Avenida Goiás: modernidade e patrimônio da capital

A Avenida Goiás, sem dúvida, é uma das mais belas de Goiânia. O espaço é arborizado, com ipês, palmeiras e várias outras espécies que deixam o lugar formoso. Os pássaros fazem ali morada permanente, os cantos das aves ecoam mesmo no movimentado centro urbano. Os bancos de madeira dão um charme especial, nos remetendo aquele arzinho de interior. A história da Goiás se confunde com a própria história de Goiânia.

A via na região central é tombada como patrimônio histórico. A última intervenção foi feita na década de 2000 e retornou a via para suas características originais, na projeção idealizada por Atílio Correia Lima. Passear pela Goiás é passear pela história de Goiânia, em virtude de construções de valor artístico e cultural ali presente. 

Saindo da Praça do Trabalhador e indo até a Praça Cívica, encontramos uma série de construções importantes. A primeira delas é a Estação Ferroviária de Goiânia, a mais bela da antiga Estrada de Ferro Goiás, menor apenas do que a estação existente na cidade de Araguari, em Minas Gerais, mas com traços e singularidades, feita no estilo Art Déco, e com uma bela esplanada.

Subindo a Goiás, ainda encontramos abaixo da Avenida Paranaíba, algumas construções mais modestas, que estão escondidas atrás do comércio, mas que guardam beleza e valor histórico. Pela via encontramos o Bandeirante, na sua praça olhando Goiânia para o Oeste. 

Há ainda o Grande Hotel, nascido junto com a avenida, logo nos primeiros dias de Goiânia. Na via há prédios com beleza própria como a antiga sede do jornal O Popular e da Caixa de Assistência dos Advogados de Goiás (Casag). Chegando a Praça Cívica, temos o relógio, o coreto e nos espera as construções da praça como o monumento das Três Raças e o Palácio das Esmeraldas.

(Foto: Rubens Salomão)

Origem

As avenidas principais, incluindo a Paranaíba, foram simbolicamente batizadas em homenagem a três importantes rios de Goiás, que delimitam suas fronteiras com outros estados. Da mesma maneira que as mencionadas vias margeiam o núcleo central da cidade, os rios delimitavam o perímetro territorial de Goiás até então, já que o estado do Tocantins ainda o integrava, possivelmente decorrendo daí a ligação entre suas formas e nomes.

Originalmente, o eixo de 1.762 metros, formado pela Avenida Goiás, iniciava-se no ponto focal localizado no Centro Administrativo, passando pelos cruzamentos com as avenidas Anhanguera e Paranaíba, respectivamente, até chegar ao seu ponto final na área da Estação Ferroviária. A via levaria o nome de Pedro Ludovico, mas este preferiu homenagear a antiga capital na principal avenida de Goiânia.

Descrita por Corrêa Lima como monumental e pitoresca, essa avenida jardim deveria apresentar um tráfego destinado à ligação com o Centro Cívico e Administrativo. A Avenida Goiás foi projetada para ser um grande jardim linear, por isso sua largura é maior, em comparação com outras vias. Teria 45% de sua área ajardinada e “convenientemente arborizada”.

O plantio das árvores se iniciou em 1937, sob orientação de Campos Sales e Augusto Brade, do Jardim Botânico do Rio de Janeiro.

(Foto: Rubens Salomão)

Verticalização

A verticalização de forma acentuada começa nos anos 1950. Uma dessas proposições foi a liberação do gabarito acima de oito pavimentos na região central da cidade, com o objetivo de elevar os índices de aproveitamento de suas áreas urbanas consolidadas, já que a maior parte da capital não apresentava infraestrutura básica naquele momento. 

Essa medida acabou por comprometer, sobremaneira, a escala urbana pensada por Corrêa Lima, prejudicando, por exemplo, a monumentalidade da Avenida Goiás, que era fortemente definida pela regularidade na altura das edificações. 

Durante os anos de 1960, vários jornais noticiam, entusiasticamente, as novas edificações em altura que surgiam na Avenida Goiás, sendo a maioria deles destinados a abrigar instituições bancárias. 

Com a implantação da lei de uso de solo de 1975, de autoria de Jaime Lerner, que resultou na transformação da Avenida Anhanguera em eixo de serviço e corredor de fluxo na direção leste-oeste, teve início a mudança mais radical do Centro de Goiânia, acelerada depois com a transformação da Avenida Goiás em eixo complementar de integração de transporte no sentido norte-sul.

Essa mudança significou a substituição do comércio mais sofisticado pelo popular, a transformação dos canteiros da avenida em um vasto calçadão, projetado por Neusa Baiocchi que, posteriormente, serviu para a instalação de barracas do comércio informal.

Em fevereiro de 1978, o então diretor da Escola de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Católica de Goiás, Pedro Wilson Guimarães, considerava essa intervenção como “um passo decisivo no caminho da eliminação da própria ilha” da avenida, resultando na morte de todas as árvores e da vegetação rasteira existente. Pedro Wilson assumiu a Prefeitura de Goiânia no início da década de 2000 e retomou a Avenida Goiás as suas características originais. 

Já nos anos 80, já havia projetos para prolongamento da Avenida Goiás, o projeto para o eixo norte-sul, efetivamente implantado e que previa a ligação da Praça Isidória Alves de Almeida, no Setor Pedro Ludovico, até a Perimetral Norte.

Canaletas para circulação exclusiva de ônibus foram previstas em cada um desses segmentos, de modo que, na área entre as praças Cívica e do Trabalhador, os coletivos transitariam junto ao canteiro central, sem maiores prejuízos ao traçado original da cidade. A obra somente foi concluída e inaugurada em março de 1988 e o trecho é conhecido como Avenida Goiás Norte. 

Em 27 de março de 1982, o mesmo Diário da Manhã publica reportagem em que o primeiro prefeito de Goiânia, Venerando de Freitas, comenta as “mutilações” feitas na “histórica avenida”, com a instalação dos pontos de ônibus, a partir da redução do canteiro central, no trecho entre a Praça Cívica e do Trabalhador.

(Foto: Rubens Salomão)

Agravamento

A partir do início da década de 1990, o crescimento do comércio informal instalado no canteiro central da Avenida Goiás passou a gerar intensos conflitos com os lojistas e com os moradores da região. Os ambulantes ocupavam a área desde a segunda metade da década de 1980, quando deixaram a Avenida Anhanguera, após uma grande reforma promovida em sua extensão.

Requalificação 

O final dessa década é assinalado pela intensificação das iniciativas em prol da preservação das permanências urbanas na região central de Goiânia, marcadas por uma nova lei de tombamento estadual, em 1998, e pelo tombamento federal em 2003. 

A Goiás foi requalificada a partir de 2002, fruto de um concurso de projeto realizado pela Prefeitura de Goiânia que premiou o arquiteto e urbanista Jesus Cheregati para o desenvolvimento de um projeto paisagístico implantado no ano seguinte retomando suas características originais e os informais foram transferidos para o Mercado Aberto construído na Avenida Paranaíba.

O último grande impacto sofrido pela Goiás foi a construção corredor BRT Norte Sul de transporte coletivo. O Iphan acompanhou a obra no sentido de preservar as características originais da via.

(Foto: Rubens Salomão)

Goiânia 90 lugares

Goiânia faz 90 anos em 24 de outubro. Por isso, o Sistema Sagres de Comunicação, com apoio da Prefeitura de Goiânia elaborou um guia de 90 locais a serem conhecidos por você que é goianiense, que mora na capital ou que está de passagem por aqui. Esta é a campanha “Goiânia 90 Lugares”.

A produção inclui 90 reportagens em texto e fotos de lugares marcantes da cidade, 30 vídeos, um mapa e uma página especial. A campanha conta ainda com entrevistas especiais sobre a construção, estrutura e futuro da nossa capital.

As ações tem coordenação de Rubens Salomão, com pesquisa e textos de Samuel Straioto, Arthur Barcelos e Rubens Salomão. Imagens e edição de Lucas Xavier, além das reportagens em vídeo de Ananda Leonel, João Vitor Simões, Rubens Salomão e Wendell Pasqueto. A coordenação do digital é de Gabriel Hamon. Coordenação de projetos é de Laila Melo.

*Este conteúdo está alinhado aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), na Agenda 2030 da Organização das Nações Unidas (ONU). ODS 04 – Educação de Qualidade; ODS 11 – Cidades e Comunidades Sustentáveis

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