Quando soube que estava com minha esposa hospitalizada, Maguito Vilela ligou. Quis saber sobre o quadro e eu logo informei. Optei pelo tratamento particular pelo fato de se tratar de um mal sem diagnóstico. Ela ficou pouco mais de dois anos hospitalizada e entre idas e vindas pra a UTI, foram quase oito meses.

Nos últimos três meses da vida dela, já com um diagnóstico descoberto, depois de centenas de exames clínicos e por imagem, o tratamento migrou para o Sistema Único de Saúde (SUS), pois havia a necessidade de transplante duplo de rins e fígado e em Goiânia só o HGG realiza este tratamento complexo. A migração do sistema particular para o público exigiu a participação da Defensoria Pública da União, com um despacho judicial obrigando a O.S que administra o Hospital Geral de Goiânia a oferecer o tratamento

Neste dia que recebi a ligação do Maguito, ele perguntou sobre gastos. Respondi que eram muito altos, principalmente nos períodos de UTI. Mas tinha ainda os exames para investigar do que se tratava que também eram de altíssimos custos.

Ele, muito gentilmente, procurando não ferir qualquer suscetibilidade me falou: “Sei que nestes momentos temos de fazer muito dinheiro em curto prazo e às vezes precisamos de uma verba emergencial. Não deixe faltar nada para sua esposa. O que for preciso autorize e se precisar de recursos me liga. Você tem um amigo e precisa saber disto. Te empresto o necessário e você me paga conforme for possível”. Agradeci e fiquei muito confiante porque o que ele falou sobre verbas emergenciais era uma profunda verdade.

Não precisei recorrer a ele, mas sabia que se precisasse estava amparado. Todos os sábados ele ia para a sua fazenda em Jataí e antes de pegar a estrada, ligava para saber como estava o estado de saúde dela.

Em dezembro de 2018, ela teve uma melhora considerável e passou a fazer o tratamento em casa. Íamos duas vezes por semana na revisão médica e na clínica de hemodiálise três vezes por semana. Voltou a caminhar. Passamos os festejos de final de ano com ela entre nós da família, participando das comemorações.

Esta melhora deu a ela a condição para enfrentar com mais segurança os transplantes. Contei isto ao Maguito pessoalmente e os olhos dele marejaram (os meus também). No começo de fevereiro de 2018, foram iniciados os preparativos para os transplantes. No dia 20, foi marcada a internação para o dia três de março, para aguardar pelo doador. Ela não suportou, teve uma piora repentina e faleceu no dia 27. O corpo foi preparado para o sepultamento durante a madrugada e o velório iniciou as 06:00.

Ao meio dia meu celular tocou, era o Maguito. Ao fundo um barulho de motor funcionando. Me contou que havia sido informado do falecimento, pelo prefeito de Aparecida, Gustavo Mendanha e que estava desembarcando no aeroporto de Brasília, mas que nem sairia do aeroporto, reembarcaria, para ir ao velório me levar um abraço amigo. Disse que já me sentia confortado, que ele não precisava suspender a agenda por este motivo. Ele disse que já estava embarcando e antes das duas da tarde, Maguito estava no Parque Memorial de Goianos, onde permaneceu por mais de duas horas me consolando e consolando minhas filhas. Ao sair me deu um abraço e sussurrou no meu ouvido: “Você tem um amigo e quero que saiba disto”.

Nesta quarta feira, 13 de fevereiro, depois de mais de 80 dias de luta brava pela vida, Maguito foi vencido pelas complicações da Covid 19.

Vai com Deus para a pátria espiritual meu amigo. Eu sei que tenho um amigo e, ao contrário da vida terrena, a amizade é eterna.