As aves estão usando plásticos e microplásticos para construírem ninhos na Amazônia. Por falta de saneamento básico adequado, os materiais estão sendo dispersados facilmente pelo bioma e estão presentes em diversos ambientes da floresta e em espécies como em peixes e plantas aquáticas. A informação é de estudos apresentados por cientistas durante a 76ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC).
De acordo com os cientistas, a principal causa dessa dispersão é a contaminação pela falta de condições adequadas de saneamento básico nas cidades da região. Então, o assunto virou pauta na mesa-redonda sobre plásticos e microplásticos em águas brasileiras na segunda-feira (8).
“A falta de condições adequadas de saneamento encontradas na maior parte da Amazônia representa uma importante fonte de entrada de plásticos e microplásticos nos rios do bioma, que compõem o maior sistema fluvial do mundo”, destacou o professor da Universidade Federal do Pará, José Eduardo Martinelli Filho.
Saneamento básico
O professor da Universidade Federal do Pará, José Eduardo Martinelli Filho, apresentou dados sobre o saneamento na região. Segundo ele, 70% das cidades da Amazônia brasileira não possuem tratamento de água.
Os pesquisadores conseguiram o dado depois que avaliaram a cobertura de coleta pública de esgoto, sistemas de drenagem de águas pluviais e de disposição de resíduos sólidos nos dados da Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico (ANA) e do Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento (SNIS).
Então, dos 313 municípios, apenas 2,6% apresentam condições adequadas de saneamento básico, outros 35% tem condições baixas e 15% estão em situação precária.
Cidades e plásticos
O professor apontou que “é difícil” encontrar uma boa situação de saneamento na Amazônia. “Altamira [no Pará], por exemplo, tem só uma estação de tratamento de água, que não está recebendo todo o esgoto produzido pela cidade”, disse. Bem como a região metropolitana de Manaus que, com mais de 2 milhões de habitantes, tem somente 32% das residências que utilizam esgoto sanitário público.
“Geralmente, a principal fonte de microplásticos em ambientes aquáticos brasileiros são as cidades. E, no caso da Amazônia, a população nas cidades aumentou 11 vezes em um século. Há cem anos existiam 1,5 milhão de habitantes na Amazônia e agora há 16 milhões de pessoas morando na região”, pontuou.
O problema com origem nas cidades está afetando o meio ambiente e as espécies na floresta. José Eduardo Martinelli Filho disse que 182 mil toneladas de plástico chegam na Amazônia brasileira todo ano, com isso, ela é a segunda bacia hidrográfica mais poluída do mundo.
Peixes e aves
“Costumamos ver muitos trabalhos científicos que mostram espécies de peixes ingerindo microplásticos”, disse o professor. Então, ele analisou que os poluentes são encontrados em diferentes escalas de tamanho.
“Os bancos de macrófitas retêm plásticos de diferentes dimensões, do macro, passando pelo médio e chegando aos microplásticos”, afirmou Martinelli.
Os pesquisadores também encontraram plásticos em ninhos da ave japu, comum nas matas da América do Sul. “O plástico usado por essa espécie de ave para construir seus ninhos é proveniente de material de descarte da pesca”, explicou.
*Agência Fapesp
*Este conteúdo está alinhado aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), da Agenda 2030 da Organização das Nações Unidas (ONU). Nesta matéria, o ODS 06 – Água limpa e saneamento, o ODS 14 – Vida na água e o ODS 15 – Vida terrestre.
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