas em janeiro”, afirmou Juliana.

Os docentes seguem em busca de diálogo e de acordo com Juliana, já realizaram uma manifestação no MP para tentar reverter a decisão do Governo Estadual. “Fizemos uma manifestação junto ao Ministério Público, sobre a questão da ilegalidade da intervenção, considerando o período dos 12 meses. Mas ainda não obtivemos resposta em relação a isso”, finalizou.

Assista a íntegra da entrevista com Juliana Vasconcelos Braga, presidente da Associação de Docentes da UEG